terça-feira, 26 de outubro de 2010

As Novas Configurações do Estado na América Latina: democracia em ação

Saindo só um pouco da questão eleitoral propriamente dita, eu gostaria de publicar aqui no blog um artigo escrito pelo meu amigo Carlos Eduardo P. de Pinto. Carlos Eduardo é professor, mestre e doutorando em História, e trata em seu artigo das novas configurações do Estado no âmbito da América Latina, ou Abya Yala, como queiram. Seu enfoque atenta para o fato de como um novo estado vai se configurando no continente a partir, ou em seguida da vaga neoliberal que varreu o continente. Muito bom!! 


As Novas Configurações do Estado na América Latina: democracia em ação[i]
Carlos Eduardo P. de Pinto

Uma retrospectiva panorâmica sobre notícias relativamente recentes a respeito do universo político da América Latina pode passar pela acusação da OEA de que Hugo Chávez estaria aplicando práticas totalitárias na Venezuela; pela liberação dos gastos na Argentina, seguida de cerceamento da imprensa por parte da presidente Cristina Kirchner; por posições contrárias ao crescimento dos gastos estatais durante o segundo mandato do governo Lula no Brasil, criando um “Estado gordo” e ineficiente; pela candidatura de Dilma Rousseff à presidência da República, defendendo um “Estado forte”; pela suposta declaração – depois retratada - da então presidente Michelle Bachelet de que o Chile não necessitaria de ajuda internacional após o terremoto que matou mais de 800 pessoas; e pela reunião de líderes regionais para a formação da CELAC, Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, que visa criar maior integração regional, longe da influência norte-americana. Ainda que o foco seja diferente em cada caso, não se pode deixar de notar que o questionamento sobre o papel do Estado é um denominador comum nas sociedades latino-americanas contemporâneas. Esse artigo propõe uma reflexão sobre as novas configurações que o Estado vem assumindo ao longo dos últimos anos, com interesse especial pela relação entre os novos papéis estatais e o fortalecimento da democracia na América Latina.
A história recente da região, em que pesem as expressivas diferenças locais, tem apresentado enorme sincronia quanto às mudanças nas formas de governo, na estrutura estatal e conseqüentes políticas econômicas. As diversas modalidades de ditadura, estabelecidas nos anos 1960 e 1970, seguiram os postulados da Escola de Chicago, berço do neoliberalismo. Estados ainda fortes e atuantes garantiram o mercado livre e a conseqüente entrada do capital internacional, preparando o caminho para a chegada do neoliberalismo à região, no final da década de 1980.

Ponha-se no seu lugar: o neoliberalismo e a exigência de um Estado mínimo

A partir dos anos 1990, com processos de redemocratização recentes, a América Latina recorreu às “reformas de Estado”, para se ajustar à nova matriz da economia globalizada, seguindo o receituário das agências multilaterais (ONU, FMI, Bird, entre outras). O Estado assumiu ainda mais profundamente o dever de garantir a atratividade para os capitais internacionais, reduzindo o quanto pôde sua atuação, restringindo-se a cobrir reformas de infra-estrutura que não eram atraentes para o setor privado. Através de privatizações, procedeu à descentralização das políticas, aplicando incentivos fiscais, garantindo escoamentos e abrindo mercados, em nome da competitividade. Rompeu-se o paradigma do Estado popular desenvolvimentista e o que era política social transformou-se, para este Estado mínimo, em atendimento emergencial aos mais pobres.

Neste ponto o Estado passou a ter menos poder que as empresas internacionais, cujos interesses orientavam suas ações. Os processos eleitorais tornaram-se uma forma de legitimar o sistema, deixando de ter a força de transformação que já experimentara em outros contextos. A sociedade civil foi desencorajada a participar ativamente dos processos decisórios, estabelecendo-se uma “relação dura e antidemocrática com os segmentos mais críticos e combativos da sociedade civil” [i]. As garantias sociais se tornaram assuntos privados e os governos focalizavam os pontos sociais em que desejavam investir, ao mesmo tempo em que incentivavam a “solidariedade” individual e voluntária, bem como de instituições filantrópicas e ONGs prestadoras de serviços de atendimento. “A democracia vê-se ameaçada, num quadro em que a política no âmbito do Estado, que supõe uma visão de conjunto, é substituída pela política empresarial. Então o que se tem é uma não-política, inclusive no que se refere ao enfrentamento da questão social [...]” [ii]. Novos paradigmas estão na base deste processo, principalmente o deslocamento das explicações macroestruturais para as soluções micro-sociais, que pregam a substituição dos sujeitos coletivos (classes sociais) por atores individuais[iii].

