sábado, 29 de maio de 2010

O meu capitão não aceita a ordem de matar!

O texto abaixo foi escrito para o site do grupo Tortura Nunca Mais. Essa é uma das histórias que devem ser contadas aos mais jovens, para que se tenha sempre em mente até onde um regime autoritário pode chegar. Logo em seguida do texto segue um vídeo com uma música, que me parece ser de autoria do Chico Buarque. Quem canta é o próprio Chico com a Joyce. e é uma gravação da década de 1980. Já perguntei a várias pessoas se conheciam essa música e muitos me responderam que não. Então é uma boa ocasião para conhecer.

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  Era uma vez um homem, um militar completo, um herói que vivia na selva, comandando o PARASAR, abrindo fronteiras e salvando vidas. A selva era a sua casa, com tamanha desenvoltura que lhe valeu o apelido carinhoso de “macaco” entre seus companheiros. Os índios o chamavam de Nhambiguá Caraíba, homem branco bom. Seu nome era Sérgio e era capitão, quando o mal lhe cruzou o caminho. 
  A Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, guerreiro sem medo, pediram que matasse inocentes, que derramasse sangue. Um brigadeiro assassino ordenou-lhe que explodisse um gasômetro, trucidasse estudantes, atentados terroristas que desencadeariam um verdadeiro massacre em resposta a um suposto golpe atribuído a “comunistas”.

   A proposta desse assassino fardado não era nova nem original. Já funcionara na Alemanha, sob o nazismo, quando atrocidades inomináveis foram cometidas e justificadas por militares e civis sob a alegação de estar apenas “cumprindo ordens”.

Sergio era de outra estirpe. Com a coragem, determinação e desassombro de quem tem alma e caráter disse não ao criminoso e evitou o que poderia ter sido a maior tragédia humana de nossa História. A ira dos criminosos no poder caiu sobre ele como um raio. Tiraram-lhe quase tudo. Não adiantou figuras históricas como o Brigadeiro Eduardo Gomes, lutarem por ele e tomarem a sua defesa. O arbítrio e o crime mandavam naquele triste Brasil dos anos de chumbo.

Sérgio perdeu a farda, o trabalho e a alegria. Só não puderam quebrar sua integridade e honra, sua firmeza de homem e soldado, um soldado que dizia preferir a pior das democracias à melhor das ditaduras.

Sérgio jamais pleiteou anistia por considerar que anistia é esquecimento, perdão, e julgava – com absoluta razão – que seu gesto de resistência, sua desobediência a uma ordem criminosa eram exemplos a serem seguidos.

Exemplos de predomínio do bem e da consciência sobre o crime e a cegueira. Se ao longo da história, tivéssemos tido mais Sérgios quantos crimes não teriam sido evitados?

Só os grandes homens tem coragem de resistir como ele resistiu. Sergio lutou incansavelmente e até o final de sua vida pela justiça que lhe era divida. Foi derrotado pela doença e morreu sem poder ver a sua vitória, devido à pequenez de um presidente da república: Itamar Franco, que – mesmo sabendo que o capitão estava ferido de morte, acometido de um câncer terminal – e tendo o decreto promovendo-o a brigadeiro sobre a sua mesa, esperou a morte do herói para assiná-lo. Tal é a pequenez de alguns homens deste grande país.

É este grande homem, Sérgio, este brasileiro ímpar, este companheiro de todos nós que estamos homenageando aqui hoje. Homens como o brigadeiro Sergio Ribeiro Miranda de Carvalho, o imortal Sérgio Macaco, estarão para sempre vivos nos corações e mentes da nação brasileira. Saudemos o glorioso capitão da vida. Capitão Sérgio Presente!

