sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Pontos de cultura





No nosso dia a dia temos tantos afazeres que muitas vezes ficamos impossibilitados de tomar conhecimento de coisas importantes que estão acontecendo na nossa sociedade. A essa quantidade de tarefas, soma-se o desinteresse dos meios de comunicação em dar destaque a uma pauta do bem. Cotidianemente esses meios nos brindam (bombardeiam, na verdade) com uma verdadeira "pauta do mal".
O Ministério da Cultura tem desenvolvido um trabalho muito interessante, primeiro com Gilberto Gil e agora com o Juca Ferreira, que articula cultura popular e economia solidária. Chama-se "ponto de cultura". Hoje já são em torno de 650 espalhados pelo Brasil. Eles são encontrados tanto nas periferias das grandes cidades, quanto em pequenas cidades. Além de articular cultura e cidadania, está em curso também o reconhecimento pelo Estado brasileiro de que esses fazeres são legítimos do ponto de vista da produção cultural brasileira. Isso quer dizer que tanto a "alta cultura" como a "cultura popular" são reconhecidas e financiadas pelo Estado. Cada ponto de cultura recebe apoio financeiro de até R$ 185.000,00 para ser utilizado conforme o projeto apreentado.
A articulação de cultura e cidadania gera importantes ganhos simbólicos e materiais para as comunidades detentoras dos saberes tradicionais. Isso é muito importante e gera inclusão social, pois muitas dessas comunidades estão em situação de risco social.
Para o economista Paul Singer, há muita cultura na economia soildária, e muita economia solidária na cultura. É preciso, no entanto, juntar essas pontas. Para ele, um novo Brasil está surgindo a partir da idealização dos "pontos de cultura".
Outro aspecto importante a ser observado nessa nova realidade legal que os pontos de cultura representam, é que durante outros momentos da história do Brasil, as culturas populares foram valorizadas sem que isso implicasse na valorização das comunidades que eram detentoras desses saberes. Quer dizer, valorizava-se os fazeres imateriais ao mesmo tempo que se desvalorizava os sujeitos portadores desses saberes. Foi assim na década de 1930 com Getúlio. Foi assim também na década de 1970 no regime militar através da Funarte. Pela primeira vez se tem uma política pública cuja ação valoriza o patrimônio imaterial ao mesmo tempo que se valoriza a comunidade detentora desses saberes.
Penso que só por isso a passagem do Gilberto Gil pelo ministério da cultura deveria ser saudada como de bom alvitre.

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=10568

Música na escola


A lei 11.769 que instituiu a obrigatoriedade da disciplina música no ensino básico brasileiro é quase uma unanimidade. Sem dúvida ela devolve aos estudantes brasileiros a possibilidade de um contato com a música mediado pela escola. Digo devolve porque até o início da década de 1970 ela era obrigatória, quando foi sumariamente suprimida pela ditadura militar sem nenhuma explicação.
Trinta anos depois a música volta à cena educacional como matéria, e inevitavelmente surge a pergunta: "que música ensinar nas escolas?" É verdade que os alunos do ensino fundamental, por exemplo, chegam à escola já com uma grande vivência musical. Isso não é novidade para ninguém. O que logo se coloca no horizonte das discussões é a questão do repertório. O campo da cultura é atravessado por clivagens que em última instância reproduz as clivagens e hierarquizações comuns a uma sociedade hierarquizadora e excludente.
Não é demais lembrar que a escola tal qual nós a conhecemos é herdeira dos ideais iluministas do século XVIII. Foi a partir da revolução francesa, no final desse século, que vai se instituindo o ensino universal. Ela é, então, na origem uma instituição burguesa, no que isso tem de bom e de ruim. A escola, dessa forma, não ficou fora das hierarquizações e raciocínios valorativos, que põe certos saberes acima de outros, ou até mesmo considerando determinados saberes como não-saberes.
Toda essa discussão vai transbordar para o âmbito da educação musical que se pretende instituir no ensino básico. Já avançamos muito, sem dúvida, mas não é absolutamente incomum encontrar educadores musicais que pensam que o seu papel é o de levar a verdadeira cultura - aquela que o sociólogo Pierre Bourdieu identificou com a cultura das altas classes - para as massas ignaras, carentes e indigentes culturais.
Assim como a disciplina história, por exemplo,não tem como finalidade formar historiadores, a música na escola também não tem como objetivo precípuo formar músicos profissionais. Dessa premissa surge como desdobramento uma segunda pergunta: "quem deve lecionar essa disciplina?" Parece óbvio que o profissional indicado para esse mister é o professor de música. Sim, mas quem é esse professor? Um músico profissional, por exemplo, poderá dar aula na escola regular? Me parece qur aulas no ensino básico. Isso me parece uma barbaridade. A não ser que a intenção da disciplina seja a de formar músicos, havendo aulas, portanto, de violão, sax, ,piano, etc. A intenção não é essa, claramente, sendo essa opção, portanto, um equívoco.
A professora e educadora Violeta Hemsy de Gainza, em prefácio do livro da também educadora Marisa Trench O. Fonterrada, nos alerta de que "a música, como a maior parte das disciplinas, deve ser ensinada por maneiras diretas, abertas, transversais e interdisciplinares, que permitam integrar os diferentes aspectos da pessoa, domundo, do conhecimento. Porque a música, como costumamos repetir, não pode continuar sendo considerada como uma atividade meramente estético, pois trata-se de uma experiência multidimensional, um direito humano, que deveria estar ao alcançe do todas as pessoas, a partir de seu nascimento, e por toda a vida."
É necessário que o quanto antes se inicie as discussões em torno da lei 11.769, sob pena de que a lei "não pegue", ou que a disciplina cumpra uma presença meramente figurativa.
A revista Carta Capital deu uma contribuição realizando um seminário em agosto passado com a presença de Tom Zé, Paulo Tatit e Sandra Peres e mais alguns educadores. A intenção era mesmo o de criar um ambiente de discussão para se explicite as diferenças e que se aponte caminhos. O link para a matéria segue abaixo:

http://www.cartanaescola.com.br/edicoes/40/sons-sussurros-e-batucadas/?searchterm=m%C3%BAsica

O que está por trás da ofensiva midiática contra o MST e a agricultura familiar?

O que está por trás da grande ofensiva reacionária do agronegócio e da mídia corporativa contra o MST e a agricultura familiar??? Recentemente os meios de comunicação veicularam uma pesquisa que tenta mostrar que os assentamentos são improdutivos e que as iniciativas tradicionais são inviáveis na contemporaneidade. Aliás, essa é a tese conservadora que tenta jogar água no moinho do agronegócio. Mas o que essa chamada grande imprensa não revelou - não por desconhecimento, certamente-, foi a pesquisa feita pelo IBGE, que evidencia números completamente diferentes dos do Ibope. Mesmo desprezando todos os ganhos sociais que a agricultura familiar representa impedindo o êxodo rural, etc., se constata um nível de produtividade muito maior do que o ldo agronegócio. Quando se coloca em perspecitiva os investimentos públicos, os impactos sobre o meio ambiente, entre outros aspectos, chega-se facimente a uma compreensão clara da situação. Não há mistério!
A artigo "O incômodo censo agropecuário" de Roberto Malvezzi, coloca os pingos nos "is", e nos dá a justa medida dessa situação. Ah, e quem quiser se divertir (se for possível) dê uma olhada no sítio eletrônico da "Confederação Nacional da Agricultura", esse antro do reacionarismo brasileiro, para ver as barbaridades que lá estão. Um verdadeirao festival de loucura e insanidade.
Segue abaixo o artigo do Malvezzi:




O Incômodo Censo Agropecuário, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)




Agricultura familiar emprega quase 75% da mão-de-obra no campo e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros, produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca e 58% do leite consumidos no país. Foto de Tamires Kopp

O último censo agropecuário trouxe verdades incômodas, que atiçaram a ira do agronegócio brasileiro. Afinal, a pobre agricultura familiar, com apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área agrícola, é responsável “por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café , 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo. A cultura com menor participação da agricultura familiar foi a soja (16%). O valor médio da produção anual da agricultura familiar foi de R$ 13,99 mil”, segundo o IBGE. Quando se fala em agricultura orgânica, chega a 80%. Além do mais, provou que tem peso econômico, sendo responsável por 10% do PIB Nacional.

Acontece que a agricultura familiar, além de ter menos terras, tem menos recurso público como suporte de suas atividades. Recebeu cerca de 13 bilhões de reais em 2008 contra cerca de 100 bilhões do agronegócio. Portanto, essa pobre, marginal e odiada agricultura tem peso econômico, social e uma sustentabilidade muito maior que os grandes empreendimentos. Retire os 100 bilhões de suporte público do agronegócio e veremos qual é realmente sua sustentabilidade, inclusive econômica. Retire as unidades familiares produtivas dos frangos e suínos e vamos ver o que sobra das grandes empresas que se alicerçam em sua produção.

Mas, a agricultura familiar continua perdendo espaço. A concentração da terra aumentou e diminuiu o espaço dos pequenos. A tendência, como dizem os cientistas, parece apontar para o desaparecimento dessas atividades agrícolas.

Porém, saber produzir comida é uma arte. Exige presença contínua, proximidade com as culturas, cuidado de artesão. O grande negócio não tem o “saber fazer” dessa agricultura de pequenos. E, bom que se diga, não se constrói uma cultura de agricultura de um dia para o outro. A Venezuela, dominada secularmente por latifúndios, não é auto suficiente em nenhum produto da cesta básica. Exporta petróleo para comprar comida. Chávez, ao chegar ao poder, insiste em criar um campesinato. Mas está difícil, já que a tradição é fundamental para haver uma geração de agricultores produtores de alimentos.

O Brasil ainda tem – cada vez menos – agricultores que tem a arte de plantar e produzir comida. No Norte e Nordeste mais a tradição negra e indígena. No sul e sudeste mais a tradição européia de italianos, alemães, polacos, etc. É preciso ainda considerar a presença japonesa na produção de hortifrutigranjeiros nos cinturões das grandes cidades.

Preservar esses agricultores é preservar o “saber fazer” de produtos alimentares. Se um dia eles desaparecerem, o povo brasileiro na sua totalidade sofrerá com essa ausência. Para que eles se mantenham no campo são necessárias políticas que os apóiem ostensivamente, inclusive com subsídio, como faz a Europa.

Do contrário, se dependermos do agronegócio, vamos comer soja, chupar cana e beber etanol.

Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, colaborador e articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 16/10/2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"A procissão fantasma"


Nós professores sempre nos lamentamos por uma certa "indigência" cultural de nossos alunos. Não sabem ler, não sabem escrever e por aí vai. Eu mesmo já constatei a dificuldade deles em lidar com isso que chama norma culta. A parte toda discussão que envolve essa questão danorma culta,etc., posso afirmar que é, muitas vezes, doloroso corrigir certos trabalhos que envolvem texto.
Por outro lado, é importante reconhecer que certos trabalhos são primorosos. Gostaria de nesse blog compartilhar um trabalho sobre folclore que desenvolvi com alunos de uma turma da noite, do Ciep Paulo Mendes Campos em Duque de Caxias. Neste trabalho eu solicitei aos alunos que escrevessem um texto no qual eles contassem sobre algum tipo de envolvimento com o folclore brasileiro. Valia tudo: histórias que ouviram quando crianças; brincadeiras de qualquer tipo; jogo de capoeira, etc.
Uma aluna, Paula Christina, da turma 903, me entregou o seguinte trabalho, que vou reproduzir exatamente como ela me entregou:


"Bem, professor. Certa vez, em uma confraternização familiar, começamos a falar sobre mitos e lendas.
Minha avó Maria então pediu para que todos se reunissem para ouvir a história que ela iria contar. Dizia ela que isso havia acontecido há muitos anos, quando ainda era jovem e ainda morava na "roça". A história era mais ou menos assim:

Era uma pequena cidade interiorana, onde todos se conheciam e se cumprimentavam ao se ver na rua. Um povo marcado pela simplicidade e pela religiosidade. E como de costume, uma vez por mês as famílias se reuniam para passar adiante as lendas contadas por seus antepassados.
Em nossa família a lenda contada é sobre a procissão fantasma.
Numa cidade onde todos se conhecem, não é difícil saber quando algo de alguém de novo aparece.
Todo ano, na noite de 13 de junho, passava uma procissão fantasma entoando cantigas e carregando coisas como: velas, cruzes e bandeiras.
muitos ouviam, mas ninguém tinha coragem de abrir uma janela ou porta para ver o que de fato era. E em muito pouco tempo, questão de minutos o silêncio voltava a reinar e apenas um clarão no céu iluminava as casas, e de repente não havia mais nada.
minha avó, uma jovem curiosa e destemida resoolveu querer descobrir quem ou o que são aquelas coisas que todos temiam na determinada noite do ano.
Ela apareceu anciosamente, e quando chegou o dia ela estava preparada era só esperar chegar a noite, exatamente meia a noite nem um minuto a mais e nem a menos.
enquanto todos dormiam ela sentou-se à sala e esperou. Quando foi aproximando a hora, o coração de minha vó apertou de medo, mas sua curiosidade falava mais alto.
Exatamente a meia noite as cantigas já podiam ser ouvidas, e a cada minuto parecia estar mais perto de sua casa.
Ela rapidamente foi até a janela, e quando avistou a chama das velas tomou coragem e abriu as janelas. Algo de inseperado aconteceu.
Havia uma mulher pálida de cabelos longos e escuros e seus olhos saltavam fogo. Ela estava segurando uma vela.
Minha avó ficou sem ação e não conseguia parar de olhar para a tal mulher e o restante da procissão. A mulher entregou a vela para minha avó e foi afastando-se e desaparecendo junto com a procissão, e a última coisa que minha avó viu foi um enorme clarão no céu. Enfim, quando tudo passou e ela iria fechar a janela, reparou que algo ainda mais estranho havia acontecido.
A vela que a mulher entregou tranformou-se em um osso na mão de minha avó que espantada arremesso longe, e correu para sua cama.
No outro dia ao acordar não viu mais aquele osso apenas uma roseira que havera nascido embaixo de sua janela.
Enfim, acredito que esse seja o fim da história, afinal eu era muito pequena e já não me recordo tão bem."

FIM!

Aluna: Paula Christina O. da Silva

Lula, o filho do Brasil

Trailer do filme "Lula, o filho do Brasil" de Fábio Barreto.
Gostem dele ou não, Lula representa uma síntese do povo brasileiro. Sua trajetória expressa a trajetória de milhões de brasileiros.



domingo, 11 de outubro de 2009

La nuit

Esta é uma pequena passagem de um filme francês cujo título em português é "a voz do coração". É um filme lindo e recomendo principalmente aos professores de música.





Vois Sur Ton Chemin