sexta-feira, 24 de junho de 2011

DANTE EM QUADRINHOS



A clássica história de Dante Alighieri, composta por 14 233 versos, ganha uma bela adaptação

Um dos maiores clássicos da literatura mundial, a Divina Comédia, de Dante Alighieri, acaba de ganhar uma versão em quadrinhos. Os italianos Piero Bagnariol, quadrinista, e Giuseppe Bagnariol, roteirista, resumiram em apenas 72 páginas os momentos mais marcantes da viagem de Dante pelo inferno, purgatório e paraíso. Para isso, contaram com a ajuda de uma especialista na obra de Dante, a paulistana Maria Teresa Arrigoni, professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) de língua e literatura italianas. Ela conta com foi essa experiência.



De que forma você ajudou na elaboração dos quadrinhos?
Eu escolhi as traduções que foram usadas como base e colaborei com toda a parte de texto. É uma obra super complexa, então, surgiam muitas questões sobre como transportar aquela história.

Como foi feita essa adaptação?
A história é bem fiel ao enredo de Dante, mas claro que os roteiristas criaram uma moldura que colore essa viagem, há uma liberdade. Devido à complexidade da obra, eles fizeram adaptações e nem todos os episódios e personagens foram retratados. Houve uma seleção. Mas o quadrinista teve um poder de síntese muito grande e, ao ver, as escolhas foram muito bem feitas.

Qual a importância da transposição de um texto clássico como este para os quadrinhos?
É uma forma de criar espaço para um leitor que ainda não teve contato com a Divina Comédia. O fato de ser em quadrinhos é uma quebra de barreiras. É algo que pode provocar a leitura e, no caso de Dante, de apresentar esses versos. Escolhi as traduções feitas em versos justamente por isso. Acho que a chegada dos HQs pode ser um primeiro passo para quem quiser se aprofundar no texto original.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mário Maestri: A peste integralista no Brasil


  Mais um belo texto do historiador Mario Maestri. Trata-se de um intelectual que não se furta às questões do seu tempo, e toma partido claro em defesa das conquistas progressistas da contemporaneidade. Mario está consciente de que estas conquistas têm um enraizamento histórico e como tal necessitam ser compreendidas e defendidas, sob o risco de extinguir-se por acomodação dos atores sociais. Recentemente vimos marchas em defesa da liberdade, organizada por grupos que defendem o direito ao consumo de maconha, os direitos da mulher, o direito ao aborto e o direito à união civil por pessoas do mesmo sexo, entre outros. Mas vimos também, por outro lado, marchas contrárias a estas organizadas, ao meu ver, por grupos obscurantistas-fundamentalistas (e é um direito deles se manifestarem). O texto também discute o argumento de que ao se instalar o direito de união civil entre pessoas do mesmo sexo e a lei contra a homofobia, ninguém poderá mais individualmente considerar erradas essas práticas. Leiam:

Mário Maestri: A peste integralista no Brasil

 É direito constitucional crer que os homossexuais queimarão no inferno. Ou que os negros descendem de macacos e os arianos de cisnes brancos. É lícito crer que o fato de Karl Marx ter escrito O capital comprova que o judeu só pensa em dinheiro. Ninguém pode ser reprimido por pensar que a mulher é um ser incompleto. Sequer há crime em sentir-se atraído por criança. As concepções e as pulsações individuais são direitos individuais inarredáveis, por exóticas e desviadas que sejam.

É socialmente inaceitável que homofóbicos, racistas, pedófilos, misóginos e assemelhados afirmem positivamente suas concepções e impulsos, com palavras ou ações, ferindo comunidades frágeis ou discriminadas e, através delas, a sociedade como um todo. Realidade que a lei toma crescentemente consciência, ao punir em forma cada vez mais ampla o racismo anti-negro, o anti-semitismo, o sexismo, a pedofilia e, ultimamente, a homofobia.

Preceitos religiosos não justificam atos anti-sociais. Quem incentivar ou praticar o bíblico “olho por olho, dente por dente” terminará diante do delegado. Ninguém defende hoje a condenação à morte do adúltero e da adúltera – que despovoaria nosso país! Todos concordam que não teríamos vereadora, governadora ou presidenta, se seguíssemos a ordem da Bíblia que as mulheres “sejam submissas aos maridos” e “fiquem caladas nas assembléias (...)”!

O integralismo – evangélico, católico, mulçumano, judaico etc. – não nasce da vontade de respeitar estritamente preceito religioso. Ele exacerba a consciência alienada e ferida das populações para propagandear conservadorismo que viabiliza seus objetivos políticos, ideológicos e econômicos. A família real saudita é a mais pia, a mais conservadora e a mais rica do Oriente. Edir Macedo construiu reino nesta terra prometendo a salvação na outra. Se fosse pelo papa, ele seguiria mandando sobre Roma, onde ninguém teria votado neste domingo!

O proselitismo integralista luta para formatar a sociedade segundo o seu arbítrio e a sua autoridade, apoiado no que diz ser a vontade divina inquestionável. Ancora seu reacionarismo na negação obscurantista da racionalidade como padrão de convivência e de organização social. Os integralismos comungam na defesa da superioridade da revelação sobre a razão; da autoridade sobre a autonomia; da tradição sobre o progresso. Em sua militância, recebem o apoio magnânimo dos grandes interesses econômicos, no Brasil e através do mundo, interessados na conservação dos privilégios sociais.

No Brasil, o integralismo mobiliza-se contra o divórcio; contra a interrupção voluntária da gravidez; contra o reconhecimento civil da homoafetividade; contra a escola laica, pública, de qualidade; contra os direitos plenos da mulher etc. Tudo em defesa de ordem natural, determinada pelos céus, onde reinam indiscutidos o patriarca sobre a mulher e os filhos, o patrão sobre os trabalhadores, os governadores sobre os governados, o pastor e o sacerdote sobre os fiéis.

No Brasil, avança a galope desenfreado o integralismo religioso, expandindo sua peste, suas sombras e suas tristezas sobre a mídia, sobre a educação, sobre a política, sobre o lazer, sobre a educação etc., com o apoio oportunista e interessado de autoridades e representantes públicos. Recua o laicismo acanhado, parido em 1889 pela República elitista, e apenas estendido, à custa de duras lutas, neste pouco mais de meio século.

Mário Maestri (publicado originalmente no blog Pragmatismo Político)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

QUE TAL O SILÊNCIO?

   Por Ricardo Moreno

  Há anos atrás quando eu fazia graduação em música, eu costumava passar pela livraria da Universidade e dar uma olhada nas novidades. Um dia dei de cara com um título que me chamou atenção, pela sua natureza inusitada. O livro se chamava “ódio à música”. Tentei ler de novo achando que estava sendo traído pela minha visão, afinal não era razoável um manifesto contra a música numa universidade que forma músicos, professores e pesquisadores de música. Não era nem mesmo razoável imaginar alguém com tanto ódio dessa arte a ponto de escrever um livro. Que não goste, tudo bem, mas daí escrever um livro, já era demais.
            Esperei um momento em que tivesse mais tempo para saciar minha curiosidade, e quando pude voltei à livraria para acertar contas com ela. Fiquei muito surpreso quando ainda na introdução vi que o autor, Pascal Quignard, era um compositor, regente e educador musical. Realmente um espanto! Mas ainda nas primeiras páginas ficou clara a razão que o levou a tal empreitada. Ele estava simplesmente se rebelando contra uma prática que se tornou, se não universal, ao menos muito disseminada. Refiro-me à prática da banalização da música e a ampliação geral do nível sônico nas sociedades contemporâneas.
            Pensa-se muito pouco nisso, mas os efeitos do som sobre os corpos humanos e dos demais animais não são desprezíveis. Pesquisas militares do governo dos Estados Unidos feitas desde a década de 1960, já apontavam os efeitos danosos do som em altos decibéis em animais. O compositor canadense Murray Schafer relata em seu livro “O ouvido pensante” algumas dessas ocorrências. Numa, por exemplo, ele descreve a morte de um rato quando colocado em um campo sonoro de altos decibéis. Na autópsia fica demonstrado que ele morreu de superaquecimento instantâneo. Outros testes científicos demonstraram que ocorrem mudanças na circulação sanguínea e no funcionamento do coração quando uma pessoa é exposta a uma determinada intensidade de ruído. Na mesma perspectiva, cientistas do Instituto Max Planck realizaram há tempos atrás pesquisas para saber por que pessoas que trabalham em ambientes muito barulhentos tendem a ter mais problemas emocionais e familiares.
            A falta de reflexão sobre os ambientes sonoros acaba por gerar situações esdrúxulas, como a que eu mesmo presenciei anos atrás numa viagem de ônibus que ligava a Penha ao Cosme Velho. A empresa, para demonstrar atenção com seu público resolveu instalar televisores em toda a sua frota. Acontece que os ônibus já possuíam um serviço de rádio, o qual não foi desativado para a instalação do novo serviço. Talvez para agregar mais valor, ficavam os dois meios de comunicação funcionando ao mesmo tempo. É verdade que a televisão ficava sem som, mas era possível, como eu mesmo vi, o vídeo transmitir uma imagem de um guitarrista tocando rock numa performance típica de guitarrista solo, enquanto o rádio tocava um pagodão a todo vapor. Uma loucura!  
            Há uma relação inversamente proporcional entre sociedades pré-industriais de um lado e sociedades industriais, de outro, no que diz respeito aos sons naturais, humanos e de utensílios tecnológicos. Segundo Schafer nas culturas pré-industriais a presença de sons naturais era de 69% dos sons vivenciados, enquanto os sons humanos eram de 26%, e os sons de utensílios e tecnológicos alcançavam apenas 5%. Nas sociedades contemporâneas a proporção é de 68% de sons tecnológicos, 26% de sons humanos e apenas 6% de sons naturais. Isso explica as razões pelas quais o ruído vem sendo incorporado ao discurso musical. Ainda no começo do século XX, em 1913, o compositor Luigi Russolo, escreveu um manifesto no qual defendia a incorporação dos ruídos, presença marcante na vida cotidiana do período industrial, na música desse momento. É “A arte dos Ruídos” o título de seu manifesto futurista.
            De todo modo, é preciso estar consciente das marchas e contra-marchas do nosso tempo e perceber de que modo podemos interferir nos rumos da nossa jornada. A ideia de assimilar os ruídos ao discurso musical pode até ser um jeito de esconjurar, em parte, o demônio-ruído, mas faz-se necessário reduzir seus efeitos nocivos e para isso são necessários consciência do problema e educação para transformá-lo. Urge uma gestão social e democrática do som.

LULA E OS BLOGUEIROS PROGRESSISTAS

 Este blog se sente homenageado pelo ex-presidente Lula, quando em encontro com blogueiros progressistas ele assinala a importância dos blogs na consolidação da tecno-democracia. Ele não usa esse termo, mas é a isto que ele se refere. Lula, com seu olhar sempre aguçado, menciona a importância do papel desses blogs para possibilitar que mais pessoas e grupos da sociedade, tenham acesso à mídia. A monoglosia vai sendo rompida, e uma quantidade cada vez maior de pessoas e de visões do mundo vai se espraiando pelo tecido social. Eis, na íntegra, a fala do ex-presidente:


domingo, 19 de junho de 2011

tecno-democracia e tecno-controle

   Da mesmo forma que as redes sociais e as tecnologias midiáticas de um modo geral possibilitam o que alguns pensadores têm chamado de tecno-democracia, é preciso também estar atento ao que poderíamos chamar de tecno-controle. Este é um tema que sem dúvida irá gerar muita reflexão nas ciências sociais. Há tempos atrás publiquei aqui um pequeno texto sobre o "neuromarketing", que também é uma tendência contemporânea que aponta para a utilização de conhecimentos para o controle das pessoas, mas voltado para as relações de consumo. Talvez o "neuromarketing" esteja inscrito dentro daquilo que o filósofo Michel Foucault chamou de biopolítica.
  Acabei de ler uma pequena matéria sobre uma site chamado "matcha" (matcha.tv), cujo propósito é o de indicar filmes aos seus clientes a partir de um conjunto de informações que ele obtém a partir das pistas que o usuário deixa na web. Em princípio é uma utilização banal e sem maiores desdobramentos, mas pense-se nas utilizações possíveis deste mesmo procedimento para finalidade outras...
   As novas plataformas tecnológicas são isso mesmo, espaços abertos para disputas de várias ordens, e não é possível pre-dizer o que vai acontecer. Mas acima de tudo é preciso estar atento aos desdobramentos possíveis e para, numa perspectiva ativista-militante, impedir, como disse brilhantemente a professora e pesquisadora Lucia Santaella (autora de um livro fantástico chamado "culturas e artes do pós-humano): "é preciso impedir que o grande capital colonize o futuro".

Disco novo de Chico Buarque

Chico Buarque, para tristeza de Lobão..rsss, está lançando disco novo. Neste curtíssimo vídeo é possível acompanhar alguns momentos dos bastidores. Aliás, no site www.chicobastidores.com.br é possível acompanhar outros momentos, pois parece que cada dia tem um vídeo diferente. Aos interessados então...


Chico: Bastidores (2) from Chico Buarque: Bastidores on Vimeo.