Fritz Utzeri

Correspondência com o professor Marcos Bagno

 Postei abaixo uma mensagem sobre a exposição "Menas - o certo do errado e o errado do certo". Disse também que um dos prinicipais formuladores desse modo de entender e denunciar os chamados preconceitos linguísticos, é o professor Marcos Bagno. Há algum tempo atrás tive o prazer de me corresponder, ainda que brevemente, com essa figura admirável, e resolvi postar a conversa aqui no blog.
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Prezado Marcos Bagno,

 Só hoje, 23 de fevereiro de 2008, pude ler sua carta à revista Veja de 2001. Infelizmente meu talento litarário não me possibilita traduzir o prazer e a emoção que senti em ler seu arrazoado pondo a discussão da norma culta em uma perspectiva verdadeiramente crítica. Há poucos meses começei a ler o seu belo livro " A norma (o)culta", mas nem pude terminá-lo porque uma amiga que trabalha com saúde e educação me pediu de empréstimo e ainda aguardo a devolução. Pretendo, assim que possível, terminá-lo e começar a leitura de outros livros seus.
 Trabalho com Educação Musical nas redes públicas do Rio de janeiro e de Duque de Caxias, na baixada fluminense. Encontrei no seu trabalho muita inspiração para desenvolver minha prática educativa  e minha luta contra os preconceitos que, assim como no campo linguístico, se multiplicam no campo da música. Estou organizando uma oficina intitulada: "O ser e o som: Ecologia, Linguagem e Invenção na Educação Musical", voltada para professores da rede pública de Duque de Caxias. Alguns de seus livros estão na bibliografia que indico aos professores.
 Sem querer tomar mais o seu tempo, eu me despeço parabenizando-o mais uma vez por emprestar o seu brilhantismo às boas causas do nosso tempo.
 Um forte abraço desse seu sincero admirador,
 Ricardo Moreno de Melo

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Caro colega Ricardo,
é muito bom abrir a caixa postal numa manhã nublada de domingo e encontrar uma mensagem tão estimulante quanto a sua. Fico sempre muito contente quando recebo reações de pessoas que atuam em outras áreas que não especificamente a das Letras. Isso mostra que os problemas que tento debater afetam a vida das pessoas de modo muito mais amplo.
Por coincidência, este mês saiu uma grande entrevista minha na revista Caros Amigos (com foto na capa e tudo!). Como é uma revista que se sustenta pelo trabalho dos próprios jornalistas, tentando manter uma linha indepedente da grande mídia (vinculada ao poder nacional e internacional), faço a divulgação para ajudar a preservar esse importante projeto. Conto com a sua colaboração.
Boa sorte em seus projetos e um abraço do

Marcos Bagno – Universidade de Brasília
www.marcosbagno.com.br

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Prezado Professor Marcos Magno,

 Foi também com muita prazer que recebi a sua resposta. Quanto à revista Caros Amigos eu já estou ciente que ela traz este mês uma entrevista com o senhor. Já fiz, inclusive, a divulgação da mesma, e espero ansiosamente que chegue amanhã para que eu possa comprá-la.
 Gostaria de lhe contar, sem querer tomar demasiadamente o seu tempo, um pequeno acontecimento ocorrido em uma escola em que trabalho. Certo dia eu estava finalizando meu trabalho em uma escola, e ouvi duas professoras do primeiro segmento conversando sobre um determinado aluno que falava "tudo errado". Naquele momento eu estava no meio da leitura do seu livro "A norma (o) culta", e não pude deixar de perceber que as referidas professoras estavam, como é de certa forma um costume entre professores, rindo dos supostos "erros" do garoto. Com todo cuidado eu me intrometi na conversa delas e tentei relativizar aquilo que seriam os "erros" do garoto. Para dar um tom mais relaxado a conversa falei para ela de uma história que ouvi sobre um certo poeta nordestino chamado Zé da Luz (nome ótimo para poeta, não acha?). Disse para elas que o tal poeta tinha sido informado que poesia era coisa para gente "culta", "inteligente", em suma, para gente que "sabe escrever". Foi  daí que o poeta escreveu a deliciosa peça "ai se sesse". Creio que o senhor conheça essa poesia, de todo modo transcrevo-a abaixo.
 Tentei dessa forma chamar a atenção das professoras para as "variedades dialetais", e para a necessidade dos professores entenderem sua posição de mediadores culturais, e não meros instrutores de normas. Sei que essas coisas são difíceis e que tomadas de consciência são processos que às vezes demoram. Mas não pude deixar de tentar interferir naquele momento.
 Bom, creio que  já tomei demais o seu tempo e acrescento apenas que é um prazer dialogar com uma personalidade tão inspiradora e fecunda como o senhor.
 Um abraço!
 Ricardo Moreno de Melo

Ai Se Sêsse

Composição: Zé Da Luz
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arruminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Talvez que nois dois ficasse
Talvez que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse.
 

Menas - o certo do errado e o errado do certo

 Ganha cada vez mais visibilidade, ao menos em certos setores mais arejados, a idéia de que os "erros de português" cometidos principalmente pelas camadas mais baixas da população brasileira devem ser colocados em uma perspectiva crítica. Isto quer dizer que eles, os erros, têem de ser vistos sob o prisma da história, das relações de força que operam na sociedade, etc. Essa perspectiva não é tão recente quanto parece. Ela já está no livro de Bourdieu "Economia das trocas linguísticas". 
 O professor da UNB Marcos Bagno tem sido um dos mais aguerridos intelectuais que atuam na defesa dessa perpectiva. Claro que não é o único, mas tem se destacado nos debates sobre o tema. Ele escreveu vários livros sobre o assunto: "A norma (o) culta" ; "Não é errado falar assim: em defesa do português brasileiro" e "Preconceito linguístico: o que é, como se faz".
 Nessa perspectiva então, o Museu da Língua Portugêsa, em São Paulo, está realizando uma exposição intiulada "Menas - o certo do errado e o errado do certo" . Se não for possível vê-la de perto, ao menos podemos dar uma "navegada" pela site da exposição. O link segue abaixo:

http://www.poiesis.org.br/mlp/expo/menas/index.html

Resposta da candidata Dilma

Resposta da candidata Dilma Roussef às tolices proferidas pelo candidato da moderna direita brasileira (digo moderna para a contrapor à direita antiga: Arena, PFL, DEM), quando chamou o governo da Bolívia de sócio do narcotráfico.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ainda sobre as "denúncias" de José Serra

 O amigo e fotógrafo Antonio Augusto Fontes me enviou este pequeno texto que complementa a postagem que fiz sobre as declarações do candidato José Serra sobre Evo Morales.
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Bastante interessante essa denúncia do Serra sobre o Morales. Se um internauta curioso digitar no google as palavras "narco presidente" poderá se surpreender com cerca de um pouco mais de 64.000 referências ao Álvaro Uribe e sua famiglia. Curiosamente não se vê nenhuma referência a qualquer outro presidente no mundo além do Sr. Uribe. A pesquisa revelará também a folha corrida do pai, Alberto Uribe que era braço direito do megatraficante Pablo Escobar e que teve sua extradição decretada pelo governo americano. Só a influência do filho poderoso conseguiu sustar a extradição. O avô também era ligado ao narcotráfico assim como grande parte dessa oligarquia colombiana que apoia o governo Uribe e sua política de aliança com o exército americano para "combater o narcotráfico". Nem Kafka faria melhor!...
   Acho que vivemos em tempos surrealistas!

 Abs.

A.A.

proyecto censurado

    Enviarei este link abaixo para alguns colunistas da mídia brasileira, tais como Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor e Fernando Mitri, entre outros, sempre tão ciosos na defesa de liberdade de imprensa. Isto porque o link abaixo remete para o site de um projeto chamado "proyecto censurado", cujo foco está em relacionar notícias que são sistematicamente boicotadas pelos grandes meios de comunicação. Evidentemente esses citados articulistas acima não conhecem o projeto, pois se conhecessem já teriam lhe dado visibilidade, uma vez que são ardorosos defensores da liberdade de expressão. Recentemente a notícia "censurada" dizia respeito a Venezuela de Chávez, personagem tão do agrado da grande imprensa. A notícia dá conta de que os acordos da Venezuela com Cuba no campo da saúde, tem dado resultados muito positivos. O programa "Barrio adentro", por exemplo, oferece serviços de qualidade e gratuitos para amplas parcelas da população pobre do país. A notícia também assinala que levando-se em conta o coeficiente Gini (parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países) a Venezuela é o país com menor desigualdade do continente latino-americano.
 Segue abaixo os links para a matéria completa, e também um link para o site do "proyecto censurado":


Até onde chega a irresponsabilidade de um candidato?

     Bastou que as pesquisas começassem a apontar a vitória da candidata do PT, Dilma Roussef, pra que o candidato do psdb mudasse o seu figurino eleitoral, e partisse para um perfil mais "agressivo". Mas quem conhece esse candidato sabe que seu perfil é do tipo "sair atropelando" mesmo, afinal não foi outra coisa que ele fez com o Aécio. Segundo se fala em Brasília o Serra "passou o rodo" no pré-candidato das Minas Gerais dissuadindo-o com ameaças de revelar um suposto envolvimento de Aécio com cocaína. Mas o que eu queria comentar mesmo é a falta de respeito, de tato político e outras coisas mais, no caso em que Serra declarou (dia 26 de maio) que o governo boliviano é cúmplice do narcotráfico naquele país. É patente a estupidez do candidato, pois seria normal e de bom tom dizer que o estado de São Paulo é cúmplice do PCC, e que portanto é um narco-governo pelo simples fato de que o governo do estado não consegue debelar os grupos armados? O mesmo se poderia dizer do Rio de Janeiro também? Agora imaginem a situação (que o povo brasileiro com certeza não permitirá que aconteça) do Serra vir a ser presidente do Brasil. Como ficariam as relações diplomáticas entre Brasil e Bolívia? Esse episódio levou o O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia a definir o tucano como “o exterminador do futuro da política externa” do país.
   Mas é bom que o candidato mostre bem o seu perfil e que encaminhe seu discurso para um campo mais ideológico, pois aí as coisas vão ficando ainda mais claras.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Barbárie e modernidade

O professor e pesquisador Michael Löwy publicou recentemente um belo artigo sobre as tendências bárbaras inerentes à modernidade. Logo de início ele trabalha com duas definições do que seja bárbaro: falta de civilização e agressividade cruel. Pensando nessa última definição ele reflete que a história do século 20 nos obriga em uma “barbárie civilizada”. O "processo civilizador", como definiu Norbert Elias, tem em um de seus aspectos mais importantes, o monopólio da violência pelo estado. Esse monopólio impediria que agíssemos "barbaramente" uns contra os outros no sentido de resolvermos nossas diferenças através da violênicia. Mas o problema é que esse monopólio facultou ao estado um poder descomunal, e isto somado aos aportes tecnológicos potencializou a crueldade e a agressividade. Diz ele que "Se nós nos referimos ao segundo sentido da palavra “bárbaro” -atos cruéis, desumanos, a produção deliberada de sofrimento e a morte deliberada de não-combatentes (em particular, crianças)- nenhum século na história conheceu manifestações de barbárie tão extensas, tão massivas e tão sistemáticas quanto o século XX".
 Na sequência Löwy utiliza Rosa de Luxemburgo e Kafka para demonstrar como a modernidade se erige sob o signo da crueldade e da barbárie, agora não mais entendido o termo bárbaro como aquele que se encontra fora dos limites da civilização, mas ao contrário: o "bárbaro civilizado".
 Para ler o artigo na íntegra, é só seguir o link abaixo:

Uma noite em 67

 Está marcado para o dia 30 de julho o lançamento do filme "uma noite em 67", sobre o festival daquele ano. É mais um documentário sobre música popular brasileira. Quem viu o filme no festival "é tudo verdade", diz que é um belo filme. Abaixo o link para o trailer no youtube.



segue também o site do filme: