sábado, 5 de dezembro de 2009

Aderimos à campanha do Blog do Mello...



O Grupo Folha não vê problema em expor uma ficha falsa da ministra da Casa Civil e candidata do presidente Lula a sua sucessão, Dilma Roussef, na primeira página de um domingo, acusando-a de participar de ações terroristas. Não vê problema também em abrir uma página inteira para Cesar Benjamim expor seus fantasmas político-sexuais (à espera de um Wilhelm Reich) e acusar o presidente Lula de estuprador. Acha também perfeitamente natural chamar de ditabranda a ditadura que sequestrou, torturou e matou inúmeros brasileiros. Mas a Folha e o UOL não gostam de virar vidraça.

O blogueiro Arles publicou uns banners em seu blog convidando os navegantes para que cancelassem suas assinaturas do ex-jornalão e do portal. Recebeu uma notificação para que os retirasse do ar. Eu já os havia reproduzido aqui no blog, com link para as imagens do Arles. Mas sou macaco velho e, embora não acreditasse que o Grupo Folha descesse a tanto, havia providenciado backup das imagens. As publico aqui, convocando-os para que façam o download delas para seus computadores e depois subam-nas para seus blogs ou redes sociais. Eles vão ter que notificar a blogosfera toda. Assim vão aprender que os tempos mudaram e não existe mais informação de mão única. Agora eles mandam de lá e nós respondemos de cá.

Versões de mim - Luís Fernando Veríssimo

Gosto tanto desse texto e já o contei tanto aos amigos, que resolvi publicá-lo aqui. A autoria é do Luís Fernando Veríssimo, e trata de uma questão muito interessante e que todo mundo, ou quase, já vivenciou. Refiro-me a aquela sensação que vez por outra nos assalta, de que se tivéssemos feito outra escolha diferente da que fizemos em um certo momento de nossas vidas estariamos melhor no presente. O tanto de alternativas que temos nos coloca numa espécie de labirinto, que por algumas vezes nos atordoa, e por outra nos angustia. Vamos ao texto:



Versões de mim

(Luís Fernando Veríssimo)


Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que podíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste...
Agora mesmo, neste bar imaginário em que estou bebendo para esquecer o que não fiz - aliás, o nome do bar é Imaginário -, sentou um cara do meu lado direito e se apresentou:
- Eu sou você, se tivesse feito aquele teste no Botafogo. E ele tem mesmo a minha idade e a minha cara. E o mesmo desconsolo.
- Por que? Sua vida não foi melhor do que a minha?
- Durante um certo tempo, foi. Cheguei a titular. Cheguei à seleção. Fiz um grande contrato. Levava uma grande vida. Até que um dia...
- Eu sei, eu sei... - disse alguém sentado ao lado dele. Olhamos para o intrometido... Tinha a nossa idade e a nossa cara e não parecia mais feliz do que nós. Ele continuou:
- Você hesitou entre sair e não sair do gol. Não saiu, levou o único gol do jogo, caiu em desgraça, largou o futebol e foi ser um medíocre propagandista.
- Como é que você sabe?
- Eu sou você, se tivesse saído do gol. Não só peguei a bola como me mandei para o ataque com tanta perfeição que fizemos o gol da vitória. Fui considerado o herói do jogo. No jogo seguinte, hesitei entre me atirar nos pés de um atacante e não me atirar. Como era um herói, me atirei... Levei um chute na cabeça. Não pude ser mais nada. Nem propagandista. Ganho uma miséria do INSS e só faço isto: bebo e me queixo da vida. Se não tivesse ido nos pés do atacante...
- Ele chutaria para fora. Quem falou foi o outro sósia nosso, ao lado dele, que em seguida se apresentou:
- Eu sou você se não tivesse ido naquela bola. Não faria diferença. Não seria gol. Minha carreira continuou. Fiquei cada vez mais famoso, e com fama de sortudo também. Fui vendido para o futebol europeu, por uma fábula. O primeiro goleiro brasileiro a ir jogar na Europa. Embarquei com festa no Rio...
- E o que aconteceu? - perguntamos os três em uníssono.
- Lembra aquele avião da Varig que caiu na chegada em Paris?
- Você...
- Morri com 28 anos.
- Bem que tínhamos notado sua palidez.
- Pensando bem, foi melhor não fazer aquele teste no Botafogo...
- E ter levado o chute na cabeça...
- Foi melhor - continuei - ter ido fazer o concurso para o serviço público naquele dia. Ah, se eu tivesse passado...
- Você deve estar brincando! - disse alguém sentado a minha esquerda. Tinha a minha cara, mas parecia mais velho e desanimado.
- Quem é você?
- Eu sou você, se tivesse entrado para o serviço público. Vi que todas as banquetas do bar à esquerda dele estavam ocupadas por versões de mim no serviço público, uma mais desiludida do que a outra.
As conseqüências de anos de decisões erradas, alianças fracassadas, pequenas traições, promoções negadas e frustração. Olhei em volta. Eu lotava o bar. Todas as mesas estavam ocupadas por minhas alternativas e nenhuma parecia estar contente. Comentei com o barman que, no fim, quem estava com o melhor aspecto, ali, era eu mesmo. O barman fez que sim com a cabeça, tristemente. Só
então notei que ele também tinha a minha cara, só com mais rugas.
- Quem é você? - perguntei.
- Eu sou você, se tivesse casado com a Doralice.
- E...?
Ele não respondeu. Só fez um sinal, com o dedão virado para baixo...

