quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"A Rússia pegou fogo na Sapucaí"

Um áudio de Edvaldo Santana: "A Rússia pegou fogo na Sapucaí"



Edvaldo Santana ou: a voz rouca das ruas

Edvaldo Santana ou: A voz rouca das ruas


           

Para quem não conhece, Edvaldo Santana é um militante e ao mesmo tempo legítimo herdeiro da boa e velha MPB. Não obstante sua já longa trajetória (já lançou cinco cd’s) e algumas inserções na mídia, ele ainda continua desconhecido do grande público brasileiro. Sua música vai do blues ao baião passando por baladas, boleros, salsas, sambas e outras levadas. Seus parceiros também não são poucos, e entre tantos se destacam: Tom Zé, Arnaldo Antunes, Paulo Leminski, Haroldo de Campos, Itamar Assunção e outros mais.
            Filho de migrantes nordestinos, cresceu na periferia paulista (São Miguel Paulista), e foi essa periferia que lhe deu régua e compasso para construir sua obra. Suas letras, onde não raro se acham verdadeiras pérolas, estão absolutamente sintonizadas com seu tempo e lugar. Edvaldo é capaz de versos cortantes tratando de chacinas e meninos de rua, como também trata de temas românticos de forma muito lírica. Tudo isso cantado com uma voz rouca, que lhe é bem peculiar. Um verdadeiro achado é esse trecho da canção “variante”: “no rio São Francisco navega o vapor / que navegou no Mississipi / o rio São Francisco deságua sua dor no Tietê / Variante da estação do norte / de seu Joaquim da Luz / se eu pudesse aproximava os tempos / e adonirava o Blues”. Este último verso, transformando em verbo o nome do compositor Adoniran Barbosa, é qualquer coisa de muito bem sacado.
            Em sua obra há muitas canções que merecem destaque, mas como o espaço aqui é pequeno, vou destacar uma canção do seu primeiro cd “Lobo solitário” de 1993. A canção chama-se “A Rússia pegou fogo na Sapucaí”, e tem uma proposta caleidoscópica. Ela trata do cenário cultural e político da década de 1990, e toda aquela sensação – que já foi chamada de pós-moderna – de que tudo perdeu o sentido, que os acontecimentos se dão vertiginosamente e tudo mais. A canção é um blues daqueles bem tradicionais e o refrão diz: “Beats, Woodstock, Coréia, Vietnã / duas bombas atômicas no Japão / luzes na ribalta / Bush em cena com Sadam / a morte é o kitsch do verão / punks foram hippies / agora são titãs / a Rússia pegou fogo na Sapucaí / pra não dizer de flores / me alegra ser xamã / a gente só queria ser feliz”.
            A letra dessa canção é uma verdadeira síntese da década de 1990, falando das angústias e expectativas daqueles tempos neo-liberais. Mas conversando com o autor eu lhe perguntei sobre essa imagem da Rússia pegando fogo na Sapucaí. De onde ele tinha tirado aquilo? Entre risos, ele me respondeu que foi num certo carnaval carioca do início da década de 1990, em que ele estava assistindo a transmissão pela TV, e viu um carro alegórico, cujo tema era a Rússia, ser tomado por um incêndio. Que sacada, hein! E é bom lembrar que essa cena se deu logo em seguida do fim do chamado socialismo real na antiga U.R.S.S. Isso é o que podemos chamar de uma verdadeira alegoria.
            Há pouco tempo, em 2006, Edvaldo lançou o seu mais recente cd: “Reserva de alegria” que conta com as participações dos rappers Thaíde e Rappin’Hood, e do cantor Chico César. Neste cd Edvaldo continua sua linha de melodias simples, misturas de gêneros e letras cortantes com belos achados poéticos. Dialoga com elegância com as novas tendências da MPB, como no caso da parceria com Rappin’Hood no samba-rap “pra viver é sempre cedo”. Desafiando o cenário místico-empresarial que assola o país, diz a letra logo no início: “eu não dirijo carro / não uso celular / procuro um lugar calmo que eu possa trabalhar / não quero ser crente / com medo do “senhor” / Deus não deu patente / pra padre e pra pastor”.
            Edvaldo Santana é um guerrilheiro da MPB, e apesar da grande mídia não lhe dar bola, ele vai pacientemente compondo sua obra, apontando suas armas – o violão e a voz – para os que promovem as indigências de nosso tempo. E como ele mesmo diz “maluco beleza não se dá por vencido”.




terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Flagrante na agência bancária ou: o racismo nosso de cada dia.

Muito se tem discutido no Brasil sobre raça e racismo, em função de novos dispositivos legais que vêm sendo levados a cabo pelo governo brasileiro. Um certo argumento, que considero reacionário - apesar de algumas pessoas que não são reacionáiras usá-lo -, é o de que se o conceito de raça ruiu, então não faz mais sentido utilizá-lo para elaborar políticas compensatórias ou de reparação. Mas o que tenho repetido é que se o conceito de raça está efetivamente superado, os seus efeitos não estão. E que efeitos são esses? O racismo, ora! Um conceito, como queria Foucault, produz efeitos. Aliás, é para isso, em boa medida, que eles são criados.
Só um desavisado não sabe que o conceito de raça surge no século XIX justamente para justificar o processo de colonização, ou neo-colonização, que os países europeus estavam empreendendo na Ásia e na África, principalmente. É verdade, por outro lado, que o racismo não precisou esperar o surgimento do conceito de raça para acontecer. O racismo antecede o conceito de raça. Mas, sem dúvida, uma definição de raça amparada "cientificamente" colocava as coisas em outro patamar. Era como se não houvesse mais dúvida da superioridade branca-européia-ocidental sobre o resto do mundo.
O vídeo abaixo demonstra um pouco os "efeitos" do conceito de raça, em uma ocorrência prosaica do nosso cotidiano.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O homem do ano