Século XXI: uma nova configuração do Estado no horizonte

Ao longo da primeira década do século XXI, no entanto, essa situação começou a mudar, principalmente depois da crise do capital gerada pelas políticas neoliberais, que atingiram gravemente países como a Argentina e o Equador. Outra reconfiguração do Estado estava em curso. Naomi Klein afirma que, após o fim do “medo coletivo, que foi instilado por meio dos tanques e dos ferretes, das fugas repentinas de capital e dos cortes brutais, muitos estão reivindicando mais democracia e mais controle sobre o mercado” [iv]. A autora se refere à nova esquerda eleita ao longo da primeira década do século XXI. Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Hugo Chávez na Venezuela, Daniel Ortega na Nicarágua, Rafael Correa no Equador, Tabaré Vazquez e José Mujica no Uruguai e Evo Morales na Bolívia chegaram ao poder defendendo, em diferentes graus, uma posição contrária às linhas da Escola de Chicago. Sem posições esquerdistas tão enfáticas, Michelle Bachelet no Chile (recém sucedida por Sebastián Piñera, político de direita) e Néstor Kirchner e sua sucessora Cristina Kirchner, na Argentina, também buscariam alternativas ao neoliberalismo. Embora expressiva, deve-se lembrar que a força da esquerda na América Latina não é absoluta, como nos lembram os casos de Álvaro Uribe na Colômbia e o recém eleito presidente chileno. A orientação à direita, contudo, não deve ser compreendida como opção automática pelo neoliberalismo, embora tal arranjo seja freqüente.
Nesta conjuntura emergiu um processo referido por Renato Boschi e Flávio Gaitán como neodesenvolvimentismo[v]. Entre os presidentes em exercício, é comum haver a defesa da necessidade de interferência do Estado na economia e de “incluir o conteúdo e a orientação das políticas públicas de cada Estado-nação” [vi]. Observa-se que sem intervenção estatal não há forma de se superar as desigualdades sociais internas e entre os países. “Desse modo, em detrimento da privatização e do livre mercado, [destaca-se] a centralidade do Estado desenvolvimentista na geração das condições para o desenvolvimento, incluindo altas taxas de investimento em infra-estrutura, educação, ciência e tecnologia, além de gasto público social” [vii]. Porém, é necessário ressaltar que este não é o mesmo intervencionismo do passado. Em primeiro lugar, o Estado não se apresenta como produtor, apesar desse aspecto aparecer em alguns casos, como o do petróleo no Brasil, Venezuela e Equador, do cobre no Chile e do gás na Bolívia. A atenção estatal está mais voltada agora para a reversão das diferenças sociais e a busca de consensos com os outros Estados latino-americanos.
Este último item é ponto fundamental do processo, uma vez que o Estado neodesenvolvimentista depende das conjunturas políticas locais e regionais, sendo garantido por coalizões políticas que acreditem nele. Percebe-se que, sem um projeto nacional – termo que nada tem a ver com nacionalismo, mas pressupõe a renúncia aos postulados das agências multilaterais e países centrais - não há desenvolvimento. Aqui entra a importância de criação da CELAC, por exemplo, e o mal estar causado pela suposta recusa de ajuda internacional proferida por Bachelet.
Boschi e Gaitán reforçam a importância da política para os resultados na economia, sendo impossível explicar o desempenho das sociedades sem levar em consideração as relações entre as duas esferas. Na América Latina encontram-se diferentes arranjos políticos, que possibilitam maior ou menos grau de exercício democrático. De um lado, um grupo formado por Equador, Bolívia e Venezuela, marcado pela negação da legitimidade de seus líderes e pela dificuldade em se formar uma oposição coerente e estável. O jogo partidário é substituído pela relação direta com a população, fortalecida por movimentos sociais. Um segundo conjunto pode incluir Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia, com um sistema partidário que apresenta uma saudável alternância de poder e um papel ativo do Parlamento. Por fim, o caso da Argentina e do Peru, em que não há negação da legitimidade dos governantes, mas também não se apresenta uma oposição significativa.
Neste contexto, o título do artigo ganha sentido, ficando claro que as novas configurações do Estado na América Latina são fruto da ação democrática. Se num passado não tão remoto, a resolução de problemas passava por militarização e autoritarismo, agora se percebe a potência das instituições democráticas, que vem sendo capazes de lidar com situações de crise, como a de 2008/2009. Entre os três casos apresentados no parágrafo acima, os melhores resultados são alcançados pelos países do segundo conjunto, com governos equilibrados entre a estabilidade macro-econômica, a participação de setores políticos e empresariais e a ampliação das políticas sociais. É um equilíbrio complexo, mas fundamental para se evitar o grande risco de que o Estado fortalecido, que tem se mostrado um aliado importante da democracia, venha a comprometê-la.
Não se trata aqui de engrossar o coro dos partidários do neoliberalismo, que insistem em confundir o Estado forte - que interfere na economia com vistas a resolver crises e garantir os avanços sociais - com o Estado gordo, ineficiente, que gasta demais para manter a máquina burocrática e se opõe à suposta liberdade calcada em valores mercadológicos. O intuito é alertar para o risco de se confundir Estado forte com Estado autoritário, o que seria sem dúvida um retrocesso no avanço alcançado pela democracia nos últimos dez anos. As conquistas sociais não se justificariam se para mantê-las tivéssemos que abrir mão da verdadeira liberdade: a de se expressar e de votar.



[i] Elaine Rosseti Behring, As novas configurações do Estado e da sociedade civil no contexto da crise do capital, p.6. Em www.prof.joaodantas.nom.br [consultado em 13 de março de 2010].
[ii] Idem, p. 17.
[iii]Anete Brito Leal Ivo, As transformações do Estado Contemporâneo. In: Caderno CHR, n. 35, jul/dez. 2001. Em www.cadernocrh.ufba.br [consultado em 19 de março de 2010].

[iv] Naomi Klein, A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 532.
[v] Renato Boschi e Flávio Gaitán. Intervencionismo estatal e políticas de desenvolvimento na América Latina, p. 306. In: Caderno CRH, vol 21, n.53, maio/ago. 2008. Em www.cadernocrh.ufba.br [consultado em 20 de março de 2010].
[vi] Idem, p. 307.
[vii] Ibidem, p. 310.



[i] Publicado em Revista Novamerica, n. 126, abr-jun 2010.

domingo, 24 de outubro de 2010

Razões para votar em Serra...

Aqui estão as verdadeiras razões dos que votam em Serra. O que aqui é dito em tom de brincadeira é,no fundo, no fundo pensado como coisa séria por alguns. Lamentável... mas divirtam-se!!

novo símbolo da rede Globo. (o globolinha)

Vejam aqui o novo símbolo da rede globo de televisão. Muito apropriado para os tempos que correm...