Luiz, respeita Januário

Esta canção, "Respeita Januário", é um clássico do cancioneiro brasileiro, e quase todo mundo já sabe a sua história. Mas quem quiser ouví-la pela voz do próprio Luiz Gonzaga, que aliás é uma delícia de ouvir, poderá fazê-lo indo ao sítio eletrônico www.luizluagonzaga.com.br, ou clicando play aqui embaixo. Recomendo!





Mestre Lua... que saudade!!

Neste vídeo, o grande compositor brasileiro Luiz Gonzaga fala, junto com seu parceiro Humberto Teixeira, sobre a parceria dos dois e em especial sobre a criação dessa que podemos considerar uma das canções mais importantes do cancioneiro brasileiro: Asa Branca.



Lula lá... na Alemanha

Quem assistiu pela tv o encontro do presidente Lula com a chanceler Angela Merkel, deve ter percebido com que altivez o governo brasileiro se coloca nas discussões internacionais. Lula não foi grosseiro em nenhum momento, mas quando o assunto foi o Irã - lembrando que Lula recebeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad semana passada no Brasil - Lula foi veemente em afirmar que quem tem armas nucleares não tem moral para fazer reprimendas a quem quer que seja. Lula falou isso logo depois que a chanceler alemã se expressou de uma forma também veemente falando de uma forma como as vezes falamos com as crianças: " já estou perdendo a paciência". Lula foi enfático mostrando que o equilíbrio de forças internacionais está mudando.
Outra coisa: nossas tvs, nossos âncoras radioativos, quer dizer, radiofônicos não mencionaram os aplausos que Lula recebeu quando de sua palestra de mais de uma hora aos empresários alemães. Mas também não se poderia esperar outra coisa de uma imprensa que age sistematicamente como um partido político.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Coca-Cola es así: Abusos laborales, atentados ecológicos y persecución sindical

Resolvi publicar aqui no blog esse artigo do sítio "Observatorio de las Multinacionales en America Latina" sobre a coca-cola, pois creio que seja necessário ampliar o debate sobre política e relações de consumo. Não se trata apenas desta empresa, mas falo no sentido mais amplo do consumo. Creio que seja necessário politizar o consumo, e perceber nele um conjunto de práticas e valores associados, ou seja, quando você compra determinado produto, você está se associando a um conjunto de idéias e valores. Claro que as coisas não são automáticas, e sempre há margem para certos usos matreiros e rebeldes, como quer o historiador Michel de Certeau. Mas penso que seja importante saber o que se anda fazendo pelo mundo afora com relação a multinacional Coca-cola, e quais as acusações feitas a ela. Tenho certeza que muitas pessoas ao saber dos vínculos e práticas dessa empresa, pensariam mais antes de abrir uma garrafa edeste refrigerante. Vamos à matéria:







Coca-Cola es así: Abusos laborales, atentados ecológicos y persecución sindical

Marta Monasterio Martín

26 de abril de 2007

“Una Coca-Cola y una sonrisa, la vida se ilumina, una Coca-Cola para compartir, así quiero ser, yo quiero ver al mundo entero sonreír también... ¡Coca-Cola!”. Más que la cuña de un anuncio, ésta es la melodía de un juego infantil que las niñas de hace una década entonaban en sus recreos. Es una muestra de lo que Coca-Cola Company, la empresa fabricante de refrescos, se propuso hacer desde que naciera hace 120 años y de lo que todavía hoy sigue haciendo con mucho éxito. Porque más allá de que la Coca-Cola sea un simple refresco, su nombre se ha constituido en un logo con entidad propia, en una imagen global, muchos dirían incluso que en un estilo de vida. No en vano, este gigante empresarial invierte un cuarto de sus beneficios anuales (cerca de 5.000 millones de dólares en 2003) en publicidad para transmitir una imagen limpia, social y verde; y para convencer de que su refresco tiene un sabor único, una receta mágica, y un valor altamente refrescante y saludable.

Pero en la historia del refresco más conocido del mundo no todo son sonrisas. La multinacional hace frente a constantes denuncias, escándalos y juicios sobre violaciones de derechos humanos, laborales y ecológicos. Ahora, su márketing tiene que contrarrestar la mala publicidad que le da, por ejemplo, ser nombrada una de las diez peores empresas del mundo, galardón que le adjudicó la Multinational Monitor en 2001 y 2004.

La fórmula secreta

Coca-Cola ha construido un imperio comercial a nivel planetario: vende cerca de 400 marcas de bebidas (entre refrescos, agua, zumos, té y café) en más de 200 países, controlando el 50% del mercado mundial de gaseosas. Sus beneficios en 2005 alcanzaron los 15.000 millones de dólares. Y cada día se beben en todo el mundo más de mil millones de latas o botellas de Coca- Cola, 12.500 cada segundo.

La fórmula: uno, ser la empresa que más dinero se ha gastado en la historia en publicidad; dos, rodearse de poderosos aliados, tanto de lobbies empresariales como de la clase política (en 2004 Coca-Cola Company y Coca-Cola Enterprise donaron 550.000 dólares para la campaña electoral estadounidense: un 70% para el partido republicano y un 30% para el demócrata); y tres, delegar toda la responsabilidad social a sus empresas subcontratadas (embotelladoras y distribuidoras) sin asumir las acciones realizadas por éstas ni establecer códigos de conducta.

Los abusos y violaciones de derechos humanos y laborales se denuncian en escenarios diversos. Como describe el Observatorio de Corporaciones Transnacionales IDEAS, la compañía es criticada “por su política de reducción de costes a base de la subcontratación de mano de obra, la eliminación de las organizaciones sindicales y la concentración de la producción en un número mínimo de envasadoras”. Por ejemplo, en la planta de Auburndale (Florida) los salarios están por muy por debajo de lo que se paga en el sector, no existen planes de pensiones y el seguro sanitario es cuatro veces más caro que el de otras empresas. Además, los contratos temporales están eliminando a los indefinidos (en 2005 fueron sustituidos un 24%) y no tienen seguro sanitario. A estas denuncias se suman las de acosos a sindicalistas. Tanto directa o indirectamente, se acusa a Coca-Cola de intimidar, amenazar, extorsionar e incluso asesinar a sus trabajadores. Algunos ejemplos: en Turquía 14 transportistas de la empresa y sus familias denunciaron en 2005 haber sido intimidados y torturados a manos de una rama especial de la policía por orden de Coca- Cola; en Punjab, Pakistán, los trabajadores fueron despedidos en 2001 por protestar por la falta de personal (y posteriormente readmitidos por orden judicial); en Nicaragua, el Sindicato Único de Trabajadores de la Empresa de Coca-Cola denunció en 2005 que a sus empleados de la embotelladora de Coca-Cola PANAMCO se les negó el derecho a organizarse, amenazó y despidió ilegalmente.

Asesinatos de sindicalistas

El caso de Colombia es de una crudeza especial. El Sindicato Nacional de Trabajadores de la Industria Alimentaria de Colombia (SINALTRAINAL) denuncia que la empresa Coca-Cola intimida y tortura a sus sindicalistas mediante escuadrones de la muerte a través de sus envasadoras subcontratadas. Desde 1990, ocho empleados de las embotelladoras de Coca-Cola han sido asesinados por los paramilitares, 48 trabajadores se han visto obligados a esconderse y otros 65 han recibido amenazas de muerte.

Por otro lado, se multiplican las protestas sobre los delitos ecológicos de la multinacional y sobre la insostenibilidad de sus envases. Para producir un litro de Coca- Cola se necesitan tres litros de agua, lo que ha empujado a la empresa a controlar acuíferos en todo el mundo. Estas reservas subterráneas pueden ser de varios kilómetros cuadrados y a veces constituyen recursos vitales para muchas comunidades. Es el caso de la India (en Estados como Kerala y Rajastán), donde Coca-Cola ha sido acusada de causar el desabastecimiento de agua en zonas ya castigadas por la sequía, provocando la deshidratación de las comunidades, la sequía de los pozos y la destrucción de la agricultura local. Por ejemplo, en la comunidad de Plachimada en Kerala, Coca-Cola extrajo 1,5 millones de agua subterránea, siendo acusada por las comunidades colindantes no sólo de agotar sino también de contaminar el agua en la zona. En esta línea, también en Panamá han sufrido la contaminación del agua a causa de las actividades de las plantas embotelladoras: en 2003 Coca-Cola fue condenada a pagar una multa de 300.000 dólares por contaminar el río Matasnillo y la bahía de Panamá con 1,5 metros cúbicos de tinte rojo, el utilizado en la producción de sus zumos de frutas.

Además, los envases de un solo uso suponen un grave problema ecológico mundial por la cantidad de residuos sólidos que producen, más aún si se trata de latas de aluminio (lo que corresponde al 34% de sus productos en el Estado español), por ser uno de los procesos industriales más contaminantes o de botellas de plástico no recicladas.

¿El principio del fin?

El imperio Coca-Cola también encuentra oposición en todos los rincones. Los eventos que la empresa organiza y patrocina (como la FIFA o los Juegos Olímpicos de Invierno de 2006), en los que muestra su cara más sana y amable, son ensombrecidos por manifestaciones y protestas ciudadanas. Los informes de ONG y movimientos sociales denunciando “la otra cara” de Coca-Cola también se publican por todo el mundo; y las acciones de protesta y boicot contra sus productos crecen, provocando no sólo un daño en la imagen de la marca sino también consecuencias reales a sus cuentas. Porque Coca-Cola ha perdido contratos de ventas en al menos cinco universidades estadounidenses, entre ellas la Universidad de Michigan y la Universidad de Nueva York, donde se ha prohibido la venta de sus productos por los abusos cometidos en Colombia y la India. En este país, la multinacional ha visto cómo se cerraba una planta envasadora a causa de la presión de movimientos campesinos y de mujeres. También en Europa encontramos ejemplos: la Red Italiana del Nuevo Municipio, que engloba a más de cien municipios, ha excluido la presencia de productos Coca-Cola de todos los distribuidores en la Administración, escuelas, institutos y comedores. Por todas partes surgen personas, redes ciudadanas, municipios, foros y caravanas que optan por otro tipo de consumo y que se han propuesto no ponerle las cosas fáciles a Coca-Cola. La lista continúa y es larga.

Marta Monasterio Martín

Entrevista com o ministro Tarso Genro

O ministro da justiça, Tarso Genro, deu uma longa entrevista a revista virtual Carta Maior (link abaixo). Nesta entrevista o ministro fala do caso Battisti e das várias questões nele embutidas. Fala, por exemplo, da tentativa do Supremo Tribunal Federal de "capturar" os direitos do executivo de legislar sobre a outorga de refúgio político. Ele afirma que a decisão em matéria de refúgio é do poder executivo, e que a pretexto de se analisar um ato administrativo, o STF avançou sobre esse direito tentando decidir o que não era de sua competência.
Genro analisa também o papel da imprensa em toda essa discussão e aponta a parcialidade com que a mesma tratou o caso. Fala da omissão de determinados fatos recentes, como o refúgio dado pelo governo brasileiro a "guerrilheiros" bolivianos de direita que após a tentativa de golpe na Bolívia se instalaram no Brasil. Em seu ponto de vista a imprensa não tocou nesse assunto porque mencioná-lo esvaziaria a tese, majoritária na mídia, de que o governo brasileiro se esforçava em dar asilo a Battisti por ser este um militante de esquerda, identificado ideologicamente com os integrantes do governo brasileiro atual. Essa tese, segundo Genro, tenta ignorar a tradição brasileira em dar refúgio político aos que se enquadram nessa perspectiva.
Vale a pena ler a entrevista do ministro:

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16255&boletim_id=619&componente_id=10348

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A queridinha da mídia para assuntos de terra no Brasil...

Ultimamente os ataques ao MST por parte da mídia é uma constante. Chegou ao ponto do âncora da Band news, Ricardo Boechat, tentar fazer uma "meia sola", dizendo coisas do tipo: "nem tanto ao mar nem tanto a terra, pois se de um lado o pessoal do MST não é terrorista, como diz parte da mídia; o pessoal do CNA também não é do mal, como afirma o MST.
Mas os que praticam o ataque sistemático ao MST, defendendo uma CPI e coisa e tal, não responde as indagações feitas pela Comissão Pastoral da Terra: por que os ruralistas do congresso nacional encastelados na famigerada bancada ruralista não faz andar a CPI do trabalho escravo? Acho que a resposta é por demais óbvia para que me ocupe dela aqui. Leiam essa matéria abaixo e saibam mais um pouco sobre a senadora Kátia Abreu, a musa (será que dá pra chamar assim?) da bancada ruralista. São informações que nós não teríamos acesso através dos grandes meios de comunicação.



Golpe de Kátia Abreu: uma história de estarrecer

1 de dezembro de 2009

Do Conversa Afiada

A propósito de uma reportagem que Leandro Fortes publicou na Carta Capital, o Conversa Afiada publicou o seguinte post: “Kátia, que é inimiga do MST e quer derrubar governadora compra terra no grito e não planta nada”.

Ontem, por telefone, Paulo Henrique Amorim entrevistou o pequeno proprietário rural Juarez Vieira Reis, de Campos Limpos, Tocantins.

Juarez reafirmou que a união do poder Executivo e do Judiciário de Tocantins o obrigou a abandonar as terras em que vivia com a família desde 1955, sem receber um tostão.

O beneficiário da intervenção foi a então deputada e presidente da associação rural de Tocantins, a hoje senadora Kátia Abreu, que tenta prender o João Pedro Stedile e depor a governadora do Pará.

A Senadora se apropriou das terras, embora tenha ido à casa de Juarez e prometido que não faria nada para prejudicar a família.

Juarez venceu em todas as etapas do Judiciário, mas não consegue reaver as terras.

Ele demonstrou que os documentos que atestavam a sua propriedade – o usucapião – eram legítimos.

A certa altura, uma autoridade disse que ele tinha tomado aquelas terras e Juarez respondeu: “nunca vi pobre tomar terra de rico”.

Enquanto isso, a Senadora não planta no local um pé de feijão.

Juarez calcula que a Senadora, com a desapropriação ilegal, tenha se apossado de 3 mil hectares de terra, num platô da Serra Geral.

Juarez mencionou que, no último sábado, conversou com o Senador João Ribeiro, do PR de Tocantins, e denunciou a injustiça de que é vítima.

Paulo Henrique Amorim conversou ontem à noite com o senador João Ribeiro, por telefone.

Ribeiro confirmou que esteve com Juarez numa solenidade de entrega de 100 títulos, em companhia do Senador Eliomar Quintanilha, hoje Secretário de Educação de Tocantins, e José Augusto Pugliesi, Presidente do Instituto de Terra do Tocantins.

Que, de fato, conversou com Juarez.

“Um homem simples”, disse o Senador.

“É uma história de estarrecer!”, disse João Ribeiro.

“Foi um processo brutal (de desapropriação)”, disse.

O Senador anunciou que vai conversar com o Governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB) para apurar como foi essa desapropriação das terras de Juarez e ver o que é possível fazer, dentro da Lei.

“Precisamos ver se a terra é ou era dela. É uma história de estarrecer. E ela (Senadora Kátia) não produziu nada: um pé de feijão!”, concluiu o Senador João Ribeiro.

domingo, 29 de novembro de 2009

Quando a mídia perdeu o Rumo


Há uma dívida histórica da mídia, e em particular da mídia que lida com música, no que diz respeito a obra de um certo grupo paulista da década de 1980. O grupo ao qual me refiro chama-se “Rumo”. Certamente alguns leitores dessa coluna sabem do que estou falando, mas infelizmente a maioria das pessoas que gostam de música não teve a oportunidade de ouvir e analisar o que representou no cenário da canção popular, o aparecimento do grupo.
Após o surgimento da bossa nova no final da década de 1950 e do tropicalismo, na década seguinte, a grande inflexão da canção popular, a meu ver, ficou por conta das criações do mentor intelectual do grupo, Luiz Tatit. Obviamente ocorreram outras tentativas estéticas, como a protagonizada por Arrigo Barnabé, que chegou a ser saudado como o grande inovador da canção, ali pelos inícios da década de 1980, quando lançou o lp “Clara crocodilo”. Sim, certamente foi uma investida e tanto a do Arrigo, tentando lançar mão de elementos da chamada música de vanguarda. O resultado foi bem interessante, e mesmo hoje as canções desse disco devem soar estranhas para muitos ouvintes desavisados.
Mas o vôo de Arrigo foi curto, o que não aconteceu com o do pessoal do Rumo. Em síntese, podemos dizer que a ambição do mentor intelectual do grupo, o Luiz Tatit, era de produzir uma canção que de certa forma se ligasse a uma origem da canção. Um canto falado, no qual a linha melódica seria uma espécie de moldura para o texto. O canto falado não era uma invenção do Tatit, mas o modo como isso foi feito é que distingue o trabalho do grupo. Essa linha melódica diferenciada precisava para seu acompanhamento uma “harmonização” também diferenciada, e é aí que surge o violão do Tatit tocado de uma forma sui generis. Certa vez, o próprio Tatit declarou em uma entrevista que no passado tentou fazer aula de violão, mas sentiu muita dificuldade. Ao invés de desistir de tocar, inventou outra forma totalmente pessoal. E esse “violão” coube certinho nas criações que veio posteriormente a fazer.
É impossível, caro leitor, descrever como esse violão é tocado. É necessário ouvi-lo para perceber toda sua estranheza e toda a sua profundidade. A primeira vez que eu ouvi, senti de cara que se tratava de uma forma de tocar que não tinha nada a ver com a tradição violonística brasileira. Não era o violão de Baden, não era o violão de João Gilberto, enfim... Era o violão de Luiz Tatit, simples.
As letras das canções são também dignas de nota, pois ocorre nelas um rebuscamento e um potencial informativo de maior qualidade. Seria impossível aqui, por absoluta falta de espaço, desenvolver uma análise sobre esse aspecto das canções do grupo, mas vamos brevemente tratar de uma canção em especial. Trata-se da canção “Saudade moderna”. Diz a letra: “uma saudade / é do tempo em que andávamos juntos / era um verdadeiro temporal / mas estávamos sempre juntos / outra saudade era do tempo em que nem te conhecia / e simplesmente eu desejava estar sozinho / era tão bom, era tão calmo, era tão feliz / Uma terceira saudade é completamente inesperada para mim / ela pega um tempo que absolutamente não vivi / nessa saudade não tem você, não tem ninguém, não tem recordação (...) ela incide sobre um tempo que não cabe na história / ela escapa da consciência e se projeta pra fora.
O narrador trata de três tipos de saudades. As duas primeiras são saudades tradicionais, ou seja, saudade de um tempo e um espaço específico. Mas a terceira saudade, que ele chama de moderna, tem uma característica especial, ela não se refere a um tempo ou um espaço determinados. Ela vem de dentro pra fora, ou seja, o espaço ao qual a saudade se refere não é um espaço objetivo, mas um espaço subjetivo. É um tempo que não cabe na história, portanto não é um tempo histórico, e sim um tempo do sujeito, um fluxo temporal interno. Ela ocorre, ao contrário da saudade tradicional, primeiramente na consciência e depois é que se projeta pra fora, invertendo completamente a rota. Este texto é quase uma tese de doutorado.
Ao todo, o Rumo lançou seis discos, estreando em 1981 com o lp intitulado simplesmente como “rumo”, e encerrando suas atividades em 1991 com um disco ao vivo. Há também um DVD lançado em 2006 pela TV cultura de São Paulo. Do grupo saíram a cantora Na Ozzetti (já apontada como uma das maiores cantoras da atualidade); o próprio Luiz Tatit, que desenvolve um trabalho solo e Paulo Tatit, seu irmão, que desenvolve um trabalho de música infantil através do selo “palavra cantada”.
Fica aqui então, a crítica explícita ao silêncio da mídia especializada, que não teve a devida percepção para reconhecer no grupo paulista uma das maiores inflexões da canção popular dos últimos tempos. Registre-se também aqui o papel de sonegação de informação praticado pela mídia radiofônica, que impossibilitou a um número enorme de pessoas de terem acesso a este precioso trabalho.