 
  
Jornal Le Monde elege Lula como o "Homem do Ano"

     A publicação francesa apontou o presidente brasileiro como o responsável pelo renascimento do Brasil como um gigante na cena mundial. O jornal espanhol El Pais também escolheu Lula como a "Personalidade do Ano", destacando que ele passará à história pela ambição realizada de tornar o Brasil um país desenvolvido. Para o Le Monde, o presidente soube ser um democrata, lutando contra a pobreza sem ignorar os motores de um crescimento mais respeitoso dos equilíbros naturais. "A consagração de Lula acompanha a renovação do Brasil", resume o jornal.

leia a matéria completa em


domingo, 27 de dezembro de 2009

Vejam que história interessante e acreditem se quiser


     John Corcoran é o que podemos considerar um fenômeno! Mesmo sem saber ler, escrever ou mesmo soletrar, ele conseguiu se formar em uma universidade da Califórnia e dar aula - dar aula!!! - por 17 anos em outra. O americano só foi alfabetizado aos 48 anos.
"Mas como isso foi possível, caro blogueiro?", você está se perguntando, não? Vamos à explicação que o próprio deu à emissora 10News, de San Diego: quando era aluno de escola primária, John começou a apresentar problemas de aprendizado.
O menino contou com a conivência dos pais e dos professores, que o passavam de ano. "Quando eu tinha 8 anos, eu rezava na hora de dormir 'Deus, por favor, amanhã, quando for a minha vez de ler em sala, faça-me ler'". Mas o milagre não acontecia. O milagre da leitura, porque o da aprovação sempre aparecia ao fim do ano letivo. Por causa de problemas psicológicos e comportamentais, o pequeno Johnnie tinha suas deficiências acobertadas e sempre avançava.
John também contribuiu, aprendendo a disfarçar sua condição iletrada. Arrumava problemas em sala de aula e passava boa parte do tempo no escritório do diretor. Em 1956, ele recebeu o diploma da Palo Verde High School, em Blythe.
E John chegou à universidade, em El Paso. Lá aprimorou suas técnicas para burlar o sistema. Ele roubava provas e convencia colegas a completar suas tarefas. Trapaceiro virou o sobrenome de John.
"Eu não podia ler palavras, mas podia ler o sistema e as pessoas", disse.
Em 1961, John se tornou bacharel em educação. Educação!!!!! Mesmo analfabeto...
"A prefeitura de El Paso dava a quase todos os graduados um emprego", explica John.
Durante 17 anos, mesmo sem juntar lé com cré, o americano deu aulas em uma escola secundária de Oceanside.
A tática de John: ele desenvolveu um técnica de ensino baseada nos recursos oral e visual. Um gênio, não?
"Não havia uma palavra escrita por mim em sala de aula. Eu sempre tinha dois ou três professores assistentes para escrever no quadro e ler o boletim", conta.
Em um determinado momento, a farsa ficou insuportável e John pediu licença da escola, Ele se trancou com uma tutora voluntária, de 65 anos. Depois de um ano, já sabia ler. Pelo menos tanto quanto os seus alunos.
O americano já escreveu dois livros e criou a Fundação John Corcoran, que ajuda analfabetos a terem uma melhor oportunidade na sociedade.

Os êxitos de Morales e dos Povos Originários da Bolívia

     Se você, caro leitor, tiver algum interesse em saber o que está se passando na Bolívia - reparem que estou falando de um país vizinho, e não de uma república a milhares de quilômetros de distância - vai se dar conta de que as notícias são um tanto escassas. Isto só reforça aquela ideia, que já comentei aqui, que dá conta do desinteresse brasileiro por seus vizinhos. Seja como for, se soma a esse desinteresse, "tradicional" o fato de que no país vizinho está acontecendo um processo político da maior relevência capitaneado por uma liderança oriunda do movimento popular.
     Os êxitos recentes da gestão Morales apontam para uma transformação que transcendem, ao meu ver (alguns cientistas políticos têm insistido nisso) os limites da Bolívia. Refiro-me aqui ao novo conceito de "estado plurinacional". María Teresa Zegada é uma socióloga boliviana que tem chamado a atenção para esse novo fenômeno. Segundo ela "a plurinacionalidade emerge como um dos elementos mais importantes do novo Estado. Todo o texto constitucional está atravessado pela plurinacionalidade e isso posibilitará que na Bolivia aumente o graude de participação política”. Ora, isso não é pouca coisa, pois esse novo estado viabiliza um novo protagonismo político naquele país. É uma democracia que se contrói no respeito as diversidades étnicas e dá voz a contingentes histpricamente excluídos das decisões políticas. E é uma inflexão no próprio ser do estado nacional moderno, pois como muitos sabem, este estado se cosntruiu ocultando as diversidades étnicas na mesma medida em que subalternizava os grupos mais "fracos".
     Se engana também quem pensa que isso é uma medida populista, como gosta de falar nossa imprensa, mas sim fruto de um longo processo de disputas socais levadas a cabo pelo povo boliviano. Esta mesma imprensa tratou de nos ocultar, por exemplo, a luta dos bolivianos contra a privatização da água (uma parte dessa luta pode ser vista no vídeo sobre Milton Santos, feito por Sílvio Tendler). Nos ocultaram também a luta desse mesmo povo por uma nova constituição. Uma constituição que desse conta do novo protagonismo político em curso no país. Tudo isso foi feito em meio a tentativas da elite locar de desestabilizar o governo, tentativas de golpes, etc.
     Por tudo isso, Evo Morales é visto apenas como aquele que está concretizando, ou viabilizando politicamente toda uma série de demandas dos chamados Povos Originários da Bolívia. A justeza dessas demandas e a sintonia que elas têm com os interesses do povo boliviano, possibilitou a vitória de Morales em todas as disputas de que participou. E todas elas com uma margem expressiva de mais de 60%. Foi isso que aconteceu no mais recente pleito boliviano, que o consagrou com quase 65 % dos votos, fazendo-o vitorioso já no primeiro turno.
     Só nos resta, daqui do Brasil, saudar entusiaticamente a vitória dos Povos Originários da Bolívia representada na vitória do presidente Morales.