Pontos de cultura e verdes europeus apóiam Dilma presidente.

Como já escrevi aqui, o segundo turno tem a característica de mobilizar a sociedade e de trazer a discussão política para dentro das relações do homem comum. Todos, de uma forma ou de outra vão se posicionando e percebendo ao que querem se ligar. Não se trata de escolher um projeto com o qual você concorde absolutamente. Não! Trata-se de contribuir com o que melhor lhe parece dentro das circustâncias e contingências do momento. As adesões a candidatura Dilma crescem vertiginosamente, e agora mais recentemente começam as adesões internacionais. Como o tema do meio-ambiente é desde sua origem um tema internacionalizado, não é estranho que os verdes europeus façam o que fizeram: apoio ao projeto que Dilma representa. Ocorreu também o apoio dos grupos que atuam na área de cultura, mais especificamente os grupos ligados aos pontos de cultura. Esta que foi um grande passo no sentido da democratização da cultura brasileira. Segue abaixo os links para os textos dos dois importantes apoios.
 
http://www.blogdaglobal.org/?p=677
verdes europeus

http://dilmanarede.com.br/ondavermelha/noticias/pontos-de-cultura-lancam-manifesto-de-apoio-a-dilma
pontos de cultura

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Artistas e intelectuais com Dilma... O bom do Brasil Cresce.

O Bom do Brasil agora junta mais um monte de artistas e intelectuais que se aliam a candidatura de Dilma Roussef. Chico Buarque, Alceu Valença, Chico César, Beth Carvalho, Alcione, Oscar Niemayer, Wagner Tiso e mais um monte de gente esteve lá no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, para demonstrar de lado estão nesta contenda. Segue abaixo vídeos dos dois Chicos. Vejam:



domingo, 17 de outubro de 2010

Vejam isso

Um flagrante da prática mafiosa desenvolvida nessa campanha contra Dilma Roussef. Imaginem os senhores se fosse o contrário, qual seria a posição da grande imprensa? Vamos ver se vai sair isso no Jornal Nacional... segundo Rodrigo Viana, do blog "o escrivinhador", já se sabe que o dono da gráfica pertence ao PSDB. Mas mesmo que não pertencesse, o que está claro é a serviço de quem que esses panfletos estão sendo rodados. Fico pensando se essas coisas não bastam para que pessoas de bem que estão em cima do muro se decidam e votem contra esse tipo de ignomínia. Vejam:

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Serra mentiu, Itamar apoia Dilma.

Mais uma mentira deslavada do Serra. Ele disse no debate da Band que tem dois ex-presidentes o apoiando. Um é FHC (grande coisa) e outro é Itamar Franco que acabou de se eleger senador por Minas Gerais. Mas vejam só nessa entrevista cujo link segue abaixo, o que diz Itamar sobre ele. Entre outras pérolas Itamar chama Serra de mentiroso e acrescenta que Minas vai lhe dar uma retumbante derrota. Nos próximos dias Itamar gravará um depoimento para a campanha da Dilma. O governador disse ainda que o presidenciável do PSDB mente ao dizer que criou os medicamentos genéricos, porque isso teria ocorrido durante seu mandato, através de um decreto. “Ele deveria ter a decência de dizer que os genéricos surgiram no governo Itamar, não pelo Itamar, mas pelo grande ministro da Saúde que foi o Jamil Hadad”, afirmou Itamar. Segue o link

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Apoios à Dilma, ou o bom do Brasil...

   Os apoios a candidatura de Dilma Roussef não param de crescer. É a prova insofismável de que o bom do Brasil vai se articulando de um lado, e este lado é o da democracia e da verdadeira liberdade de expressão, como diria a professora Ivana Bentes (mais uma que apóia Dilma). Os apoios a Serra também estão claros: Fernando Henrique e pastores obscurantistas-medievais. Vai ficando cada vez mais claro quem é quem, e quantos ainda vacilam numa equidistância asséptica sem sentido, que na verdade expressa um luxo de classe. São os que não querem sujar suas consciências votando em quem não expressa totalmente seu gosto (o que é isso? alguém me explica?). Há também aqueles idealistas que esperam a revolução e caem naquilo que Lênin chamou em título de um de seus livros (parece que esse pessoal não leu): "esquerdismo, doença infantil do comunismo". A revolução possível está posta. Está posta na mesa de milhões de brasileiros que podem hoje comer; está posta na universidade e nas escolas técnicas que cada vez mais se torna possível no horizonte dos filhos dos trabalhadores mais pobres; está posta no grande incentivo recebido pela agricultura familiar; está posta na quintuplicação de verbas das universidades federais (a ufrj segundo seu reitor, Aloísio Teixeira, tinha orçamento de 40 milhões no tempo de FHC, e em 2010 já está em 200 milhões); está posta na empregabilidade formal (14 milhões de emprego com carteira assinada) e está posta também nos pontos de cultura, que trata o homem e a mulher que fazem a cultura popular com dignidade (o estado brasileiro quando muito tentou salvar a cultura e deixava aquele que a fazia ao "Deus dará"). Por tudo isso, e mais um punhado de coisas, é necessário que asseguremos a continuação desse trabalho e avançemos ainda mais.
 Vejam que já apóia Dilma (que eu tenho ciência):

Chico Buarque, Gilberto Gil, Ivana Bentes (profª UFRJ), Miguel Nicolelis (um dos maiores cientistas  brasileiros da atualidade), Leonardo Boff, Frei Betto, Aloísio Teixeira (reitor da UFRJ), Hugo Carvana, Gog, Eric Nepomuceno, Emir Sader, entre outros tantos. E o mais recente que tive notícia: o grande Aldir Blanc. Vejam abaixo as palavras de Aldir pedindo urgência aos que ainda estão... pensando:

Aldir Blanc

"Pilatos não pode mais lavar as mãos com sabonete verde. Lamentável que Marina e o PSOL estejam 'pensando'. Os que morrem de fome, de pancada, os que foram torturados e mortos, esses não tiveram esse confortável tempo para optar. A reação, desde a Comuna de Paris, desde os Espartaquistas, sempre matou mais rápido, enquanto gente do "bem" pensava...

Votem em Dilma - ou regridam às privatizações selvagens, à perda da Petrobras, ao comando do latifúndio, dos ruralistas, dos banqueiros, de todas as forças retrógradas do país, incluindo os torturadores".
 _______________________________

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Miguel Nicolelis, que defende “soberania intelectual” do Brasil, anuncia apoio a Dilma Rousseff

por Luiz Carlos Azenha

Entrevistei pela primeira vez o dr. Miguel Nicolelis quando era repórter da Globo. Ele é um dos mais importantes neurocientistas do mundo. Tratamos, então, do uso de impulsos elétricos capturados no cérebro de um macaco para mover braços mecânicos, pesquisa que ele desenvolveu na Universidade de Duke, nos Estados Unidos. O potencial desse tipo de pesquisa é tremendo: permitir que paraplégicos façam movimentos com o uso de impulsos elétricos do próprio cérebro, por exemplo.
Desde então, o cientista implantou em Natal, no Rio Grande do Norte, o Instituto Internacional de Neurociência de Natal, uma parceria público-privada. E continua coletando prêmios nos Estados Unidos, alguns dos quais anunciados recentemente:

Setembro 2010
Miguel Nicolelis recebe outro prêmio científico dos Institutos Nacionais de Saúde dos E.U.A.


Dois meses depois de ter recebido dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos US$2,5 milhões para investir em suas pesquisas no campo da interface cérebro-máquina, Miguel Nicolelis volta a ser distinguido com um prêmio de aproximadamente US$4 milhões da mesma instituição. Os recursos devem ser aplicados no desenvolvimento da nova terapia para o mal de Parkinson que vem mobilizando o pesquisador há alguns anos e que, na avaliação dos NIH, se constitui numa pesquisa “arrojada, criativa e de alto impacto”. Miguel Nicolelis é a primeira pessoa a receber da instituição americana no mesmo ano o Director’s Pioneer Award e o Director’s Transformative R01 Award.
*****
Hoje liguei para a Universidade de Duke, nos Estados Unidos, quando soube por e-mail que Nicolelis tinha decidido anunciar publicamente seu apoio à candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff.
Ele afirmou que faz isso por acreditar que Dilma representa um projeto de país em linha com o que acredita ser desejável para o Brasil: o desenvolvimento de uma “ciência tropical” e de um conhecimento voltado para garantir a soberania nacional. Enquanto providenciamos a transcrição da entrevista, clique no áudio para ouvir.

domingo, 10 de outubro de 2010

O apoio de Chico Buarque a Dilma

Por Dulce Maia

Um grupo de artistas e intelectuais liderados por Leonardo Boff, Chico Buarque, Emir Sader, Eric Nepumuceno está articulando adesões ao manifesto abaixo de apoio político a eleição de Dilma Roussef. Se você puder aderir agradeceríamos muito: mande sua adesão para emirsader@uol.com.br ; ericnepomuceno@uol.com.br
E, se você puder, divulgue aos seus amigos do Rio para participarem do ATO POLITICO de entrega do manifesto à candidata, no Teatro CASA GRANDE, dia 18 de outubro, às 20 hs. (Rua Afranio de Mello Franco, 290- Leblon- Rio de janeiro).
MANIFESTO DE ARTISTAS E INTELECTUAIS PRO DILMA
Nós, que no primeiro turno votamos em distintos candidatos e em diferentes partidos, nos unimos para apoiar Dilma Rousseff. Fazemos isso por sentir que é nosso dever somar forças para garantir os avanços alcançados. Para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimen to econômico que signifique desenvolvimento para todos, que preserve os bens e serviços da natureza, um país socialmente justo, que continue acelerando a inclusão social, que consolide, soberano, sua nova posição no cenário internacional.
Um país que priorize a educação, a cultura, a sustentabilidade, a erradicação da miséria e da desiguladade social. Um país que preserve sua dignidade reconquistada.
Entendemos que essas são condições essenciais para que seja possível atender às necessidades básicas do povo, fortalecer a cidadania, assegurar a cada brasileiro seus direitos fundamentais.
Entendemos que é essencial seguir reconstruindo o Estado, para garantir o desenvolvimento sustentável, com justiça social e projeção de uma política externa soberana e solidária.
Entendemos que, muito mais que uma candidatura, o que está em jogo é o que foi conquistado.
Por tudo isso, declaramos, em conjunto, o apoio a Dilma Rousseff. É hora de unir nossas forças no segundo turno para garantir as conquistas e continuarmos na direção de uma sociedade justa, solidária e soberana.
Leonardo Boff
Chico Buarque
Fernando Morais
Emir Sader
Eric Nepumuceno

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

As duas faces da candidata

 Neste providencial artigo o jornalista Mauro Santayana, uma das poucas vozes do atual jornalismo que não aderiu as teses golpistas do PIG (Partido da Imprensa Golpista), nos alerta sobre o que representa a candidatura Marina Silva.

_______________________________________________

O SÚBITO INTERESSE, de alguns meios de comunicação e de setores empresariais poderosos, pela candidatura da senadora Marina Silva, recomenda aos nacionalistas brasileiros alguma prudência. A militante ecológica é apresentada ao país como a menina pobre, da floresta profunda, que só se alfabetizou aos 16 anos e fez brilhante carreira política. Tudo isso é verdade, mas é preciso saber o que pensa realmente a senadora do Brasil como um todo.


Convém lembrar que a senhora Silva (que hoje se vale do sobrenome comum para atacar Dilma Rousseff) esteve associada a entidades internacionais, e recebeu o apoio declarado de personalidades norte-americanas, como Al Gore e o cineasta James Cameron.


James Cameron, autor de um filme de forte simbolismo racista e colonialista, Avatar, intrometeu-se em assuntos nacionais e participou de encontro contra a construção da represa de Belo Monte. A respeitável trajetória humana da senadora pelo Acre não é bastante para faz er dela presidente da República. Seu comportamento político , ao longo dos últimos anos, suscita natural e fundada desconfiança dos brasileiros.


Seus admiradores estrangeiros pregam abertamente a intervenção na Amazônia, “para salvar o mundo”. Não são os ocupantes do vasto território que ameaçam o mundo. São as grandes potências, com os Estados Unidos de Gore em primeiro lugar, que, ao sustentar grandes e bem equipados exércitos, pretendem governar todos os povos da Terra.


Al Gore, que festejou a candidatura verde, é o mesmo que pron unciou, com todas as sílabas, uma frase reproduzida pela imprensa: “Ao contrário do que os brasileir os pensam, a Amazônia não é só deles, mas de todos nós”. Desaforo maior é difícil. Ninguém, de bom senso , quer destruir a Natureza, e será necessário preservar a vida em todo o planeta, não só na Amazônia.


A senadora Marina Silva tem sido interlocutora ativa das ONGs internacionais, tão zelosas em defender os índios da Amazônia e desdenhosamente desinteressadas em ajudar os nativos da região de Dourados, em Mato Grosso do Sul, dizimados pela doença, corrompidos pelo álcool e, não raras vezes, assassinados por sicários. Argumente-se, em favor da senadora, que o seu fervor quase apostólico na defesa dos povos da Floresta dificulta-lhe a visão política geral.


Mas seu apego a uma só bandeira, a da ecologia radical, e o fundamentalismo religioso protestante que professa, reduz em as perspectivas de sua candidatura. Com todos os seus méritos e virtudes, não é provável que entenda o Brasil em toda a sua complexidade, em toda a sua inquietude intelectual, em toda a sua maravilhosa diversidade regional. As conveniências da campanha eleitoral já a desviaram de alguns de seus compromissos juvenis.


Esse seu pragmatismo está merecendo a atenção do ex-presidente Fernando Henrique, que pretende um segundo turno com a aliança entre Serra e Marina. Como sempre ocorre com os palpites políticos do ex-presidente, essa declaração é prejudicial a Serra e, provavelmente, também a Marina. Ela, vista por muitos como inocente útil daqueles que nos querem roubar a Amazônia, é vista pelo ex-presidente como inocente útil da candidatura dos tucanos de São Paulo .


É possível desculpar a ingenuidade na vida comum, mas jamais aceitá-la quando se trata das razões de Estado. José Serra poderia ter tido outro desempenho eleitoral, se tivesse desouvido alguns de seus aliados, como Fernando Henrique, que lhe debitou a política de privatizações, e Cesar Maia, que lhe impôs o inconveniente e troglodita Indio da Costa como vice. O apego de Marina a uma só bandeira e o fundamentalismo religioso não a ajudam.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Contribuição para uma reflexão neste momento eleitoral

Estou escrevendo essa mensagem apenas para produzir algumas reflexões que contribuam com o debate para esse momento eleitoral.
Acompanhando as eleições é possível notar que a candidatura da centro-esquerda, hoje representada pela figura de Dilma Roussef, está prestes a ganhar as eleições no primeiro turno. Mas o esforço da mídia corporativa tem se intensificado a ponto de Lula ter declarado que a candidatura da Dilma não vencerá apenas um outro projeto político, mas também alguns jornais e algumas revistas. Logo em seguida a essa declaração de Lula, o jornal Estado de São Paulo fez um editorial no qual declara em alto e bom som, que está apoiando o candidato do PSDB. O jogo é pesado e algumas reflexões importantes estão sendo feitas, como os artigos do jurista Fábio Konder Comparato (Homens novos para um novo mundo) e do teólogo Leonardo Boff (A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma), sendo que este último tinha, há pouco tempo, declarado voto pra Marina Silva. Parece que, no entanto, ele se deu conta de que fazer essa opção é correr o risco de fazer o jogo da direita brasileira.
  Muitos de nós já votaram em projetos que não passavam de um ou dois por cento das intenções de voto. Mas fazíamos isso com a convicção dos que estavam mirando no futuro, conscientes de que aquele projeto articulado com outras forças iria vicejar. Foi assim com o PT de vinte anos atrás. A diferença com o momento atual é que nem Plínio e nem Marina integram grandes projetos nacionais que tenham uma grande inserção nos movimentos sociais. No caso da Marina se dá até o contrário, pois quem a ouviu falar em MST? Votar em Plínio ou na Marina nesse momento é correr o risco de colocar Serra no segundo turno (e aí a força midiática agiria com toda força e todo capital) sem ter, por outro lado, a oportunidade de estar fazendo vingar um projeto coletivo para o futuro. No caso de Plínio, não, mas no da Marina, é um projeto absolutamente pessoal. Votar em Plínio nos dá a tranqüilidade de estar fortalecendo uma oposição de esquerda, mas a que custo isto está sendo feito? Ao custo de estarmos correndo o risco de colocar o Serra no segundo turno. Ou alguém tem a ilusão de que Marina irá para o segundo turno? Ao menos aguardem as vésperas das eleições para ver a distância entre Marina e Serra.
Tenho dito e espero estar errado, mas tudo indica que num eventual segundo turno, Marina apoiaria, usando argumentos de lógica partidária, o candidato José Serra. Foi essa a costura feita por Fernando Gabeira. Para quem se interessar, aconselho o lúcido artigo do professor Emir Sader intitulado “Marina no colo da direita”.
Penso que se por um lado Lula não fez o governo dos nossos sonhos, ao menos temos que reconhecer que os avanços são concretos e diz respeito à vida de milhões de pessoas que puderam vivenciar a mobilidade social (mais de 50 milhões de pessoas ascenderam socialmente). Arriscar essas conquistas é no mínimo, a meu ver, se aventurar numa senda que poderia nos fazer retroceder a tempos muito perversos.
Grande abraço a todos!!!
Ricardo Moreno

http://encontroradical.blogspot.com/2010/09/marina-no-colo-da-direita.html
http://www.fpabramo.org.br/artigos-e-boletins/artigos/homens-novos-para-um-mundo-novo

Como a Datafolha manipulará a próxima pesquisa

Por Antonio Martins

Perguntas tendenciosas embutidas na sondagem, para influenciar o entrevistado

O  jornalista Lauro Jardim, da revista Veja, publicou às 18h24 de ontem (17/9), em seu blog, algo que sugere clara tentativa de manipulação da próxima pesquisa eleitoral Datafolha — uma das últimas, antes do pleito de 3 de outubro.
O questionário apresentado aos entrevistados, conta Lauro, incluirá cinco perguntas que dão relevância à demissão da ministra Erenice Guerra e vinculam as acusações feitas a ela à candidata Dilma Roussef e ao presidente Lula. As questões embutidas são:

– Você tomou conhecimento da saída da ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra do governo? Se sim, está bem informado, mais ou menos ou mal informado sobre esse caso?
– A ex-ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, pediu demissão após as denúncias de que seu filho teria beneficiado empresas junto ao governo pedindo comissão. Você acredita que o filho de Erenice Guerra beneficiava as empresas junto ao governo pedindo comissão?
– E, na sua opinião, Erenice Guerra sabia ou não que seu filho beneficiava empresas junto ao governo pedindo comissão?
– E o presidente Lula sabia ou não que o filho Erenice Guerra beneficiava empresas junto ao governo pedindo comissão?
– E a candidata Dilma Rousseff, sabia ou não que o filho Erenice Guerra beneficiava empresas junto ao governo pedindo comissão?
O Datafolha tem o direito de pesquisar tudo. Mas misturar numa sondagem sobre intenção de voto questões que repercutem precisamente os temas de campanha de um candidato é manipulação primária.
É possível que o Datafolha alegue intenção de aferir a informação do eleitor sobre temas relevantes à disputa eleitoral. Nesse caso, poderia incluir, entre outras, cinco perguntas bastante objetivas:
1. “Você sabia que o candidato José Serra é apoiado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, embora esconda esta relação em seu programa”?
2. “Você sabia que a filha do candidato José Serra, Verônica Serra, dirigiu a ‘Decidir’, uma empresa que quebrou o sigilo fiscal de milhões de brasileiros, aproveitando-se de influências de seus sócios no governo de Fernando Henrique Cardoso?”
3. “Você sabia que o candidato José Serra foi ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique Cardoso, durante o qual foram privatizadas a Vale do Rio Doce, a Telebrás, as siderúrgicas e muitas outras empresas?”
4. “Você sabia que José Serra manteve, quando governador, o preço dos pedágios de São Paulo cerca de dez vezes mais alto, por quilômetro rodado, que nas rodovias federais?”
5. “Você sabia que a bancada fiel aos governadores José Serra e Geraldo Alkmin bloqueou, na Assembléia Legislativa de São Paulo, a constituição de 69 CPIs, impedindo a investigação de denúncias sobre corrupção e tráfico de influências?”

domingo, 26 de setembro de 2010

A midia comercial em guerra contra Lula e Dilma.

Por Leonardo Boff
 A mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição e, na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo  respeito devido  à mais alta autoridade do país. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
-------------------------------------
Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso”pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o Brasil Nunca Mais onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida me avaliza a fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o presidente Lula e a midia comercial, que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de idéias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factoide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos do Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um presidente que vem deste povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo  respeito devido  à mais alta autoridade do país, ao presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser presidente. Este lugar, a presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma) “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssista, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo, Jeca Tatu, negou seus direitos, arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidene de todos os brasileiros.  Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados de onde vem Lula e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e de “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no governo, operou uma revolução conceitual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas importa reconhecer que Lula foi fiel a sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, o fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai  ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela Veja faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes.

Esse Brasil é combatido na pessoa do presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das má vontade deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

O mal a evitar, ou o desespero da mídia partidária

 Para quem quiser se indignar até à medula eu aconselho que leia o editorial do jornal Estado de São Paulo no qual o jornal, seguindo orientação do presidente Lula, decide oficializar o apoio à candidatura do tucano José Serra. Ainda que tardio, o movimento de assumir que está de um certo lado não deverá, certamente, ser seguido pelos seus congêneres, que por sua vez ainda vão insistir na simulação patética de que agem de forma equidistante e imparcial. Mas o que deve nos indignar nesse texto do editorial é o viés "casagrandista" que ele destila. No final das contas, Lula acaba não sendo o alvo, e sim a democracia. Mas como todos sabemos, este jornal nunca foi de fato um apreciador das democracias quando estas insistem em ser presididas por uma visão política diferente da dele. Foi assim em 1964 no Brasil e em 1973 no Chile. Nesses dois casos, em nome de se evitar um "mal maior", os Mesquitas tomaram posição contra governos eleitos democraticamente e dessa forma atentaram contra milhões de pessoas. Com um discurso moralizante esta empresa atenta mais uma vez contra a democracia brasileira e se junta àqueles que pretendem fazer com que o Brasil retorne aos tristes anos FHC. 
 a quem interessar possa, segue o link para o editorial do Estadão:

terça-feira, 21 de setembro de 2010

DONGA, O PRIMEIRO SAMBA GRAVADO NO BRASIL E AS MANOBRAS DA IMPRENSA.


Por Ricardo Moreno
para o Jornal Por-do-sol

Os grandes meios de comunicação não se cansam de farisaicamente alardear sobre a tal liberdade de expressão. Digo farisaicamente porque a crônica política e mesmo eventualmente a cultural está repleta de passagens que atestam justamente o contrário. E o contrário da liberdade de expressão é o monopólio da mesma, e nesse sentido eles já deram provas cabais de que temem, como o demônio a cruz, a democratização das comunicações, haja vista o fato de que quase toda grande imprensa do Brasil se retirou no final de 2009 da 1ª CONFECOM (Conferência Nacional de Comunicação), iniciativa que justamente visava potencializar a democratização das comunicações no Brasil.
  Em períodos eleitorais as denúncias da grande imprensa contra os candidatos que não são de sua preferência se multiplicam assustadoramente, mas tão rápido como elas vêm, elas se vão sem mais comentário. Alguns desses meios de comunicação, como a revista Veja, se especializaram em mentiras que não vão muito longe, mas que fazem, ao menos por algum tempo, a cabeça de uma quantidade razoável de pessoas. Ainda bem que é cada vez menor o número de pessoas que dão crédito a essa revista. Aos poucos, e não poderia ser diferente, a sociedade vai amadurecendo e passa a ser mais crítica com relação ao que lê. Alguns artistas brasileiros tais como Chico Buarque e Milton Nascimento após tantas mentiras e práticas sórdidas dessa revista, resolveram não mais dar nenhuma declaração a este veículo, ou seja, tratam-na como se ela não existisse.
Mas para que o eventual leitor dessa coluna e o editor da mesma não se frustrem por não termos até agora falado em música, vamos tratar de um episódio que junta o que vimos falando acima com a composição do chamado primeiro samba gravado no Brasil. Muitos conhecem essa passagem, mas como suponho que nem todos tenham ciência da mesma, vamos discorrer aqui sobre ela. É o seguinte: consta na crônica musical brasileira que em 1917 foi gravado o primeiro samba no Brasil – “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida –. Ele é aquele que começa com os versos: “o chefe da polícia (folia) pelo telefone manda me avisar / que na carioca tem uma roleta para se jogar. É justamente sobre esses primeiros versos que queremos tratar, pois segundo Donga ele foi inspirado numa passagem que envolve uma armação montada pelo então proprietário do jornal “A noite” – Sr. Irineu Marinho (aquele mesmo, pai de Roberto Marinho) – que visava derrubar o então chefe de polícia do Rio de Janeiro, Aureliano Leal.
Este samba tem em sua história muitas contradições e “disse-me-disse”, mas o fato é que muitos musicólogos não têm dúvidas em afirmar que a letra é um apanhado de várias estrofes cantadas em improviso ou já consagradas nas rodas musicais populares do Rio de Janeiro. Nesse sentido, Mauro de Almeida, suposto criador da letra, atuou na verdade dando a forma final em um conjunto de versos já registrados na memória oral dos sambistas. Mas voltando à fraude montada pelo Sr. Irineu Marinho, consta que o dono do Jornal “A noite”, então desafeto do já referido chefe de polícia, combinou com alguns jornalistas para montarem uma simulação na qual uma roleta era colocada em pleno Largo da Carioca num momento em que o jogo estava proibido na cidade. A intenção era simplesmente desmoralizar a autoridade policial.
Sobre esse episódio Mauro de Almeida, ou outra pessoa, não se sabe ao certo, teria construído os primeiros versos do samba. Em algumas gravações aparece a expressão “o chefe da polícia” e em outras “o chefe da folia”. E aí as coisas ficam ainda mais complicadas porque o próprio Donga deu versões contraditórias sobre qual seria a versão original. Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, ele diz que a letra original é “O Chefe da Folia”... mas em entrevista a Sérgio Cabral e Ary Vasconcelos ele se contradiz afirmando que é “O Chefe da Polícia”... a letra inicial, mudada para a outra forma para evitar complicações com as autoridades.
Seja como for, o que nos interessa aqui, é explicitar as manobras feitas pelos que detém a exclusividade da publicação da fala. As Vejas, as Globos, os Estadões, as Folhas e seus congêneres, não podem mais agir de forma monoglósica num mundo intensamente complexo e polifônico. O que nos dá esperanças é que as novas ferramentas (blog, twitter, etc) e mesmo a velha imprensa alternativa (como esse jornal) possibilitam uma nova plataforma e uma nova possibilidade de democratização das falas, pondo abaixo o famigerado pensamento único. Saudemos esse novo tempo!!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O velho golpismo undenista travestido de liberdade de expressão...

Texto do site Carta Maior: 

O MODELO É O MESMO DE CARLOS LACERDA CONTRA VARGAS EM 1950: 'SE ELEITO, NÃO DEVE GOVERNAR'
  

Na reta final das eleições de 2010, a mídia demotucana desistiu de manter as aparências e ressuscitou o golpismo udenista mais desabrido e virulento. O arrastão conservador não disfarça a disposição de criar um clima de mar de lama no país nas duas semanas que separam a cidadania das urnas."Ódio e mentira", disse o Presidente Lula, no último sábado, em Campinas, para caracterizar a linha editorial que unifica agora o dispositivo midiático da direita e da extrema direita em luta aberta contra ele, contra o seu governo, contra o PT , contra Dilma mas, sobretudo, contra a legitimidade do apoio popular avassalador ao governo e a sua candidata nestas eleições. O jornal o Globo foi buscar no sempre desfrutável Caetano Veloso o mote para a investida: "É como se fosse assim uma população hipnotizada. As pessoas não estão pensando com liberdade e clareza". Ou seja, a vitória que se anuncia é ilegítima. Virtualmente derrotada a coalizão demotucana já não têm mais esperança eleitoral em Serra, que avalia como um 'estorvo', um erro e um fracasso --o mesmo "Caê", na entrevista ao jornal carioca, classifica o tucano como "burro", por não ter , desde o início, atacado frontalmente Lula. Sua candidatura, agora, sobrevive apenas como mula de um carregamento de forças, interesses, veículos e colunistas determinados a sabotar por antecipação o governo Dilma, custe o que custar. O objetivo é criar uma divisão radicalizada na sociedade brasileira. Vozes do conservadorismo, mesmo quando travestido de ares pop, caso de Caetano, inoculam na elite e segmentos da classe média um sentimento de menosprezo e ilegitimidade pelo veredito quase certo das urnas. A audácia sem limite cogita, inclusive, levar Dilma a depor no Senado, às vésperas do pleito que deve consagrá-la Presidente do país. O desafio à vontade popular é claro e típico do arsenal golpista. A receita é a mesma pregada por Carlos Lacerda, em manchete do jornal Tribuna da Imprensa, em 1º de junho de 1950, quando era evidente a vitória de Getúlio Vargas contra a UDN. O lema de ontem comanda hoje a ordem unida que articula pautas, capas e manchetes nos últimos 12 dias de campanha: "o senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência, Candidato, não deve ser eleito, Eleito, não deve tomar posse, Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar..."

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Gog na campanha da Dilma

GOG, o rapper dá o seu recado. Aliás, já há muito tempo que digo que aquela potência crítica e de contestação que outrora trasitava fartamente pela MPB, encontra-se agora alojada na galera do RAP. A MPB, com algumas exceções, esta mais procupada com outras coisas. Se tornou mais hedonista, não que antes não fosse, mas agora se esvaziou com relação ao social e suas lutas. Normal, em certa medida. Abaixo, Gog conclama a juventude a aderir à campanha da Dilma.


A história dos cosméticos.

Mais uma produção dos criadores do famoso The Story of Stuff, mostra que nossos xampus, protetores solares, bem como batons, etc. estão contaminados com produtos químicos que se acumulam em nosso corpo, nos envenenando, causando-nos várias doenças, desde infertilidade até câncer. O filme nos chama para exigirmos dos governos produtos com mais qualidade.

The Story of Cosmetics (Português) from Guilherme Machado on Vimeo.

Se há um Ex-Gabeira, há também uma Ex-Marina

Creio que parte da classe média bem intencionada tenha caído num tipo de esparrela que via de regra cai como uma luva para ela, qual  seja, a de se sentir em paz com sua consciência optando por um projeto que inspira “pureza” e uma prática política limpa e isenta de maldades, típicas das práticas polítcas comuns. Isso não existe!! E é muito claro que as alianças do PV da Marina está muito bem articulado com o PSDB aqui no Rio de Janeiro e em outros lugares. De certa forma a campanha de Marina despolitiza a política quando aponta para uma situação irreal e salvacionista. Outro grupo político que fez essa opção foi o PSOL, e aí temos que bater palmas para ele pelo fato desse grupo ter sido coerente com suas ideias: criticou Lula pelas alianças, mas não se aliou com setores na nova direita para com isso atingir dividendos eleitorais, como faz o PV e o PPS. 
  Outra coisa: Alguém explica o índice de rejeição da candidata Marina em todas as pesquisas eleitorais? Eu arrisco: as teses defendidas em sua campanha apontam para um ecologismo de direita. Se não vejamos: quais das três principais candidaturas se identificam mais com o MST (tem uma entrevista muito boa do Stédile no Jornal Brasil de Fato sobre isso), por exemplo: é a candidatura da Dilma (já notaram como Marina não fala no movimento?). Ela também não fala nos tais índices de produtividade da terra. Infelizmente tenho que reconhecer que a tese do “ex-gabeira”, aqui no Rio, se aplica a Marina, ou seja: a candidata do PV é uma ex-Marina. 
  E para fechar: Por que Marina Silva faz tanto eco (sem trocadilhos) às denúncias de quebra de sigilo fiscal da filha de Serra, e não se manifesta sobrea a monumental quebra de sigilo bancário promovida, em 2001, pela empresa Decidir.com, das sócias Verônica Serra (filha de José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República) e Verônica Dantas (irmã de Daniel Dantas, banqueiro condenado por subornar um delegado federal)???? Por que esse silêncio obsequioso à grande imprensa com relação a matéria da Carta Capital sobre o assunto? Será que isso faz parte do acordo tácito da candidata com a grande imprensa? Para refletir…