sábado, 30 de abril de 2011

OS SONHOS NÃO ENVELHECEM...

OS SONHOS NÃO ENVELHECEM,
Relato lítero-estético-humanista do poeta Márcio Borges.




     O escritor argentino Jorge Luís Borges, entusiasta das boas frases, dizia em seguida a proferir uma delas um comentário de que além de bonita a frase poderia ser verdadeira. O mestre argentino estava, obviamente, se referindo ao fato de que beleza e verdade não andam obrigatoriamente juntas. A frase acima, que dá título a este artigo, por exemplo, é bonita, mas não é verdadeira (assim o entendo). Os sonhos envelhecem; morrem; são esquecidos; renascem... enfim, tudo é possível nas dobras e desdobras do tempo. Esta frase, na verdade, é parte de uma das mais belas letras de MPB que eu conheço: “Clube da Esquina II” de Milton Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges, este último autor da letra (porque se chamava homem / também se chamavan sonhos / e sonhos não envelhecem).

     Acontece que também esta bela frase dá nome a um importante livro que Márcio escreveu contando as histórias daquele tempo. É um relato lítero-político-estético-existencial daqueles tempos de angústias e descobertas para os jovens fundadores do Clube da Esquina. O livro, escrito em primeira pessoa traz as marcas de quem viveu com toda intensidade possível aquilo que depois veio a assombrar o mundo musical brasileiro e mundial. Digo assombrar porque há diversos relatos de artistas contemporâneos deles que afirmam certa dificuldade de compreender o que era aquilo. As harmonias, as levadas, os timbres, as letras, tudo era diferente do que se fazia. Não era bossa nova, não era tropicalismo, não era música de protesto, mas era um pouco de tudo isso, porém numa perspectiva absolutamente pessoal daquele grupo de mineiros. É como se eles viessem por fora, bordando o circuito musical brasileiro, mas sem adentrá-lo totalmente, mas mantendo com ele intenso debate.

     Fica evidente no texto de Márcio, como de resto parece evidente a todos que de alguma forma acompanharam esta cena, que a figura central de todo esse movimento era Milton Nascimento. De longe isso é sabido, mas o texto de Márcio nos revela como foi se construindo tanto em Milton como nos outros participantes do movimento – se é que o podemos chamar assim – a consciência de que caberia a ele, Milton, elaborar a síntese de tudo aquilo que estava sendo feito. Não foram raros os momentos de hesitação e descrença, mas a percepção de que estavam fazendo a coisa certa era, por outro lado, também muito forte. Bituca, apelido carinhoso de Milton, era como um estuário a receber águas de vários rios e a misturá-las, ao mesmo tempo em que se conectava ao grande mar da música internacional.

     Mas tudo isso era coisa de amigos, de turma de quase adolescentes, sem ainda uma percepção clara de que aquilo os levaria a uma profissionalização, e no caso mais específico do Milton, a uma carreira internacional. O relato de Márcio Borges nos mostra com muita densidade humana, que fazer música era pra aquela rapaziada uma necessidade vital dentro daquele contexto de guerra e opressão que eles viviam. Não era fácil... (em meios a tantos gases lacrimogêneos / ficam calmos, calmos, calmos). Em alguns momentos o cenário pintado pelo autor é de guerra mesmo. Mas há momentos de batida de limão, namoros, frustrações e alegrias.

     Entre tantas e tantas histórias há uma que contarei aqui: Milton, Márcio, Lô, Duca (então mulher do Márcio), Brant e um colega seu chamado Ildebrando encontraram por acaso o Ex-presidente Juscelino Kubitschek em Diamantina. Justamente este último, Ildebrando, não se conteve diante daquele personagem quase mítico e com toda sem cerimônia do mundo lhe diz: “ô Nonô! Que prazer, Nonô, dê cá um abraço meu velho”. Vejam se isso são modos de tratar um ex-presidente, e ainda mais da estatura de JK. Mas o presidente não se ofendeu, e o encontro acabou com Milton e a turma cantando para ele a canção “beco do mota”. O presidente riu, sabendo que o "beco", ao qual a canção se referia, era aquele lugar de "recreação" masculina, em frente à arquidiocese da cidade (a canção termina com o verso “o Brasil é o beco do Mota).

     Delícias de histórias vão correndo pela pena do Márcio sem que possamos nos dar conta da passagem do tempo. O relato é vertiginoso e tem a pressa e a angústia daqueles tempos. Mas acima de tudo, o mistério Minas continua, o mistério Milton permanece a nos desafiar. A desafiar novos corações e mentes que se debrucem sobre ele. Ver tudo aquilo que aconteceu pelos olhos e pelo texto de Márcio Borges é uma experiência que vale a pena. É coisa para rir e chorar, mas acima de tudo para se orgulhar da síntese estético-musical engendrada por aquela turma das Geraes.

domingo, 24 de abril de 2011

CHOMSKY E AS ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO

O linguista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.

 O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças
decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado “problema-reaçã o-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessemsido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irámelhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como
se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA
MEDIOCRIDADE.

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!


10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.