Para saber mais siga este link:

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A contra-revolução jurídica

 Muitos analistas de política têm apontado um recrudescimento do papel da política no cenário das disputas sociais, após um longo processo de esvaziamento da mesma. Este esvaziamento teria surgido no horizonte social em função de uma espécie de refluxo, por conta, em parte, de derrotas do movimento social nas décadas de 1970 e 1980. Este período corresponde, grosso modo, ao triunfo da vaga neo-liberal. Pretendia-se, num viés explicativo, demonstrar o esboroamento das lutas sociais, ou de qualquer necessidade de se orientar as demandas sociais através de conflito. O que restaria aos insatisfeitos era se adequar aos novos tempos, ou em outras palavras, ao mercado. E mais, essa adequação se daria de forma atomizada, ou seja, cada um por si e salve-se quem puder. Era o fim da história...
 Pois então, o tal recrudescimento da política entra no cenário latino-americano (ou Abya Yala, ver artigo de Carlos Walter aqui no blog), no final da década de 1990 e início do novo século, com a chegada ao governo, de forma democrática, de grupos até então estranhos ao poder nesse continente. Foi o caso das eleições de Hugo Chávez, Lula, Evo Morales e outros. Esses novos personagens vão de alguma forma politizar a política e produzir uma nova agenda, ferindo, muitas vezes, os interesses dos grupos tradicionalmente hegemônicos do continente. Surge um novo empoderamento.
 Mas é óbvio, por outro lado, que os tradicionais donos do poder não iam simplesmente se retirar do jogo político ou aceitar pacificamente as novas agendas, etc. etc. etc. E é sobre isso que o professor Boaventura de Souza Santos nos fala em um belo artigo: "a contra-revolução jurídica". Nesse artigo elenos fala de como o conservadorismo ferido no campo político e perdendo cada vez mais seu poder de convencimento, se aloca no campo judiciário, para dali perpetrar seus gestos políticos. Ele fala de um acorde tácito, que sinceramente, eu desacredito. Pelo menos em alguns casos.
 Siga o link abaixo e leia na íntegra o texto do professor Boaventura:

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um cordel para o Rio de Janeiro

Este cordel é o resultado de um trabalho que fizemos com a turma 1701 da Escola Emiliano Galdino no segundo semestre de 2009. A ideia do trabalho era o de desenvolver no aluno uma leitura mais fluente. Trabalhos diversos elementos, tais quais a compreensão da estrutura das sílabas poéticas (no caso 7), interpretação de texto e compreensão rítmica dos versos (acentos tônicos). Fizemos leituras em sala de aula de diversos títulos: "As proezas de João Grilo"; "Lampião, o capitão do cangaço"; "Peleja de Riachão com o Diabo" e o "Romance do pavão misterioso". Este último foi de longe, o mais apreciado de todos. No final os alunos compuseram este cordel que você poderão ler abaixo.




UM CORDEL PARA O RIO DE JANEIRO





Vou contar nesse cordel
Uma história interessante
Sobre o Rio de Janeiro
Uma cidade elegante
Chamada maravilhosa
Que tem muitos habitantes


Já há muito tempo atrás
Nasceu uma bela cidade
Humilde e muito pequena
Que tinha simplicidade
Era um belo lugar
Sem tristeza nem maldade


Para o Rio vieram os franceses
Prá uma colônia fundar
Acabaram sendo expulsos
Não puderam continuar
Foram buscar novas terras
Lugares pra explorar
  
Aqui no Rio de Janeiro
Lá no Campo de Santana
No século dezenove
Uma data bem bacana
Aconteceu a República
História de muita fama


No morro do Corcovado
Tem o Cristo redentor
Um monumento importante
Que tem um grande valor
Uma das sete maravilhas
E tem todo nosso amor


Os olhos do redentor
Parecem observar
Todo o Rio de Janeiro
Estrela desse lugar
Abençoando a todos
Com a santidade do olhar


Das praias do nosso rio


Tem muito pra se falar
Muitas mulheres bonitas
Que só aqui pode achar
Tem marés e horizontes
Belezas de se encantar


Lá na praia de Ipanema
Gosto de me bronzear
A garota mais bela
Vejo por ali passar
É a mulher mais bonita
Que eu já vi desfilar


Pão de açúcar lá no Rio
É um morro interessante
Pois lá tem muito turista
Que é gente importante
E tem uma paisagem linda
Sem igual e verdejante


O bonde do Pão de Açúcar
Vive prá lá e prá cá
Fica em cima de um fio
Eu vou prá lá passear
Mas fico com muito medo
De o cabo arrebentar


Em dois mil e dezesseis
No Rio acontecerá
Será a primeira vez
Que o Rio vai sediar
Virá gente do estrangeiro
Para aqui se encontrar


Nosso Rio também é
A cidade do esporte
Tem futebol, voleibol
Atletas de muito porte
Por isso nas olimpíadas
É candidata bem forte


Quando está muito calor
Eu saio do meu lençol
E vou curtir uma praia
Pegar uma cor com sol
Aí dou uma pescadinha
E jogo meu futebol


Futebol aqui no Rio
É um esporte bem legal
Todo mundo gosta dele
Porque é sensacional
E quando um time faz um gol
É alegria sem igual


Domingo assisto ao jogo
O jogo do meu mengão
Ele é o melhor time
E vai ser o campeão
Já está lá no G4
É melhor que a seleção


Nesta cidade do Rio
Tem uma festa bem legal
Que acontece em fevereiro
O nome dela é carnaval
Muita gente se diverte
Nesta festa surreal


Todo dia tem escola
Pois é lá que eu aprendo
Já aprendi a escrever
E também já estou lendo
De manhã faço um lanchinho
E de tarde eu merendo


A escola aqui do Rio
É muito especial
A gente aprende a escrever
E isso é muito legal
Cresce a cultura do aluno
De forma sensacional


Nosso funk carioca
É cultura e lazer
É do Rio de Janeiro
O ritmo do prazer
Que abala muita gente
Isso você pode crer


Um problema da cidade
É ter muito traficante
E tem muita violência
Também muito meliante
Existem várias favelas
Também muitos assaltantes


Uma parte da polícia
Pode tudo por dinheiro
Isso também acontece
Nesse Rio de Janeiro
As vezes o bicho pega
E é só tiro o dia inteiro


Mas toda cidade grande
Tem o ritmo assim
Acontecem coisas boas
Acontecem coisas ruins
Mas morar nessa cidade
É mesmo um prazer pra mim


No cordel dessa cidade
Contei coisas de esplendor
Praias, esportes, lugares
Até Cristo redentor
Ainda falta muita coisa
Mas por aqui já acabou


Já encerro por aqui
A história que eu contei
Não sei se todos gostaram
Mas eu sei que eu gostei
É do Rio de Janeiro
Que jamais esquecerei






Cordel do Rio de Janeiro







domingo, 20 de dezembro de 2009

O vendedor de passados


     "O vendedor de passados" é um romance sobre a memória, quer dizer, sobre sonhos, ou melhor, sobre a memória / sonho. E como ele mesmo diz: "um sonho não se tem, um sonho se constrói". Apesar da atmosfera onírico-mágico-surrealista, a trama é muito bem construída. Ela trata de um sujeito, o Félix Ventura (este sobrenome é bastante significativo) que vive de criar passados e inventar memórias. As pessoas que o procuram pertencem a posições sociais que lhes garantem o futuro, mas que não provê um passado, ou uma memória compatível com seu status.
     Em uma passagem curiosa o personagem Ventura faz um paralelo entre o seu ofício e a literatura. Ele acredita que o que faz é, de certa forma, literatura, pois ele também inventa personagens, com suas tramas e tudo mais. Só que ao invés deles ficarem presos às páginas de um livros, saltam para a vida.
     É curioso também que toda essa narrativa, ou quase toda, visto que há mudança de foco narrativo, é feita por uma osga (é como em angola se chama essas lagartixas de parede). É verdade que é uma osga absolutamente humanizada, cujos sonhos remetem a uma vida humana anterior. Há até momentos em que os sonhos da osga e do personagem Ventura se fundem de forma fantástica.
     É um excelente livro, com nuances poéticas da melhor qualidade e com aquelas frases que nos faz de repente parar de ler o livro e ficar a pensar...


O vendedor de passados
José Eduardo Agualusa
Editora Gryphus

sábado, 19 de dezembro de 2009

O homem que engarrafava nuvens

Em janeiro irá estrear um documentário sobre Humberto Teixeira. Vi o trailer e deu muita vontade de ver o filme. Postei-o abaixo pra que você também fiquem com o mesmo gostinho.


Igrejas bizarras...

Recebi da minha amiga Débora Rios uma lista com nomes bizarros de igrejas evangélicas - nem sei se podemos chamá-las assim-, confesso que não pude resistir ao riso, e, claro, nem haveria porquê. A mensagem que recebi fala da criatividade do pessoal para dar nomes aos seus negócios, digo, suas igrejas. Mas não poderia ser diferente, pois cada dia surge uma nova igreja, o que exige de seus dirigentes muita inventividade. Não colocarei aqui a lista completa que recebi, pois é muito extensa. Postarei apenas as que achei mais engraçadas. E reprarem que tem para todos os gostos. Tem as ecológicas: "coração reciclado"; tem as que poderiam ser filme: "cruzada de emoções"; tem as auto-celebrativas: "Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade"... Enfim, tem de todo tipo.

Igreja da Água Abençoada
Igreja Adventista da Sétima Reforma Divina
Igreja da Bênção Mundial Fogo de Poder
Congregação Anti-Blasfêmias
Igreja Chave do Éden
Igreja Evangélica de Abominação à Vida Torta
Igreja Batista Incêndio de Bênçãos
Congregação Passo para o Futuro
Igreja Explosão da Fé
Igreja Pedra Viva
Comunidade do Coração Reciclado
Igreja Evangélica Missão Celestial Pentecostal
Cruzada de Emoções
Igreja C.R.B. (Cortina Repleta de Bênçãos)
Congregação Plena Paz Amando a Todos
Igreja Aceita a Jesus
Igreja Pentecostal Jesus Nasceu em Belém
Igreja Evangélica Pentecostal Labareda de Fogo
Congregação J. A. T. (Jesus Ama a Todos)
Igreja Barco da Salvação
Igreja Evangélica Pentecostal a Última Embarcação Para Cristo
Igreja Pentecostal Uma Porta para a Salvação
Comunidade Arqueiros de Cristo
Igreja Automotiva do Fogo Sagrado
Igreja Batista A Paz do Senhor e Anti-Globo
Assembléia de Deus do Pai, do Filho e do Espírito Santo
Igreja Palma da Mão de Cristo
Igreja Menina dos Olhos de Deus
Igreja Pentecostal Vale de Bênçãos
Associação Evangélica Fiel Até Debaixo D’Água
Igreja Batista Ponte para o Céu
Igreja Pentecostal do Fogo Azul
Comunidade Evangélica Shalom Adonai, Cristo!
Igreja da Cruz Erguida para o Bem das Almas
Cruzada Evangélica do Pastor Waldevino Coelho, a Sumidade
Igreja Filho do Varão
Igreja da Oração Eficiente
Igreja da Pomba Branca
Igreja Socorista Evangélica
Igreja ‘A’ de Amor
Cruzada do Poder Pleno e Misterioso
Igreja do Amor Maior que Outra Força
Igreja Dekanthalabassi
Igreja dos Bons Artifícios
Igreja Cristo é Show
Igreja dos Habitantes de Dabir
Igreja ‘Eu Sou a Porta’
Cruzada Evangélica do Ministério de Jeová, Deus do Fogo
Igreja da Bênção Mundial
Igreja das Sete Trombetas do Apocalipse
Igreja Pentecostal do Pastor Sassá
Igreja Sinais e Prodígios
Igreja de Deus da Profecia no Brasil e América do Sul
Igreja do Manto Branco
Igreja Caverna de Adulão
Igreja Este Brasil é Adventista
Igreja E.T.Q.B (Eu Também Quero a Bênção)
Igreja Evangélica Florzinha de Jesus
Igreja Cenáculo de Oração Jesus Está Voltando
Ministério Eis-me Aqui
Igreja Evangélica Pentecostal Creio Eu na Bíblia
Igreja Evangélica A Última Trombeta Soará
Igreja de Deus Assembléia dos Anciãos
Igreja Batista Renovada Lugar Forte
Igreja Atual dos Últimos Dias
Ministério Apascenta as Minhas Ovelhas
Igreja Evangélica Bola de Neve
Igreja Evangélica Adão é o Homem
Igreja Evangélica Batista Barranco Sagrado
Ministério Maravilhas de Deus
Igreja Evangélica Fonte de Milagres
Comunidade Porta das Ovelhas
Igreja Pentecostal Jesus Vem, Você Fica
Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo
Igreja Evangélica Luz no Escuro
Igreja Evangélica O Senhor Vem no Fim
Igreja Pentecostal Planeta Cristo
Igreja Evangélica dos Hinos Maravilhosos
Igreja Evangélica Pentecostal da Bênção Ininterrupta

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Propostas irrecusáveis...

Dando uma passeada pela blogsfera, dei uma passada no blog Mundo Fantasmo, animado pelo escritor e compositor Bráulio Tavares. Lá encontrei, entre tantas coisas interessantes, uma discussão acerca do tema "propostas irrecusáveis". A questão colocada é: "o que acontece quando um sujeito absolutamente honesto recebe uma proposta (desonesta) irrecusável? É, sem dúvida, uma questão embaraçosa, e certamente mais verossímel do que aquelas construções congêneres do tipo: "o que acontece quando uma força irresistível encontra uma barreira intransponível?" Nessa última estamos lidando com um universo objetivo, no qual, os termos que o representa estão em franca contradição; o que não acontece no primeiro caso, no qual o universo subjetivo dá margem para que as coisas não tenham assim tanta nitidez. Nesses campos, digamos, as coisas tendem a ser mais nuançadas, com zonas de sombras e interseções diversas.
Mas toda essa discussão me faz lembrar uma historinha que me foi contada pelo meu amigo Antonio Augusto Fontes, sobre o jornalista Assis Chateaubriand. A história é mais ou menos a seguinte: o ilustre jornalista estava em uma festa e viu uma mulher muito bonita, a qual despertou nele um desejo sexual incontrolável. Ele então procurou um acessor que, transformado em emissário, foi ao encontro da mulher fazer uma "proposta irrecusável". Tratava-se de uma soma em dinheiro que era realmente difícil de não ser aceita, ainda mais levando-se em conta que era só para uma noite. Ela topou, e daí o acessor apresentou um ao outro e a conversa fluiu. Acontece que lá pras tantas, o jornalista mencionou a metade da quantia antes oferecida pelo acessor, o que fez a mulher ter o semblante transformado e por fim dizer pra ele: "você está pensando que eu sou que??" No que prontamente teria respondido Chateaubriand: "o que a senhora é já sabemos, agora é só uma questão de preço". Pois é, este parece ser um caso em que a quantidade (dinheiro) consegue alterar a qualidade (o ser ou não ser da mulher).

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Você já ouviu falar em "neuromarketing"

Pois é amigos, na medida em que vai avançando nossa compreensão sobre a "máquina mundo", e aí incluído nessa máquina nós mesmos, seres humanos, vão aumentando as possibilidades de interferência nesse sistema que somos. Talvez o neuromarketing esteja dentro daquilo que o filósofo Michel Foucault teorizou como biopoder.
Este campo de conhecimento começou nos Estados Unidos com um sujeito chamado Gerald Zaltman, médico e pesquisador da universidade norte-americana de Harvard, que teve a idéia de usar aparelhos de ressonância magnética para fins de Marketing, e não estudos médicos. O termo “Neuromarketing”, no entanto, só viria a ser conhecido alguns anos depois, cunhado por Ale Smidts, um professor de Marketing na Erasmus University em Roterdã, Holanda.
Pois bem, após os primeiros passos foi feita uma pesquisa científica no jornal acadêmico Neuron, da Baylor College of Medicine, em Houston, Texas. O estudo consistia na experimentação dos refrigerantes Pepsi e Coca-Cola. Em um dos casos, os experimentadores não sabiam qual era a marca da bebida que tomaram.Quando perguntados qual dos dois refrigerantes era melhor, metade respondeu Pepsi. Nesse caso, a ressonância detectou um estímulo na área do cérebro relacionada a recompensas. Já quando elas tinham conhecimento sobre a marca, esse número caiu para 25%, e áreas relativas ao poder cognitivo e à memória agora estavam sendo usadas. Isso claramente indica que os consumidores estavam pensando na marca, em suas lembranças e impressões sobre ela. O resultado leva a crer que a preferência estava relacionada com a identificação da marca e não com o sabor.
Ora, certamente que não é nenhuma novidade o fato de que as marcas interferem diretamente nas escolhas feitas pelos consumidores. E que essas escolhas muitas vezes têm um caráter muito mais subjetivo do que objetivo. Mas a novidade talvez esteja no fato de que o que antes era uma simples percepção passa a ser quantificado objetivamente. com esta precisão o Neuromarketing possibilita monitorar as emoções vividas durante as experiências de consumo. Creio que isso não seja pouca coisa.
Bom, não sou daqueles que vê na tecnologia a ruína da liberdade ou coisa parecida. Apenas acho que como estamos no século da informação, devemos estar atento a tudo que acontece e eventualmente usar a própria tecnologia para neutralizar ou minimizar os efeitos deletérios de determinados usos que a tecnologia tem.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Drible da vaca

Algumas expressões no futebol são muito engraçadas. Uma delas é o "drible da vaca", que para quem não sabe, é aquela jogada na qual um jogador (geralmente um atacante) toca a bola por um lado do adversário e corre pelo outro, contornando-o e pegando a bola do outro lado. Noutro dia fiquei sabendo da origem dessa expressão, ou pelo menos de uma versão, e gostaria de compartilhar com os leitores aqui do blog. É o seguinte: contam que o nosso querido Garrincha costumava treinar lá em Pau Grande, lugar onde nasceu, no estado do Rio, com animais. E era com a vaca que ele treinava a tal jogada: dava de um lado e pegava do outro.
É provável que não tenha sido ele o primeiro jogador a realizar esta jogada, mas talvez tenha sido o primeiro a batizá-la. Em sendo verdade esta história, podemos contar mais um pontinho para o nosso genial Mané.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Trabalho escravo no Brasil

Apesar dos esforços do atual governo brasileiro (inclusive com reconhecimento internacional), ainda existe trabalho escravo no Brasil. É evidente que esse tipo de escravidão se baseia em outra forma de organização, diferente da que tivemos no nosso passado colonial. Mas talvez a diferença esteja só na forma, mantendo em sua essência a mesma crueldade e ignomínia. Mas o mais cruel (nem sei o que é mais cruel nisso tudo), é que isso acontece sob o beneplácito de setores importantes da elite brasileira, inclusive com grande representação no congresso nacional, e grande inserção na mídia brasileira. Vemos essas pessoas na televisão com suas gravatas e suas falas empoladas, fazendo análises e diagnósticos da situação brasileira, e até parece que são seres humanos de verdade. E talvez sejam mesmo, e ser "humano" seja essa abertura para tudo: monstros, anjos e tudo o mais.
Abaixo segue um depoimento de um amigo que viu essa escravidão de perto, e um artigo de Laerte Braga.


1- É impossível fazer escravagismo rural no Brasil de hoje sem paramilitares que torturem e matem. Constatei isso no sul do Pará, tendo encontrado paramilitares, fazendeiros, ex-escravos, advogados, familiares de assassinados. Em todos os casos, os criminosos estavam ligados a PSDB/PPS/DEMO. EM TODO OS CASOS.


2- Não sei se o argumento vai comovê-l@ car@ amig@, mas o olhar de um ex-escravo, de uma viúva de lavrador assassinado pela turma do PSDB/PPS/DEMO é algo devastador.


3- Jarbas Vasconcelos foi ao Pará em companhia da senadora escravocratra Kátia Abreu para defender uma empresa flagrada em trabalho escravo, a PAGRISA. Jarbas Vasconcelos tentou humilhar uma mulher corajosa que enfrenta pistoleiros para liberar escravos. Ele disse: "Não se pode agir segundo os chiliques da dona Rute". Algo escandaloso, mas que não inspira indignação em quase ninguém.


A CPI DO MST – OS ESCRAVAGISTAS

Laerte Braga

Quem quer que se dirija ao GOOGLE, pesquisa, digitar o nome do deputado Ronaldo Caiado do DEM (partido de José Roberto Arruda) vai encontrar, entre outras coisas, seu vínculo com o trabalho escravo. O deputado é contrário à emenda constitucional que pune com a perda das terras para fim de reforma agrária, o proprietário ou empresa que fizer uso de trabalho escravo. Ele próprio o faz.

Quem for procurar informações sobre a senadora Kátia Abreu (DEM, partido de José Roberto Arruda) vai encontrar que a senhora em questão encalhou no Senado Federal às custas de dinheiro da Confederação Nacional da Agricultura da qual era presidente e repassado àquela entidade para ser utilizado em financiamentos de projetos agrícolas.

Não são necessariamente corruptos por corrupção. São corruptos pelo que representam. Interesses do mais atrasado e boçal latifúndio brasileiro (se bem que não existe latifúndio não atrasado e não boçal).

Kátia Abreu responde a processo por desvio de recursos da Confederação Nacional da Agricultura, tanto quanto por ter lesado um lavrador em sua região, tomando-lhe a terra num típico conto do vigário.

Nem a senadora e nem o deputado descobriram ainda a existência de garfo e faca, por exemplo, para se possa comer. Conhecem chicote, pelourinho, senzala e toda a sorte de boçalidades possíveis em termos de se tratar escravos.

Ronaldo Caiado e Kátia Abreu associaram-se a empresas estrangeiras, a MONSANTO principalmente, entupindo a mesa do brasileiro e lá fora também, de produtos transgênicos, sabidamente nocivos à saúde e que para muito além disso transformam num curto prazo qualquer terra em imprestável ao plantio do quer que seja, mas aí, suas contas bancárias já estarão aptas a lhes garantir futuro tranqüilo e risonho.

A CPI do MST tem dois vieses que se casam. O primeiro deles assegurar a permanência do regime de escravidão mantido pelo latifúndio brasileiro e o segundo assegurar a posse da terra a empresas estrangeiras, logo, ferindo de morte a soberania nacional, tal a extensão de terras em poder desse tipo de gente.

Se a agricultura brasileira, sustentada na prática pelo pequeno e médio produtor rurais, vai se lascar e o “celeiro do mundo” virar um grande deserto dentro de alguns anos, gerando fome e doenças, isso não é problema deles, pois não são humanos, são figuras desprezíveis e abjetas em todos os sentidos.

O patriotismo deles é aquela forma canalha a que se refere o pensador inglês Samuel Johnson.

A CPI é simples. Estigmatizar o MST com apoio da mídia (a grande mídia GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, BANDEIRANTES, etc) venal e serve aos mesmos patrões, assegurar os privilégios dos latifundiários entre eles o de não pagar suas dívidas com o Banco do Brasil e outras agências de fomento do governo (nunca pagaram e nem pensam em pagar, são caloteiros por natureza), garantindo que permanecerão senhores de escravos e a serviço de potência estrangeira.

São bandidos, bandoleiros lato senso.

Não têm escrúpulos e nem têm nada além da capacidade de urrar e rosnar asneiras.

Que tenham recebido apoio expresso e público do deputado Ônix Lorenzoni, também do DEM (partido do governador José Roberto Arruda) não é novidade. O Rio Grande do Sul embora seja um dos estados mais próspero do País, terra de Mário Quintana entre outros, tem o latifundiário mais brutal e estúpido do Brasil. Ainda desconhecem a existência da roda, mas conhecem a da pólvora com que seus pistoleiros assassinam trabalhadores rurais e pequenos produtores.

E todos eles são financiados tanto por recursos desviados da Agricultura, como por empresas estrangeiras.

A senadora Kátia Abreu, uma espécie de pré-ornitorrinco, tal e qual Ronaldo Caiado. Lorenzoni não. É só um sem vergonha querendo aumentar o por fora. Foi eleita “miss desmatamento.”

Por que não levantar os débitos dessa gente com as agências de fomento à agricultura do governo federal? Os assassinatos cometidos por seus pistoleiros? Será que o brasileiro comum faz idéia de quanto um pilantra como Agripino Maia deve aos cofres públicos de financiamentos para a agricultura e usado em especulação financeira, mas que a GLOBO não informa, pois chega ali boa parte da grana?

A turma de abóboras que gosta de bom dia e escolher a gravata do Bonner?

O que está por trás da CPI do MST? Num primeiro momento garantir privilégios de bandidos como Kátia Abreu, Ronaldo Caiado. Num segundo atender a interesses de grupos econômicos estrangeiros e num terceiro, finalmente, inscrever o Brasil no rol de colônias da corte de Washington, à qual servem com devoção e altos salários.

Isolar um movimento popular que luta por algo que até um general fascista como Douglas MacArthur fez ao final da guerra, no Japão, a reforma agrária.

Quando a fome bater em “grandes plantações”, como afirma Vandré em sua canção “pra não dizer que não falei de flores”, não adianta mandar o xerife atrás desses bandidos. Já estarão longe e o Brasil já será BRAZIL.

A propósito, mesmo o ministro do Meio-ambiente, Carlos Minc, sendo um bobalhão, atrapalha interesses dessa gente e Kátia Abreu usou o recurso mais comum entre os seus. Ameaçou-o de morte por não aceitar assentar-se de quatro no colo do latifúndio.

A CPI do MST é isso. Uma traulitada no interesse nacional. O tal “terrorismo” do MST é uma luta legítima em favor do BRASIL, ao contrário dos que lutam pelo BRAZIL.

Há uma diferença fundamental entre um e outro.

campanha contra propaganda dirigida às crianças

O IDEC (Instituo Brasileiro de Defesa do Consumidor) está, junto com outras entidades ligadas ao consumo, fazendo uma campanha contra a publicidade dirigida às crianças. Apoio integralmente essa campanha e, dessa forma, reproduzo abaixo o texto do IDEC e o link para quem quiser, assinar. Gostaria só de acrescentar que quando li o manifesto lembrei imediatamente de uma letra de uma canção da década de 1970 chamada "receita de felicidade", do compositor cearense Ednardo. Diz a letra:
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Receita de Felicidade

Ultimamente ando às vezes preocupado
Vendo as caras tão risonhas das crianças
Nas fotos dos anúncios
Nos cartazes da parede
Dando idéias que algo vai acontecer
É receita certa pra sensibilizar
Pra esconder, pra mentir ou pra vender
Veja as caras tão risonhas
Tão lindinhas, tão risonhas
Nos jornais, nas paredes, nas TVs

Eu não gosto desses dedos que me apontam
Eu não gosto dessas frases que me dizem
"O futuro deles está em suas mãos..."
Pois é seu Zé, sei não

Não esqueço que algum dia fui risonho
Com u'a carinha bonitinha pra valer
Quem guardou o meu futuro
Quem guardou o meu futuro
Quem guardou o meu futuro - me dê

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Texto do IDEC

EDUCAÇÃO E CONSUMO






10 de Dezembro de 2009

Manifesto contra a propaganda dirigida às crianças






Foi lançado oficialmente ontem (9) o manifesto "Publicidade Infantil Não", que visa fortalecer a luta pelo fim da comunicação mercadológica dirigida às crianças. A página é mantida pelo Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, e reúne assinaturas de cidadãos e de entidades que apoiam a causa, entre elas o Idec.

Como aponta o manifesto, a criança é hipervulnerável aos apelos das propagandas. Já que ainda estão em processo de desenvolvimento bio-físico e psíquico, os pequenos não possuem as habilidades necessárias para uma interpretação crítica dos inúmeros apelos mercadológicos com os quais são bombardeados diariamente na televisão, internet, entre outras mídias.

Por isso, os signatários do manifesto entendem que a publicidade infantil constitui prática antiética e abusiva e defendem que toda e qualquer comunicação mercadológica seja destinada somente aos adultos.

O Idec defende que as crianças sejam preservadas das artimanhas da propaganda, principalmente quando os artigos promovidos são prejudiciais à saúde, como é o caso de alimentos pouco nutritivos.

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Obs.: quando assinei já haviam mais de 3.000 assinaturas. O link é o seguinte:
http://www.publicidadeinfantilnao.org.br/

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Eleições bolivianas

Como são escassas as notícias sobre as eleições na Bolívia (será que é porque a vitória do Morales se anuncia como acachapante???), eu resolvi postar aqui um artigo da Tele Sur.

Eleições bolivianas


Resultados parciales dan a Evo Morales el triunfo con 47,8 % de los votos.

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 El presidente Evo Morales, se alza con 47 por ciento de los votos. (Foto:Efe)
El presidente Evo Morales, se alza con 47 por ciento de los votos. (Foto:Efe)

El presidente boliviano, Evo Morales, se mantuvo como favorito en la carrera electoral por la presidencia del país andino, con números que superaban el 50 por ciento, según encuestas previas. Los sondeos a boca de urna también le dieron un amplio margen, con 63 por ciento de favoritismo.



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Los primeros cómputos de las elecciones generales de Bolivia ofrecidos este martes por la Corte Nacional Electoral (CNE), ratifican la victoria del actual presidente, Evo Morales, con 47,8 por ciento de la preferencia, con tan sólo 20,6 por ciento de los votos escrutados.

Entretanto, el más cercano contrincante de Morales, el ex prefecto (gobernador) Manfred Reyes Villa, de Plan Progreso para Bolivia-Convergencia Nacional (PPB-CN), obtuvo 41,4 por ciento de apoyo según los datos ofrecidos por la CNE.

Mucho más abajo se ubican el empresario paceño, Samuel Doria Medina, abanderado por el partido Unidad Nacional (UN), con 6,7 puntos porcentuales; la Alianza Social (AS), del ex alcalde de Potosí René Joaquino, que cuenta con un 2,8, y cuatro listas restantes no alcanzan ni el uno por ciento.

Se prevé que los votos a favor del actual mandatario vayan en aumento a medida que se contabilizan los departamentos donde tiene más apoyo, como el caso del área rural o de los emigrantes que por primera vez han podido ejercer su voto desde España, Argentina, Brasil y Estados Unidos.

Los resultados a boca de urna, publicados el domingo, le dan a Evo Morales la victoria con 63 por ciento de la intención de voto. A Reyes Villa le asignan entre 23 y 27 por ciento de favoritismo.

La Constitución de Bolivia señala que un candidato accede directamente a la presidencia, si pasa el listón del 50 más un por ciento de los votos o llega al 40 por ciento de sufragios con una diferencia de 10 puntos sobre su inmediato seguidor.

Un total de 5 millones 138 mil 583 ciudadanos, cifra récord en la historia electoral del país, fueron convocados a las elecciones generales del pasado domingo donde el presidente Evo Morales optó a la reelección en pugna con otras siete candidaturas opositoras.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Aderimos à campanha do Blog do Mello...



O Grupo Folha não vê problema em expor uma ficha falsa da ministra da Casa Civil e candidata do presidente Lula a sua sucessão, Dilma Roussef, na primeira página de um domingo, acusando-a de participar de ações terroristas. Não vê problema também em abrir uma página inteira para Cesar Benjamim expor seus fantasmas político-sexuais (à espera de um Wilhelm Reich) e acusar o presidente Lula de estuprador. Acha também perfeitamente natural chamar de ditabranda a ditadura que sequestrou, torturou e matou inúmeros brasileiros. Mas a Folha e o UOL não gostam de virar vidraça.

O blogueiro Arles publicou uns banners em seu blog convidando os navegantes para que cancelassem suas assinaturas do ex-jornalão e do portal. Recebeu uma notificação para que os retirasse do ar. Eu já os havia reproduzido aqui no blog, com link para as imagens do Arles. Mas sou macaco velho e, embora não acreditasse que o Grupo Folha descesse a tanto, havia providenciado backup das imagens. As publico aqui, convocando-os para que façam o download delas para seus computadores e depois subam-nas para seus blogs ou redes sociais. Eles vão ter que notificar a blogosfera toda. Assim vão aprender que os tempos mudaram e não existe mais informação de mão única. Agora eles mandam de lá e nós respondemos de cá.

Versões de mim - Luís Fernando Veríssimo

Gosto tanto desse texto e já o contei tanto aos amigos, que resolvi publicá-lo aqui. A autoria é do Luís Fernando Veríssimo, e trata de uma questão muito interessante e que todo mundo, ou quase, já vivenciou. Refiro-me a aquela sensação que vez por outra nos assalta, de que se tivéssemos feito outra escolha diferente da que fizemos em um certo momento de nossas vidas estariamos melhor no presente. O tanto de alternativas que temos nos coloca numa espécie de labirinto, que por algumas vezes nos atordoa, e por outra nos angustia. Vamos ao texto:



Versões de mim

(Luís Fernando Veríssimo)


Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...
Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz - aliás, o nome do bar é Imaginário -, sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo. E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
- Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Eu sei, eu sei... - disse alguém sentado ao lado dele. Olhamos para o intrometido... Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me atirei... Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou:
- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio...
- E o que aconteceu? - perguntamos os três em uníssono.
- Lembra aquele avião da Varig que caiu na chegada em Paris?
- Você...
- Morri com 28 anos.
- Bem que tínhamos notado sua palidez.
- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...
- E ter levado o chute na cabeça...
- Foi melhor - continuei - ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado...
- Você deve estar brincando! - disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.
- Quem é você?
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público. Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra.
As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só
então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.
- Quem é você? - perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo...