domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dilma, a Folha de São Paulo e os novos tempos

A folha de São Paulo, este jornal que esprestava seus carros para a ditadura matar e torturar seus oponentes, ao completar 90 anos de (des) serviços a democracia convidou a presidenta Dilma para escrever um artigo. A presidenta aceitou e escreveu com todas as letras aquilo que tem repetido sempre que pode: " a figura chave do processo que levará o Brasil a um novo patamar é o educador". Reparem que ela parece estar bem consciente do que está dizendo, pois ela evita a palavra professor e utiliza "educador". Isso faz uma diferença enorme. Ela, no texto, demonstra estar bem consciente quanto ao papel dos educadores no novo cenário desejado para o nosso país. Talvez não seja demais dizer que nunca na história desse país um presidente (a) se importou tanto, ou deu tanto espaço à questão da educação. Leiam abaixo o artido na íntegra:

___________________________________________________________

PAÍS DO CONHECIMENTO, POTÊNCIA AMBIENTAL
por DILMA ROUSSEFF

Hoje, já não parece uma meta tão distante o Brasil se tornar país economicamente rico e socialmente justo, mas há grandes desafios pela frente, como educação de qualidade
Há 90 anos, o Brasil era um país oligárquico, em que a questão social não tinha qualquer relevância aos olhos do poder público, que a tratava como questão de polícia.

O país vivia à sombra da herança histórica da escravidão, do preconceito contra a mulher e da exclusão social, o que limitou, por muitas décadas, seu pleno desenvolvimento.

Mesmo quando os grandes planos de desenvolvimento foram desenhados, a questão social continuou como apêndice e a educação não conquistou lugar estratégico. Avançamos apenas nas décadas recentes, quando a sociedade decidiu firmar o social como prioridade.

Contudo, o Brasil ainda é um país contraditório. Persistem graves disparidades regionais e de renda. Setores pouco desenvolvidos coexistem com atividades econômicas caracterizadas por enorme sofisticação tecnológica. Mas os ganhos econômicos e sociais dos últimos anos estão permitindo uma renovada confiança no futuro.

Enorme janela de oportunidade se abre para o Brasil. Já não parece uma meta tão distante tornar-se um país economicamente rico e socialmente justo. Mas existem ainda gigantescos desafios pela frente. E o principal, na sociedade moderna, é o desafio da educação de qualidade, da democratização do conhecimento e do desenvolvimento com respeito ao meio ambiente.

Ao longo do século 21, todas as formas de distribuição do conhecimento serão ainda mais complexas e rápidas do que hoje.

Como a tecnologia irá modificar o espaço físico das escolas? Quais serão as ferramentas à disposição dos estudantes? Como será a relação professor-aluno? São questões sem respostas claras.

Tenho certeza, no entanto, de que a figura-chave será a do educador, o formador do cidadão da era do conhecimento.

Priorizar a educação implica consolidar valores universais de democracia, de liberdade e de tolerância, garantindo oportunidade para todos. Trata-se de uma construção social, de um pacto pelo futuro, em que o conhecimento é e será o fator decisivo.

Existe uma relação direta entre a capacidade de uma sociedade processar informações complexas e sua capacidade de produzir inovação e gerar riqueza, qualificando sua relação com as demais nações.

No presente e no futuro, a geração de riqueza não poderá ser pautada pela visão de curto prazo e pelo consumo desenfreado dos recursos naturais. O uso inteligente da água e das terras agriculturáveis, o respeito ao meio ambiente e o investimento em fontes de energia renováveis devem ser condições intrínsecas do nosso crescimento econômico. O desenvolvimento sustentável será um diferencial na relação do Brasil com o mundo.

Noventa anos atrás, erramos como governantes e falhamos como nação.

Estamos fazendo as escolhas certas: o Brasil combina a redução efetiva das desigualdades sociais com sua inserção como uma potência ambiental, econômica e cultural. Um país capaz de escolher seu rumo e de construir seu futuro com o esforço e o talento de todos os seus cidadãos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Lo que el corazón quiere, la mente se lo muestra. Entrevista com o cirurgião espanhol Mario A. Puig

   Não sou muito adepto daquela linha de raciocínio do tipo "o segredo", quer dizer, creio que não seja muito adepto daquelas ideias que algumas pessoas leitoras desse livro tem, de que tudo depende das condições subjetivas do indivíduo. Nessa linha de raciocínio há um esvaziamento quase que completo das condições objetivas do mundo. Só há subjetividades. Talvez essa seja uma forma rasa de interpretação das descobertas e insights que vêm sendo discutido nos últimos anos. Trata-se de compreender o papel dos estados mentais sobre a fisiologia. Ora, se corpo e mente não são coisas distintas, é fácil compreender que um influencia o outro, ou em outras palavras, age sobre o outro. Achei muito interessante essa entrevista dada pelo cirurgião espanhol Mario Alonso Puig. Esta entrevista me levou a um livro de um neurocientista português chamado António Damásio, cuja pesquisa versa, entre outras coisas, sobre o papel das emoções na formação da própria racionalidade. Damásio é autor de livros como: "O erro de Descartes" e "O mistério da consciência". Logo no início do primeiro ele diz que "a razão humana depende não de um único centro cerebral, mas de vários sistemas cerebrais que funcionam de forma concertada ao longo de muitos níveis de organização neuronal. Tanto as regiões cerebrais de ”alto nível” como as de ”baixo nível”, desde os córtices pré-frontais até o hipotálamo e o tronco cerebral, cooperam umas com as outras na feitura da razão". Ou seja, a razão não é tributária apenas de um único centro localizável no cérebro human, mas de um cojunto de partes que agem em colaboração. O papel das emoções, não obstante ser reconhecido hoje no senso comum, ainda é relegado a um segundo plano no que diz respeito a uma hierarquia dos saberes. Creio que a entrevista do cirurgião Mario A. Puig, se encontra nessa linha de pensamento que emerge com força nesse início de século. Leiam:
 
------------------------------------------------------------
 
Hasta ahora lo decían los iluminados, los meditadores y los sabios; ahora también lo dice la ciencia: son nuestros pensamientos los que en gran medida han creado y crean continuamente nuestro mundo. "Hoy sabemos que la confianza en uno mismo, el entusiasmo y la ilusión tienen la capacidad de favorecer las funciones superiores del cerebro. La zona prefrontal del cerebro, el lugar donde tiene lugar el pensamiento más avanzado, donde se inventa nuestro futuro, donde valoramos alternativas y estrategias para solucionar los problemas y tomar decisiones, está tremendamente influida por el sistema límbico, que es nuestro cerebro emocional. Por eso, lo que el corazón quiere sentir, la mente se lo acaba mostrando". Hay que entrenar esa mente
Tengo 48 años. Nací y vivo en Madrid. Estoy casado y tengo tres niños. Soy cirujano general y del aparato digestivo en el Hospital de Madrid. Hay que ejercitar y desarrollar la flexibilidad y la tolerancia. Se puede ser muy firme con las conductas y amable con las personas. Soy católico. Acabo de publicar Madera líder (Empresa Activa)
- Más de 25 años ejerciendo de cirujano. ¿Conclusión?
-Puedo atestiguar que una persona ilusionada, comprometida y que confía en sí misma puede ir mucho más allá de lo que cabría esperar por su trayectoria.
- ¿Psiconeuroinmunobiología?
-Sí, es la ciencia que estudia la conexión que existe entre el pensamiento, la palabra, la mentalidad y la fisiología del ser humano. Una conexión que desafía el paradigma tradicional. El pensamiento y la palabra son una forma de energía vital que tiene la capacidad (y ha sido demostrado de forma sostenible) de interactuar con el organismo y producir cambios físicos muy profundos.
- ¿De qué se trata?
-Se ha demostrado en diversos estudios que un minuto entreteniendo un pensamiento negativo deja el sistema inmunitario en una situación delicada durante seis horas. El distrés, esa sensación de agobio permanente, produce cambios muy sorprendentes en el funcionamiento del cerebro y en la constelación hormonal.
- ¿Qué tipo de cambios?
-Tiene la capacidad de lesionar neuronas de la memoria y del aprendizaje localizadas en el hipocampo. Y afecta a nuestra capacidad intelectual porque deja sin riego sanguíneo aquellas zonas del cerebro más necesarias para tomar decisiones adecuadas.
- ¿Tenemos recursos para combatir al enemigo interior, o eso es cosa de sabios?
-Un valioso recurso contra la preocupación es llevar la atención a la respiración abdominal, que tiene por sí sola la capacidad de producir cambios en el cerebro. Favorece la secreción de hormonas como la serotonina y la endorfina y mejora la sintonía de ritmos cerebrales entre los dos hemisferios.
- ¿Cambiar la mente a través del cuerpo?
-Sí. Hay que sacar el foco de atención de esos pensamientos que nos están alterando, provocando desánimo, ira o preocupación, y que hacen que nuestras decisiones partan desde un punto de vista inadecuado. Es más inteligente, no más razonable, llevar el foco de atención a la respiración, que tiene la capacidad de serenar nuestro estado mental.
- ¿Dice que no hay que ser razonable?
-Siempre encontraremos razones para justificar nuestro mal humor, estrés o tristeza, y esa es una línea determinada de pensamiento. Pero cuando nos basamos en cómo queremos vivir, por ejemplo sin tristeza, aparece otra línea. Son más importantes el qué y el porqué que el cómo. Lo que el corazón quiere sentir, la mente se lo acaba mostrando.
- Exagera.
-Cuando nuestro cerebro da un significado a algo, nosotros lo vivimos como la absoluta realidad, sin ser conscientes de que sólo es una interpretación de la realidad.
- Más recursos...
-La palabra es una forma de energía vital. Se ha podido fotografiar con tomografía de emisión de positrones cómo las personas que decidieron hablarse a sí mismas de una manera más positiva, específicamente personas con transtornos psiquiátricos, consiguieron remodelar físicamente su estructura cerebral, precisamente los circuitos que les generaban estas enfermedades.
- ¿Podemos cambiar nuestro cerebro con buenas palabras?
-Santiago Ramon y Cajal, premio Nobel de Medicina en 1906, dijo una frase tremendamente potente que en su momento pensamos que era metáforica. Ahora sabemos que es literal: "Todo ser humano, si se lo propone, puede ser escultor de su propio cerebro".
-¿Seguro que no exagera?
-No. Según cómo nos hablamos a nosotros mismos moldeamos nuestras emociones, que cambian nuestras percepciones. La transformación del observador (nosotros) altera el proceso observado. No vemos el mundo que es, vemos el mundo que somos.
- ¿Hablamos de filosofía o de ciencia?
-Las palabras por sí solas activan los núcleos amigdalinos. Pueden activar, por ejemplo, los núcleos del miedo que transforman las hormonas y los procesos mentales. Científicos de Harward han demostrado que cuando la persona consigue reducir esa cacofonía interior y entrar en el silencio, las migrañas y el dolor coronario pueden reducirse un 80%.
- ¿Cuál es el efecto de las palabras no dichas?
-Solemos confundir nuestros puntos de vista con la verdad, y eso se transmite: la percepción va más allá de la razón. Según estudios de Albert Merhabian, de la Universidad de California (UCLA), el 93% del impacto de una comunicación va por debajo de la conciencia.
- ¿Por qué nos cuesta tanto cambiar?
-El miedo nos impide salir de la zona de confort, tendemos a la seguridad de lo conocido, y esa actitud nos impide realizarnos. Para crecer hay que salir de esa zona.
- La mayor parte de los actos de nuestra vida se rigen por el inconsciente.
-Reaccionamos según unos automatismos que hemos ido incorporando. Pensamos que la espontaneidad es un valor; pero para que haya espontaneidad primero ha de haber preparación, sino sólo hay automatismos. Cada vez estoy más convencido del poder que tiene el entrenamiento de la mente.
- Deme alguna pista.
-Cambie hábitos de pensamiento y entrene su integridad honrando su propia palabra. Cuando decimos "voy a hacer esto" y no lo hacemos alteramos físicamente nuestro cerebro. El mayor potencial es la conciencia.
- Ver lo que hay y aceptarlo.
-Si nos aceptamos por lo que somos y por lo que no somos, podemos cambiar. Lo que se resiste persiste. La aceptación es el núcleo de la transformación.
 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

NEUROPOLIS

O compositor e pesquisador musical paulista Lívio Tragtenberg teve uma daquelas ideias que a gente fica pensando como é que não fomos nós que a tivemos. Ele realizou um projeto de juntar vários músicos que tocam nas ruas de São Paulo para forma uma orquestra popular. Disso resultou o disco e o documentário neuropolis, que o compositor quer que escreva sem acento, mas que se pronuncie como se tivesse. O disco soa muito bem com timbres inusitados que mistura pandeiro, uma espécie de cítara japonesa, sax, acordeon e sotaque boliviano (ou é colombiano?).

Ganhei o disco de presente de minha amiga Lenira, e assim que ouvi achei o máximo. Vejam aqui um pouco do documentário:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

UMA NOITE EM 67

Por Ricardo Moreno   

    O tema dos festivais deu e ainda dará muitos frutos, no sentido de obras escritas e audiovisuais que reflitam a importância do momento. As razões são claras, pois se trata de um momento de ouro da música popular brasileira, no qual toda uma geração se formou, e de certa forma esta geração balizou a produção musical das décadas seguintes. É claro que nem toda a produção das décadas de 1970 em diante é diretamente tributária daqueles artistas que se destacaram na década anterior: Chico Buarque; Edu Lobo; Caetano; Gil, etc. Mas não há como negar que esta geração atingiu um patamar de excelência na elaboração da canção popular.

    
    O documentário em questão se atém a um desses festivais, o de 1967, que sem dúvida foi um dos mais importantes da década. Lá estavam Gilberto Gil, com a belíssima “Domingo no parque”; Caetano Velloso com “Alegria, alegria”; Chico Buarque com “Roda viva” e Edu Lobo com “Ponteio”, que acabou se consagrando como primeiro lugar. As duas primeiras, “Domingo no parque” e “Alegria, alegria” logo se tornariam canções referências do movimento tropicalista que iria detonar o cenário estético-musical no ano seguinte com o lançamento do disco “Tropicália”, no qual figuravam além de Caetano e Gil, Tom Zé, Gal e quase toda a (nada) tradicional família musical baiana. 

    Em que pese o tema dos festivais já ter sido objeto de tantas explorações reflexivas, do tipo teses, livros, etc., não parece que o filme tenha a pretensão de defender nenhuma tese, ou hipótese. Ele quer apenas mostrar a importância daquele evento e as relações que estavam se dando em seu bojo. O festival era sem dúvida um lugar privilegiado para o cruzamento de várias linhas de ação estética. Muitas defesas de posição eram feitas através de textos de jornais, revistas, etc. Em uma frase célebre Tom Zé, que era do grupo tropicalista, teria dito em tom jocoso, como sempre foi estilo, que “A gente tem que respeitar o Chico Buarque, afinal ele é o nosso avô”. A intenção era óbvia: afirmar que Chico era naquele momento um compositor passadista, fazendo canções dentro de uma certa tradição musical brasileira, enquanto o grupo tropicalista estava mexendo em algumas estruturas. É desse momento também a polêmica entre Caetano e Chico alimentada, é bem verdade, pelos meios de comunicações da época, interessados em uma “agonística” musical pra com isso ganhar umas moedas a mais. Mas consta que Chico teria se irritado com a ideia de que a gravação da sua bela canção “Carolina”, por Caetano em seu disco de 1969, teria sido em tom de deboche. Enfim...

    Mas voltando ao filme, ele revela umas coisas interessantes, como por exemplo, a paúra de Gil na hora de defender a sua lindíssima “Domingo no parque”. Há anos que vejo essa gravação, e sempre achei o Gil super seguro no momento da interpretação. Mas a coisa não foi bem assim. Gil diz que estava super inseguro, e com essa declaração de repente vemos a dimensão humana brotar por trás da figura do ídolo. Muito interessante também o “achado” do jornalista Chico de Assis, um dos depoentes do documentário, quando percebe que o artista Sérgio Ricardo, cujo violão ele próprio quebrou no meio da apresentação por causa das vaias que recebia, se apresentou logo depois de Edu Lobo, que em seu refrão dizia “quem me dera agora eu tivesse uma viola pra cantar”. Era como se as duas apresentações estivessem ligadas de alguma forma.
    Enfim, o documentário “uma noite em 67” é repleto de depoimentos interessantes, de músicas maravilhosas e de artistas importantíssimos para a formação da música popular brasileira contemporânea. O diretor Renato Terra e Ricardo Calil acertaram em cheio.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O BURACO NO MURO

 O título acima parece aquelas brincadeiras de falar português com sonoridade japonesa, mas não é nada disso. Trata-se de um maravilhoso projeto de inclusão digital realizado por um chefe de departamento de uma grande empresa de telecomunicações da Índia. Parece que o que anima esse pesquisador é a ideia de que a inclusão digital não é aquele superfluo que todos têm que ter acesso, mesmo os pobres. Não! Não é isso! Penso que ele está afinado com um conjunto de pensadores contemporâneos que acreditam que a internet, ou o "ciberespaço" está criando uma nova etapa do desenvolvimento humano, assim como, as tecnologias da oralidade, a escrita, o alfabeto, a imprensa, etc... A "cibercultura" é vista por esses pensadores como capaz de engendrar novos modos de pensar e de sentir. 
 A professora Lucia Santaella diz uma coisa interessante no seu livro "culturas e artes do pós-humano". Ela analisa que  o ciberespaço será, ou já está sendo, disputado pelo grande capital no sentido de reproduzir ali as mesmas (e ainda outras) clivagens já realizadas no mundo não virtual. Mas também afirma que os artistas, intelectuais, professores e outros devem entrar nessa disputa tentando impedir que eles (o capital) "colonize o infinito".
  Vejam o video:

ANTROPOLOGIA E PROCESSOS NEO-COLONIAIS

    Artigo interessante este que trata das relações entre ciências sociais e processos neo-coloniais.  É largamente sabido que nos seus inícios a disciplina antropológica serviu, ou até melhor, ela nasceu sob os auspícios dos processos coloniais levados a cabo pelos europeus no século XIX. No caso desse artigo, fruto da farta documentação levantada pelo site Wikileaks, o processo é bem menos sutil, pois não se trata de teses que vão produzir um arcabouço teórico que em última instância servirão ao domínio colonial. Trata-se do antropólogo em campo, como um soldado, disponibilizando seus saberes para uma melhor ocupação. Leiam:
___________________________________________________________________
«Não se pode fazer antropologia na ponta de uma pistola».
Por Gilberto López y Rivas
 
O Human Terrain Team Handbook (2008), do estrategista Nathan Finney, é um dos documentos importantes disponíveis no Wikileaks que permite analisar a aplicação da antropologia nas campanhas contra-insurreccionais e na ocupação neocolonial por parte das forças armadas dos Estados Unidos.
Será um antropólogo?  
Será um antropólogo?
Esse manual destina-se principalmente a ser usado na preparação e na actividade das equipas (human terrain teams, HTT) que actuam nas estruturas militares norte-americanas (regimentos, brigadas, divisões, forças combinadas, etc.). Estas equipas integram entre 5 e 9 pessoas, apoiando os comandantes no terreno com o objectivo de compensar a sua falta de conhecimento do contexto cultural em que manobram. As equipas conjugam soldados e especialistas militares e académicos, fornecidos por contratantes do Exército, supostamente com uma preparação sólida na área das ciências sociais.
080709A-7969G-146O manual tem como pressuposto que «uma condição fundamental da guerra irregular e das operações contra-insurreccionais é que o comandante e o seu estado-maior não podem continuar a preocupar-se apenas com as questões tradicionais: missão, inimigo, terreno e condições meteorológicas, tropas amigas e apoios disponíveis, e tempo. O comandante deve considerar a população da área de conflito como um aspecto importante e específico do diagnóstico do teatro da guerra. […] A dimensão humana constitui a própria essência da guerra irregular. Compreender a cultura local e os factores políticos, sociais, económicos e religiosos é crucial para a contra-insurreição e para o êxito das operações de estabilização e, em última análise, para o triunfo da guerra contra o terror».
 
Antropólogo numa pesquisa de campo.
São três os aspectos-chave da missão das equipas HTT: 1) Investigação mediante as ciências sociais (utilização de métodos antropológicos e sociológicos clássicos, tais como entrevistas abertas e estruturadas, análises de texto, inquéritos e observação participativa. 2) Recolha de informação relevante para a unidade castrense e sua apresentação em termos familiares a um público militar. 3) Criação de um marco analítico-cultural para a planificação, a tomada de decisões e os diagnósticos operacionais.
O programa, em suma, destina-se a investigar, interpretar, arquivar e fornecer informações e conhecimentos culturais com o objectivo de optimizar as operações e de harmonizar as acções com o meio cultural. Embora parta da suposição errada de que o programa não faz parte da actividade de espionagem militar, o manual indica contraditoriamente que os seus resultados devem ser incorporados ao plano de operações dessa secção e que as suas equipas devem estar presentes em todas as etapas do processo de tomada de decisões militares.
As equipas HTT de civis e militares têm um chefe (geralmente um oficial no activo ou na reforma), um cientista social, um processador de informação e dois analistas. Segundo o manual, a composição óptima inclui pelo menos um membro da equipa que fale a língua da região, outro que seja perito no país em questão e outro que seja mulher, para permitir que a equipa tenha acesso aos 50% da população frequentemente subestimados nas operações militares.
O carácter do programa, o papel e os objectivos das equipas são variáveis, consoante a acção de intervenção das forças armadas norte-americanas for classificada no manual como «contra-insurreição, edificação de nações (nation building), ocupação, manutenção da paz, operações de movimento ou qualquer combinação destes objectivos». Na medida em que o programa compreende o espectro completo da sociedade e da cultura, as equipas devem determinar como obter o apoio da população local, como diminuir a sua desconfiança e como usar a ampla familiaridade com todos os aspectos da sociedade para alcançar esses objectivos.
É significativo que as equipas HTT não disponham de veículos próprios. Para realizarem a pesquisa de campo utilizam o transporte e a protecção das secções militares de que fazem parte. O manual menciona que os membros destas equipas são portadores apenas de armas de autodefesa (sic), ou seja, andam armados e precisam do apoio logístico da unidade militar para que actuam, incluindo alojamento, alimentação, segurança e espaços de trabalho (certamente no interior do sector de espionagem).
 
Descubra quem é o antropólogo.
Descubra quem é o antropólogo.Por seu lado, o Informe Final da American Anthropological Association (AAA), concluído em Outubro de 2009 — após uma exaustiva análise — afirma que este programa constitui um motivo de preocupação para a Associação, porque, na medida em que executa funções de investigação, está, por sua vez, na origem de uma actividade de espionagem e leva a cabo funções tácticas de guerra de contra-insurreição. Perante esta sobreposição, qualquer antropólogo que trabalhe no programa terá dificuldade em cumprir o Código Disciplinar de Ética. O programa está adscrito ao sector de espionagem do Departamento da Defesa, e no Iraque e no Afeganistão a informação resultante do programa faz parte do acervo da espionagem militar.
A AAA conclui: «Quando a investigação etnográfica está determinada por missões militares, não ficando sujeita a uma revisão externa; quando a recolha de informação ocorre num contexto de guerra, integrada nos objectivos da contra-insurreição, e com um potencial coercitivo — tudo factores característicos das concepções e da aplicação do programa — não é possível que esta actividade seja considerada um exercício profissional de antropologia legítimo».
Um dos cientistas sociais que participou no programa no Iraque observou com razão: «Não se pode fazer antropologia na ponta de uma pistola».

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Globonews corta a fala do filósofo quando este fala em Lula

    No momento em que escrevo esse texto o vídeo ao qual me refiro ainda não está disponibilizado no site da globonews, mas o fato é que num programa dessa emissora chamado "Milênio" e apresentado pelo jornalista Jorge Pontual, fez uma coisa deplorável. O entrevistado era o filósofo Slavoj Zizek, apresentado como um dos intelectuais mais influentes do momento. Acontece que o filósofo estava se referindo a um estudo feito por um amigo, que dava conta da mentira neo-liberal quando esta afirma que crescimento econômico é incompatível com assitência social. Ele dizia que o estudo mostra a realidade dos países escandinavos e logo em seguida ia citar Lula, como exemplo de gestão na qual o país cresce junto com programas sociais de grande extensão. Só que nesse momento, misteriosamente há um corte de edição que subtrai a fala do filósofo quando este trata do presidente Lula. No blog do programa vários espectadores se manifestaram no sentido de prostetar contra a "edição" grosseira.
   Para quem quiser ver as queixas é só seguir o link:

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

mercado e favela

Quem quiser ler uma interessante entrevista sobre os novos papéis a serem desempenhados pelas comunidades de favela do Rio de Janeiro, não deve perder a entrevista de Itamar Silva à revista "Rede Brasil Atual". Trata-se, no meu entender, de um verdadeiro intelectual orgânico, como definiu o filósofo Gramsci, para se referir a um tipo de intelectual ligado organicamente a determinados grupos sociais. Neste caso, Itamar nasceu e vive na cominidade Dona Marta, no Rio de Janeiro, e elabora com desenvoltura uma abordagem crítica ao que vem acontecendo. É digno de nota que ele não se opõem sistematicamente às iniciativas do Estado, mas por outro lado não é nada ingênuo (como é tão ao gosto da grande mídia brasileira). Leiam no link abaixo:

http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/55/o-mercado-sobe-o-morro 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Relógio do mundo

Interessante montagem, com base estatística, de vários processos em curso no mundo. Os números relativos à população é vertiginoso. Mas não só, outros tabém são alarmantes. Vejam:


Poodwaddle.com

domingo, 16 de janeiro de 2011

Cocaína, a canção...

O vídeo abaixo é de uma apresentação da cantora Anabel Albernaz cantando uma composição da década de 1920 intitulada "Cocaína". Seu autor é nada mais nada menos que Sinhô, um dos integrantes da primeira geração de compositores de samba. Na partitura vem escrita uma dedicatória: "ao meu amigo Roberto Marinho". Mas tudo isso deve ser evidentemente contextualizado, pois se não poderemos incorrer no risco de perder a dimensão histórica da coisa. Lembro que minha vó, que trabalhou em farmácia bem depois dessa época, me disse que vendia livremente essa substância no balcão, e segundo consta em trabalhos históricos, não era necessário nem mesmo receita.
  Aliás, na virada do século a sociedade médica internacional era uma das mais entusiastas do uso dessa substância nas mais variadas formas: xaropes, sprays, pastilhas, etc. Sem trocadilho, mas ela criou uma verdadeira euforia nos meios médicos, pois era quase uma panacéia, e melhor, sem contraindicações. Consta também, e isso é bem sabido, que o boom da cocaína, não obstante ela já ser bem conhecida, se deu a partir do artigo de Sigmund Freud, "Über Coca", de 1884, que sintetizava o que já vinha sendo escrito e pesquisado por diversos autores. Dentre as maravilhas produzidas pela cocaína, e exaltadas por Freud, estavam coisas tais como: a capacidade da substância de exaltar o humor, combater o 'morfinismo' e o 'alcoolismo', transtornos gástricos, caquexia e a asma, além de ser afrodisíaco e anestésico local. Como se vê, não era pouca coisa.
   Não obstante a sociedade médica já fazer muitas críticas ao uso da cocaína já no início do século XX, o entusiasmo acrítico deve ainda ter permanecido em alta durante muito tempo. Mas, para finalizar, consta que essa canção do Sinhô estava no repertório da cantora Marlene num show da década de 1970, e que a artista hesitou em colocá-la para não parecer uma apologia e com isso ter problema com a censura do regime militar. Mas, o poeta Carlos Drummond de Andrade teria a encorajado, alegando que na época isso era normal. Teriam sido estas as palavras do poeta: "Diga para a Marlene cantar, naquela época todo mundo cheirava, eu também cheirei cocaína e para mim fez efeito de bicarbonato"...
Vejam o vídeo:

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A surpeendente verdade sobre o que nos motiva

Ken Robinson é um pensador na área de educação nada ortodoxo, e suas teses também vão de encontro ao que é o senso comum na educação. Outro dia mesmo ouvi de uma colega que não ia aprovar um certo aluno, mesmo ele estando bem em outras matérias, pois sua disciplina era muito importante. Se ela fosse, continuou, professora de Artes, aí sim, aprovaria. Esse tipo de raciocínio é debatido por esse pensador inglês em um vídeo chamado "changing education paradigms" que também está no youtube, porém sem tradução. Quem quiser ler o texto em português disponibilizarei o link para o texto traduzido que está no site eu vi o mundo. http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/organizando-as-ideias-ken-robinson-as-massas-brasileiras-e-o-neurocientista.html


Segue abaixo o vídeo A surpreendente verdade sobre o que nos motiva. Vejam:

Carta do ministro Jorge Hage à revista Veja

Contribuição da amiga Catarina Peregrino:
____________________________________________

O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, enviou nesta segunda-feira, 27/12, carta à revista Veja, na qual contesta a afirmação de que o Governo Lula foi “o mais corrupto da República”. "Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia?", indaga Hage em sua carta. Leia a íntegra:

“Brasília, 27 de dezembro de 2010.


Sr. Editor,

Apesar de não surpreender a ninguém que haja acompanhado as edições da sua revista nos últimos anos, o número 52 do ano de 2010, dito de “Balanço dos 8 anos de Lula”, conseguiu superar-se como confirmação final da cegueira a que a má vontade e o preconceito acabam por conduzir.

Qualquer leitor que não tenha desembarcado diretamente de Marte na noite anterior haverá de perguntar-se “de que país a Veja está falando?”.
E, se o leitor for um brasileiro e não integrar aquela ínfima minoria de 4% que avalia o Governo Lula como ruim ou péssimo, haverá de enxergar-se um completo idiota, pois pensava que o Governo Lula fora ótimo, bom ou regular.
Se isso se aplica a todas as “matérias” e artigos da dita Retrospectiva, quero deter-me especialmente às páginas não-numeradas e não-assinadas, sob o título “Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo”. Ali, dentre outras raivosas adjetivações (e sem apontar quaisquer fatos, registre-se), o Governo Lula é apontado como “o mais corrupto da República”.
Será ele o mais corrupto porque foi o primeiro Governo da República que colocou a Polícia Federal no encalço dos corruptos, a ponto de ter suas operações criticadas por expor aquelas pessoas à execração pública? Ou por ser o primeiro que levou até governadores à cadeia, um deles, aliás, objeto de matéria nesta mesma edição de Veja, à página 81?
Ou será por ser este o primeiro Governo que fortaleceu a Controladoria-Geral da União e deu-lhe liberdade para investigar as fraudes que ocorriam desde sempre, desbaratando esquemas mafiosos que operavam desde os anos 90, (como as Sanguessugas, os Vampiros, os Gafanhotos, os Gabirus e tantos mais), e, em parceria com a PF e o Ministério Público, propiciar os inquéritos e as ações judiciais que hoje já se contam pelos milhares? Ou por ter indicado para dirigir o Ministério Público Federal o nome escolhido em primeiro lugar pelos membros da categoria, de modo a dispor da mais ampla autonomia de atuação, inclusive contra o próprio Governo, quando fosse o caso? Ou já foram esquecidos os tempos do “Engavetador-Geral da República”?
Ou talvez tenha sido por haver criado um Sistema de Corregedorias que já expulsou do serviço público mais de 2.800 agentes públicos de todos os níveis, incluindo altos funcionários como procuradores federais e auditores fiscais, além de diretores e superintendentes de estatais (como os Correios e a Infraero).
Ou talvez este seja o governo mais corrupto por haver aberto as contas públicas a toda a população, no Portal da Transparência, que exibe hoje as despesas realizadas até a noite de ontem, em tal nível de abertura que se tornou referência mundial reconhecida pela ONU, OCDE e demais organismos internacionais.
Poderia estender-me aqui indefinidamente, enumerando os avanços concretos verificados no enfrentamento da corrupção, que é tão antiga no Brasil quanto no resto do mundo, sendo que a diferença que marcou este governo foi o haver passado a investigá-la e revelá-la, ao invés de varrê-la para debaixo do tapete, como sempre se fez por aqui.
Peço a publicação.

Jorge Hage Sobrinho
Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União”

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mulher sem umbigo??

Talvez tenha sido uma falha, ou talvez não, e nesse caso o objetivo poderia ser chamar a atenção de alguma forma, visto que mulheres bonitas, piadinhas sem graça e ambientes bonitos (geralmente praia) já se tornou muito redundante em comercial de sandálias. Ou talvez nada disso: um simples erro, ou excesso de photoshop. Não sei, quem quiser tire suas conclusões.


domingo, 9 de janeiro de 2011

O caso Battisti, Berlusconi e a mídia brasileira

    O Caso Cesare Battisti é mais um caso no qual vemos como a cobertura jornalística é simplesmente um lixo, pra dizer de uma forma leve. O princípio da sonegação de informação é sistemática de modo a induzir a um determinado juízo. Acredito que qualquer um tem o direito de se posiocionar dessa ou daquela forma, mas o que não é aceitável é esse comportamento da mídia de se filiar a uma tendência, quase sempre de direita, e montar e truncar as informações. Nesse caso quais são as informações sonegadas: 1) a grande mídia não fala do apoio que a decisão do governo Lula teve na Itália. O truque é mostrar que existe um concenso na Itália a favor de Berlusconi. Há muito cartazes espalhados pelo país; 2) a grande mídia não fala que a manifestação realizada na Itália contra a decisão do Brasil foi patrocinada por partidos de direita e neo-fascistas, e que as pessoas que lá estavam (pouco mais de uma centena) era de funcionários desse partidos; 3) a grande mídia brasileira silencia sobre as manipulações e sonegações de informação feitas na televisão de Berlusconi, sendo que se algo parecido fosse feito na Venezuela, por exemplo, seria tratado como um escândalo e um atentado contra a democracia; 4) a grande mídia do Brasil omite criminosamente dados relativos ao contexto em que se deu a prática militante de Cesare Battisti. Ela não fala por exemplo sobre a "Gladio" e os "exércitos secretos da Otan". Tudo isso é fartamente documentado hoje em dia e basta uma busca no google com esses termos para se ter uma ideia dos fatos. A palavra terrorista, utilizada para Battisti tem a mesma carga reacionária do termo quando utilizado para os militantes que lutavam contra a ditadura militar brasileira na década de 1970 (e lembramos bem de que lado estava esta grande imprensa naquele momento); 5) O Estado italiano é mostrado por esta grande mídia como um estado de direito. É mentira!!! Era um estado mafioso que sequestrava e matava pessoas, controlado por grupos que promoviam um verdadeiro estado terrorista, ou então promoviam julgamentos que eram verdadeiras farsas.
    É insustentável, portanto, que pessoas de bem se aliem a essa corja midiática ou à direita italiana. Essa operação de caça ao escritor e ex-militante Cesare Battisti guarda um paralelo com a situação da ditadura argentina quando esta na década de 1970 resolveu fazer uma guerra contra a Inglaterra para criar um clima de unidade nacional, com o desejo velado de dar fôlego a um regime a beira da extenuação. É isso que faz Berlusconi e sua escalada direitista.
   Para quem quiser saber mais sobre o caso, basta seguir os links abaixo:

 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

CAMPANHA PARA LULA GANHAR O NOBEL DA PAZ

O senador Aloizio Mercadante está encaminhando ao comitê norueguês petição indicando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para o prêmio Nobel da Paz de 2011.

Pelas normas, podem fazer a indicação parlamentares, integrantes de governos, além de professores universitários e membros de cortes internacionais.

No entanto, o senador Mercadante considera importante que essa indicação receba o apoio da população, o que pode ser feita por meio da assinatura desse manifesto.

Na avaliação do Mercadante, o presidente Lula merece o prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho para uma distribuição de renda mais justa e pela democracia no Brasil, bem como pelo seu importante papel internacional no combate à pobreza e à fome e na busca da paz pela mediação negociada de conflitos.

“É fundamental o apoio da população brasileira para que os avanços registrados no governo Lula tenham este importante reconhecimento internacional”, opina Mercadante.
---------------------------------------
Para assinar a petição é só seguir o link abaixo:
http://mercadante.com.br/nobelprolula/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Impactos Fatais: Racismo, Imperialismo e Extermínio

Do blog "Docverdade



(Grã-Bretanha, 2007, 59 min. - Direção: David Osuloga)
Devido ao momento em que certos setores da sociedade paulista vem demonstrando abertamente um preconceito descabido e até mesmo a xenofobia e o separatismo regional, nós do docverdade decidimos publicar esse excelente documentário da BBC Four, que na verdade é o segundo de uma série de três episódios, que mostram como o racismo influencia a vida das pessoas.Impactos Fatais: Racismo, Imperialismo e Extermínio
O Holocausto é tratado como uma exceção da humanidade, mas não deveria ser tratado como tal, infelizmente a História nos mostra que sempre esteve presente em vários momentos da civilização moderna, a ideia de uma raça branca superior as demais, a eugenia e o darwinismo social. Civilizações americanas, africanas, asiáticas e da oceania passaram pelos mais desumanos episódios que resultaram na morte de milhões de pessoas e dizimação de seus povos.

SOBRE O PRIMEIRO PRONUNCIAMENTO DA MINISTRA MARIA DO ROSÁRIO, DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

  A nova secretária de direitos humanos do governo Dilma, Maria do Rosário, fez em seu primeiro pronuciamento referências claras a um tema que enquanto não for resolvido permanecerá como um mosquito a zumbizar nos ouvidos da nação. Refiro-me à questão do período do regime militar e as graves violações de direitos humanos ali praticadas. Nos termos da secretária, que tem status de ministra, há que se fazer o "reconhecimento da responsabilidade do Estado pelas graves violações de direitos humanos com vista a não repetição do ocorrido". Ora, é tudo muito claro, uma nação não pode conviver com um fantasma dessa natureza. Principalmente quando este país se encontra em um momento de "aceleração histórica", como bem disse meu amigo historiador Luíz Geraldo Silva, e precisa mais que nunca ser passado a limpo, até mesmo, como disse a ministra, para que as novas gerações compreendam o que se passou e com isso evite-se os mesmos erros no futuro.
  Esse foi um ponto espinhoso no governo Lula, e promete não ser diferente na nova gestão petista. O ex-ministro Paulo Vanucchi fez um esforço tremendo para que essa questão fosse passada a limpo, e foi, ao meu ver, derrotado. Foi derrotado também na questão do PNDH 3, que era uma proposta, em última análise, da própria sociedade civil para que a sociedade avançe e se encontre com os novos tempos que vivemos. As forças reacionárias com o auxílio da grande mídia torpedeou o projeto de modo que o governo recuou e as coisas ficaram paradas. É preciso que a sociedade entenda o que isso representa e tome para si a responsabilidade de fazer avançar esse projeto (refiro-me aqui ao PNDH), pois caso contrário seremos novamente derrotados.
   Quanto a Comissão da Verdade, que a nova ministra que levar à frente, é um esforço que merece nossa atenção e apoio. Não se trata como ela mesma diz, de revanchismo, mas sim de tornar claro a aposta que o governo, a sociedade e suas instituições fazem na democracia, e esta não se faz sem memória.

domingo, 2 de janeiro de 2011

ERA VIRTUAL

   Nada substitui uma visita ao museu, para quem gosta desse tipo de programa. Mas creio que seja importante divulgar a iniviativa do sítio "era virtual". Nesse sítio o navegante pode fazer passeios virtuais a vários museus do Brasil. Ainda são poucos, mas creio que com o tempo as opções tendam a aumentar. Vale a pena dar uma olhada. Sigam o link:

http://www.eravirtual.org/

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lula fecha governo com avaliação positiva recorde, diz CNT/Sensus



SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fechou o governo com avaliação recorde de 87% para seu desempenho pessoal, conforme pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Instituto Sensus divulgada nesta quarta-feira. Em setembro deste ano, essa percepção era de 80,7%. O número de pessoas que desaprovaram o desempenho do presidente recuou, saindo de 16,4% para 10,7%. A pesquisa mostra ainda que houve uma redução na parcela de pessoas que não souberam responder, saindo de 3% para 2,4%.
  Quanto ao governo de Lula, a pesquisa mostra novamente avaliação positiva. Na opinião de 2 mil entrevistados, o governo obteve um bom desempenho. Dos entrevistados deste mês, 83,4% consideraram a administração atual como positiva. A avaliação anterior era de 79,4%.
A proporção com impressão negativa do governo caiu para 2,2% no estudo de dezembro ante os 4% do último levantamento. Também houve recuo na parcela dos entrevistados que classificaram a gestão atual como regular - de 15,9% para 13,7%.
Os números mais recentes fazem parte da 92ª Rodada da Pesquisa de Opinião Pública Nacional, realizada com 2 mil pessoas em 136 municípios do país entre os dias 23 e 27 de dezembro. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.

CHICO MÁRIO: UM ARTISTA BRASILEIRO

Por Ricardo Moreno 
Artigo publicado originalmente no jornal "Pôr-do-sol".
  

   Há anos atrás, uma amiga ao me ver tocando violão me perguntou se eu conhecia Francisco Mário, ou Chico Mário, como também era muito conhecido. Respondi um tanto desatento que não, não conhecia! Na verdade sequer ouvira falar dele. Ao ouvir esta resposta que denunciava minha ignorância musical, minha amiga passou a quase todo encontro repetir a pergunta: “Você já ouviu Chico Mário?” Eu continuava dizendo que não, o que a deixava num misto de incrédula e irritada. As coisas continuaram assim até o dia em que ela resolveu acabar com a minha ignorância em torno da obra do Chico. Chegou pra mim com um Lp debaixo do braço e disse: "tome! Você agora vai conhecer o Chico Mário". Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi botar o Lp pra girar. Aí entendi todo aquele empenho da amiga para que eu o conhecesse. O disco é maravilhoso!
   Em seguida passei a procurar outros discos dele e descobri que este que eu tinha ouvido, era o último de sua produção, e tinha sido lançado postumamente, em 1988. Este disco foi concebido e gravado com Chico já consciente de ser portador do vírus HIV. Assim como seus irmãos, Henfil e Betinho, Chico Mário era hemofílico, e contraiu a doença num processo de transfusão de sangue. Foi, sem dúvida, uma das perdas terríveis daquele primeiro momento de expansão da AIDS. Chico era mineiro de Belo Horizonte e ao todo ele gravou sete discos de carreira e mais um com o líder camponês pernambucano Francisco Julião, um dos grandes líderes das famosas ligas camponesas em Pernambuco nas décadas de 1950 e 1960. Essa parceria evidencia uma tendência militante do compositor, que durante toda sua vida esteve ao lado das boas causas do seu tempo: lutou contra a ditadura militar (foi membro da Juventude Estudantil Católica) e atuou como vice-presidente da Associação dos Produtores de Discos Independentes.
   Seus discos são heterogêneos no sentido de que se alternam entre discos de canções e discos instrumentais. Mas em ambos os campos Chico deu provas de sua excelência. O seu primeiro disco, “Terra”, um disco de canções, foi bastante elogiado pela crítica, bem como por um conterrâneo seu de muita importância no cenário cultural brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Esse disco conta com a participação de uma turma de craques da música. Lá estão: Joyce, Quarteto em Cy, Antonio Adolfo, Danilo Caymmi, Luli e Lucinda e mais um pessoal de primeira.
   Em seguida vieram outros discos dentre os quais eu destacaria o “Conversa de cordas, couros, palhetas e metais” de 1983. É um verdadeiro primor! Timbres maravilhosos, temas lindos e arranjos graciosos. Esse disco recebeu o prêmio de melhor disco instrumental do ano fazendo seu autor ganhar o troféu Chiquinha Gonzaga. Toadas, baiões e choros e outros gêneros marcam presença. O disco demonstra um controle sobre a obra que só a maturidade pode trazer. Chico tinha consciência disso. Logo a seguir veio o LP “Pijama de seda” feito em homenagem ao mestre Pixinguinha. O tema que abre o disco, “Ressurreição” é dedicado ao seu irmão Henfil, e é simplesmente uma melodia inspiradíssima, com intervalos melódicos que tecnicamente diríamos de quinta ascendente que nos dá a sensação de uma ressureição.

   No disco “revolta dos palhaços”, o temperamento irrequieto do Chico o levou a fazer uma empreitada inusitada. Ele propôs que duzentas pessoas amigas adquirissem o disco antes mesmo de ser lançado, como numa espécie de cooperativa entre consumidores e produtores. Deu certo! E o disco teve a participação dos poetas Aldir Blanc e Paulo Emílio, do ator Gianfrancesco Guarnieri, dos músicos Mauro Senise, Luiz Cláudio Ramos (atual arranjador e violonista de Chico Buarque), e dos cantores Ivan Lins e Lucinha Lins. A capa era do seu irmão Henfil.
Pois bem, faço com vocês o que minha amiga fez comigo: Vocês conhecem Chico Mário? Não? Então corram a procura dos seus discos (creio que todos estejam disponíveis em cd). Comprar não será fácil, mas graças à internet é possível encontrá-los em sites e blogs do pessoal que pesquisa e garimpa. Comecem bem o ano com a música de um grande brasileiro.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O DUPLO SENTIDO NA MPB, COM RODRIGO FAOUR

Muito bacana esse programa do Rodrigo Faour: História sexual da MPB. Neste que posto abaixo o tema é o duplo sentido na música popular brasileira. Vale a pena ver:

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

AMBIÇÃO HUMANA

Vídeo interessante com mais de oito milhões de acessos no youtube: The black hole. Vejam:

sábado, 11 de dezembro de 2010

As contradições do Agronegócio

Dificilmente veremos a professora Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) ser entrevistada por uma empresa de comunicação da grande mídia. Mesmo que ela seja uma especialista no que diz respeito a análise de produtividade rural, empreendimentos agrícolas, etc. isso porque Rosemeire em tudo por tudo atenta, com o resultado de suas análises, contra os interesses dos setores do grande capital do meio rural. Sua análise é límpida e cristalina e sua fala é facilmente compreendida por qualquer não-especialista no assunto. Bom, como o grande capital das comunicações não a põe no ar, cabe às redes de cominicação alternativas a ele fazer o trabalho limpo. Eis aqui a entrevista dada pela professora à Rádio  Agência NP. Leiam:

________________________________________________

Ao final de 2010, a safra brasileira de grãos deverá bater o recorde nacional e atingir a marca de 148 milhões de toneladas, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A área a ser colhida é de 46,7 milhões de hectares, 1% inferior ao último ano.
O Paraná é um dos responsáveis pelo recorde. Sozinho, o estado responderá por 21,5% da safra 2010. Esses números podem ser explicados pela pesquisa coordenada pela professora Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Baseada nos censos agropecuários do IBGE de 1995/96 e 2006, ela analisou as transformações territoriais ocorridas nos estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul e chegou a resultados surpreendentes.
Em entrevista à Radioagência NP, a professora garante que a agricultura familiar é responsável pela comida que está na mesa do brasileiro. Ela anuncia que o agronegócio recebeu financiamento de R$ 1 bilhão e produziu apenas a metade desse valor. Já as pequenas propriedades multiplicaram por 20 a quantia recebida.
Radioagência NP: Professora, entre os estados analisados, qual deles teve o melhor desempenho agrícola e como isso se explica?
Rosemeire Aparecida de Almeida: Nós podemos dizer que o estado do Paraná tem uma estrutura fundiária mais democrática, em comparação com o Mato Grosso do Sul. E essa estrutura fundiária democratizada é responsável por uma maior geração de renda e também de ocupação. No estado do Paraná 0,32% dos estabelecimentos possuem mais de 1 mil hectares, o que representa 19% da área. No Mato Grosso do Sul, é 10% dos estabelecimentos dominando mais de 76% da área.
RNP: Dê um exemplo de como essa diferença se reflete na produção.
RAA: O rebanho bovino do norte central paranaense é cinco vezes menor em relação à região leste do Mato Grosso do Sul. Porém, a quantidade de leite produzido é superior. No caso da região leste [MS], 42% do leite produzido vêm de estabelecimentos até 100 hectares. Na região norte paranaense, representa 76% dessa produção.
RNP: Como o agronegócio atua nessas regiões?
RAA: Ele vem se apropriando das melhores áreas no MS. Há um recuo do arroz e do feijão. Nós só não tivemos uma crise de desabastecimento porque aumentou a produtividade e 64% dessa produção foi de responsabilidade das pequenas unidades de produção, tanto no MS quanto no Paraná. Então, a gente pode dizer com muita segurança que as pequenas propriedades são responsáveis pela comida que está na mesa dos brasileiros.
RNP: O que você observou na comparação entre os índices de financiamento público e a produtividade?
RAA: A classe de área de mais de mil hectares no MS obteve financiamento de mais de R$ 1 bilhão e gerou um valor de produção de R$ 524 milhões. A pequena unidade de produção, com menos de 50 hectares, acessou R$ 2,4 milhões – ou seja, 0,21% do valor de financiamento – e gerou um valor de produção de R$ 42,9 milhões. Isso quer dizer que as áreas menores que 50 hectares multiplicaram por 20 o valor do financiamento. E a grande propriedade dividiu por dois o valor do financiamento.
RNP: O agronegócio se sustenta com monocultivos como o da soja?
RAA: Existem muitos dados, inclusive em relação ao questionamento da grande propriedade como sinônimo de progresso, de geração de emprego e de produtividade. O que é um mito, uma ideologia. Quando olhamos os dados referentes ao MS, percebemos que a produtividade alegada pela soja é a de grande extensão de terra. É uma produção que está açambarcando as terras disponíveis, mas quando analisamos a produtividade por hectare, ela é insignificativa em relação ao censo anterior.
RNP: Por que há tanta resistência em relação à atualização dos índices de produtividade?
RAA: A gente fala como se a grande propriedade fosse sinônimo de agronegócio. E não é verdade. O MS tem oito milhões de hectares de terras improdutivas, um dos estados que é o eixo de sustentação do agronegócio. Apenas uma parte da grande propriedade se modernizou no país. O restante é reserva de valor. Daí, a luta contra a revisão dos índices [de produtividade], que são da década de 1970. A revisão é necessária, é uma dívida que tem que ser paga pelo Governo Dilma. E mais do que isso, deve ser utilizada como um termômetro da existência da improdutividade, que é o mote da reforma agrária no país.
RNP: Que critérios devem ser observados nos programas de reforma agrária?
RAA: A estrutura fundiária voltada a estabelecimentos onde as pessoas não só trabalham, mas também vivem, gera uma dinâmica local. A política agrária do Brasil deve concentrar os assentamentos em determinadas microrregiões para que se possa impactar a cidade porque essas pessoas vão viver do comércio local e também vão produzir para o mercado da cidade.
De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

wikileaks...

Mais uma bola dentro do presidente Lula. A questão é que o "sol da noite agora tá nascendo, alguma coisa está acontecendo", e não há resposta para o que ainda não foi perguntado. A lei Azeredo do PSDB era uma tentativa de mordaça da internet, e esta não admite limite, wikileaks...


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

PONTOS DE CULTURA: UMA REVOLUÇÃO BRASILEIRA


Por Ricardo Moreno 

Artigo publicado originalmente no jornal "Pôr-do-sol".

No momento em que vai terminando os oito anos do governo do presidente Lula, é chegada a hora de fazer uma pequena reflexão sobre o que foi feito na área a qual nos dedicamos aqui em nossa coluna: música. Não tenho dados para uma análise de grande envergadura, mas em particular gostaria de tratar de um assunto que considero da maior importância para a cultura brasileira, qual seja, a relação entre a cultura popular e as políticas públicas no Brasil.
Costumo, em linhas muito gerais, distinguir três grandes momentos de aproximação do governo brasileiro com as culturas populares. Primeiro foi no final década de 1940, quando na II Semana Nacional de Folclore o grande pesquisador e intelectual brasileiro Renato Almeida, diz que “proteger o folclore não é tarefa de estudiosos (como até então) nem de alguns homens de boa vontade, é obra do Estado”. A fala de Almeida dá ênfase à proteção das “artes populares”, ao “folclore brasileiro” etc. e não ao sujeito concreto que é detentor desse saber. Claro que este homem, muitas vezes em situação de risco social, poderia tirar proveito dessa “proteção”, mas não era ele o objeto da iniciativa, e sim o patrimônio simbólico.
O segundo momento eu defino como tendo sido entre as décadas de 1970 e 1980 quando em associação com a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, a FUNARTE – instituição ligada ao Ministério da Cultura – realiza uma espécie de inventário da música folclórica brasileira e faz diversas gravações de manifestações musicais folclóricas de várias partes do Brasil. Essas gravações foram publicadas na forma de discos de vinil no formato de compactos (eram discos de vinil de duração aproximada de doze minutos). Ainda que precárias, essas gravações representam até hoje uma boa fonte de pesquisa para os interessados no assunto. Mas do ponto de vista de políticas públicas, mais uma vez vimos os esforços do Estado brasileiro (cheio de “boas intenções”) em atuar no sentido de preservar, ou resgatar, como é muito comum que se diga, a manifestação musical popular, mas sem dar a mesma atenção ao homem de carne e osso que é detentor desses saberes.
Chegamos então ao terceiro momento: O Ministério da Cultura, primeiramente com Gilberto Gil e posteriormente com Juca Ferreira, desenvolveu um projeto chamado Pontos de Cultura. Esse projeto coloca pela primeira vez a perspectiva de atuar na valorização do patrimônio simbólico, ao mesmo tempo em que valoriza também o homem que dá corpo e vida ao patrimônio imaterial. Este projeto, entre outras coisas, articula cultura popular e economia solidária de modo a fazer com que os praticantes e detentores desses saberes populares se capacitem para atuar como profissionais, extraindo dividendos materiais de seus saberes imateriais. Dessa forma, as praticas culturais populares são revalorizadas fazendo com que os mais jovens passem a se interessar por aquela dança, música ou técnica de construção de instrumentos, por exemplo, mas sempre na perspectiva inevitável de dar novos significados a estes fazeres.
Hoje já são mais de dois mil pontos espalhados pelo Brasil. Eles são encontrados tanto nas periferias das grandes cidades, quanto em pequenos municípios. Além de articular cultura e cidadania o projeto gera visibilidade para práticas e saberes musicais que estiveram durante muito tempo relegados a uma condição de cultura inferior. Isso quer dizer que tanto a “alta cultura” como a “cultura popular” são reconhecidas e financiadas pelo Estado brasileiro. Cada ponto de cultura pode receber apoio financeiro de até R$ 185.000,00 para ser utilizado conforme o projeto apresentado. A articulação de cultura e cidadania gera importantes ganhos simbólicos e materiais para as comunidades detentoras dos saberes tradicionais. Isso é muito importante e gera inclusão e cidadania, pois muitas dessas comunidades estão em situação de risco social.       
Para o economista Paul Singer, há muita cultura na economia solidária, e muita economia solidária na cultura. É preciso, no entanto, juntar essas duas pontas. Não há dúvida que um novo Brasil está surgindo a partir da idealização dos "pontos de cultura", e que esse novo Brasil se apresentará ao mundo como síntese das possibilidades humanas ilimitadas baseadas na generosidade e na solidariedade. Somos, como diria Darcy Ribeiro, uma “nova Roma”, ainda melhor, pois lavada a sangue negro e índio.
Muito temos que caminhar para que de fato essa terra se torne uma “mãe gentil” e para que este belo sonho se efetive, mas acho que já começamos o caminho. Viva Gilberto Gil e esta bela revolução dos tambores! Viva o Brasil!
Um feliz natal a todos e um ano novo com muita disposição para as lutas que hão de vir.

ps. Para saber mais sobre este assunto sugiro o livro “Pontos de Cultura, o Brasil de baixo pra cima”, de Célio Turino.

Pedro Simon, o veemente a favor.

O fundo social criado pelo governo Lula para vincular parte da receita do pré-sal às áreas de educação, saúde, combate à pobreza e ciência e tecnologia. Não se trata de outra coisa a emenda do senador Pedro Simon (o veemente a favor, como diria um amigo) que causa perda de receita para Estados produtores de petróleo, como o Rio de Janeiro e Espírito Santo, argumentando que essas perdas poderão ser compensadas com o fundo social. Ora, isso faria com que, como disse o deputado petista Antonio Palocci, o fundo fosse sendo esvaziado resultando com a impossibilidade dele efetivamente atender os campos aos quais ele se destina. Manobras como essa denunciam o caráter elitista e reacionário do senador autor da emenda. O governo, no entanto, nas palavras de alguns congressistas irá vetar a emenda. Ainda bem!!!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Choro Acadêmico - Nonato Luiz

Aqui, Nonato Luiz interpreta o seu belíssimo "choro acadêmico", acompanhado por Wilson Asfora e bandolim com intérprete não identificado. Essa música integra o seu primeiro lp do início da década de 1980, intitulado "Terra". É um disco muito bonito e já na estreia Nonato chamou atenção do mundo musical brasileiro. Em seguida Nonato começa uma carreira internacional principalmente na Alemanha. Vejam:

Uma violonista de primeira

Recebi de uma amiga e professora de música este vídeo. Achei a técnica da vilonista muito interessante. Postei no youtube e compartilho aqui. Infelizmente não sei nada sobre a instrumentista. Quem souber alguma coisa sobre ela envie-me por favor. Vejam:

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Escola do MST tem a melhor nota no Enem em Abelardo Luz

   Por que a grande mídia tão zelosa dos interesses da sociedade não alardeou esse êxito da Escola do MST?
-------------------------------------------
Por Ernesto Puhl
Do Jornal Sem Terra

Na Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. A escola é dirigida por militantes do MST e professores
indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1418 famílias, morando em 23 assentamentos.

A escola foi destaque no Exame Nacional do Ensino médio (Enem) de 2009, divulgado na pagina oficial do Enem. Ocupou a primeira posição no município, com uma nota de 505,69. Para muitos, esses dados não são mais do que um conjunto de números que indicam certo resultado, mas para nós, que vivemos neste espaço social, é uma grande conquista.

No entanto, essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação.

A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e do êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são para uma pequena elite.

E mesmo com todas as dificuldades a Escola Semente da Conquista foi destaque entre as escolas do Município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim de uma proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

BOLSONARO E SUA INCORRIGÍVEL HOMOFOBIA

Até quando esse crápula do Bolsonaro vai continuar a dizer coisas desse tipo sem ser processado. Parece-me que nesse depoimento ele explicita uma conduta homofóbica inaceitável passível de uma ação judicial. Vejam (mas só se tiver estômago):


Gols perdidos

Vocês têm notado a quantidade de gols perdidos ultimamente? Alguma coisa está acontecendo. Não é possível! Talvez tenham razão os que falam de ressonância Schumann, mudança do eixo da terra ou de conspiração extra-terrestre, ou ainda qualquer outro fenômeno dessa natureza. Só os gols perdidos domingo último pelo Fluminense contra o São Paulo, já foram um escândalo, agora esse aqui embaixo... pelo amor de Deus. Até o Val baiano faria. Vejam:


Frans Post e "A vista de Itamaracá" - A Primeira imagem do Brasil

 

 

 

    Frans Post veio para o Brasil na época em que o nosso querido e ensolarado Nordeste estava sob o domínio holandês e era governado por Maurício de Nassau. Post nasceu em Leiden, na Holanda, chegou ao Brasil com apenas 24 anos de idade, já com a missão de participar de missões e montar uma grande coleção de desenhos sobre o Brasil. Foi neste mesmo ano que este jovem entraria para a história, ao produzir o que é considerada a primeira imagem fiel das Américas, por consequência a primeira imagem do Brasil: o quadro "Vista de Itamaracá", uma obra de pouco mais de 60 por 80 centímetros, pintada em óleo sobre tela, que consegue mostrar a paisagem brasileira com qualidade quase fotográfica, mesmo que ainda de uma vista simplória.
    É claro que antes de Vista de Itamaracá foram feitos desenhos e gráficos sobre o Brasil, mas Frans Post foi o primeiro a realmente retratar nosso pais. Atualmente, infelizmente o quadro Vista de Itamaracá não se encontra no Brasil. Ele está no Royal Picture Gallery Mauritshuis, na Holanda. Pelo menos podemos dizer que está muito bem acompanhado. Neste museu estão o famoso quadro "Menina com Brinco de Pérola" de Johannes Vermeer e a obra "Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp", de Rembrandt.
    Mas se vista de Itamaracá está na holanda, a maior coleção de Obras de Frans Post está no Brasil. O Instituto Ricardo Brennand, em Recife, possui o maior acervo do artista no mundo, com dezessete obras (o Mauritshuis possui três).
    Um aspecto interessantes sobre Frans Post é que ele continuou pintando paisagens brasileiras mesmo quando já faziam décadas que o pintor havia saído do país, graças a uma excelente memória visual. Post foi embora do Brasil em 1644, com o fim do governo de Maurício de Nassau no Nordeste. Mas seu último quadro sobre o Brasil seria pintado em 1669, 25 anos depois, mostrando uma paisagem de Pernambuco.

 Do blog do Andolfato

LAICIDADE E ESPAÇOS PÚBLICOS.

  A cada dia que passa torna-se mais clara a tendência de se pensar os espaços públicos, e neste caso aqui é o espaço televisivo que está em jogo, como espaços essencialmente laicos. Isso não quer dizer que o tema religião não possa ou não deva ser tratado. É o caso da escola, por exemplo, espaço no qual o tema da religião tem que ser tratado. Mas o tratamento deve ser isento, ou melhor, não prosélito, propiciando uma abordagem histórica, sociológica, filosófica, etc., mas nunca de louvor ou coisa que o valha. Tenho, como professor de rede pública no Rio de Janeiro, assistido a uma escalada de ocupação religiosa dentro das escolas, malgrado o esforço de vários profissionais de educação que têm se esforçado no sentido de demarcar o espaço público de educação como um espaço laico. No caso da televisão creio que será uma decisão acertada a de tirar do ar programas católicos, evangélicos e outros de qualquer denominação religiosa. Leiam abaixo a notícia veiculada pelo portal imprensa:

___________________________________

O Conselho Curador da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) deverá tirar do ar os programas católicos e evangélicos veiculados pela TV  Brasil e em oito canais de rádio que integram a rede pública criada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta será apresentada para votação no órgão a ser realizada no dia 7 de dezembro, sob a forma de minuta de resolução.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a ideia do conselho é abordar o tema religião de forma mais ampla, sem a necessidade de se ter um programa específico sobre uma ou outra crença. Além disso, os integrantes do órgão da EBC acreditam que a rede pública de TV deve aumentar o diálogo com as diversas religiões presentes no país.

Após o anúncio de que o Grupo Silvio Santos, que pertence ao empresário e dono do SBT Silvio Santos, passava por problemas financeiros, a emissora recebeu propostas de ao menos três igrejas evangélicas para a compra de horário na faixa da madrugada. A assessoria do canal declarou que as ofertas não eram recentes, mas que até o momento "não surgiu nenhuma proposta que tenha interessado". Entre as negociantes, destacam-se a Igreja Internacional da Graça, de R.R. Soares, e o Ministério Silas Malafaia.

domingo, 21 de novembro de 2010

Marilena Chauí, em entrevista, afirma que nossa mídia é uma das mais autoritárias do mundo

Um dos grandes debates, ou enfrentamentos, do governo Dilma se dará no âmbito da democratização das comunicações. O atual oligopólio que é visto por alguns analistas como uma espécie de atualização da relação casa-grande / senzala é um dos gargalos da nossa democracia e cidadania. O modo autoritário e avesso a diversidade de vozes que pauta a mídia eletrônica ataca diretamente a liberdade de expressão. Sempre que possível trataremos aqui dessa questão crucial para os destinos deste país. Segue abaixo uma entrevista sobre o tema com a professora Marilena Chauí, dada ao sítio "Carta Maior". Leiam:

_________________________________________

CARTA MAIOR: Qual sua avaliação sobre a cobertura da chamada grande mídia brasileira nas eleições deste ano? Na sua opinião, houve alguma surpresa ou novidade em relação à eleição anterior?

MARILENA CHAUÍ: Eu diria que, desta vez, o cerco foi mais intenso, assumindo tons de guerra, mais do que mera polarização de opiniões políticas. Mas não foi surpresa: se considerarmos que 92% da população aprovam o governo Lula como ótimo e bom, 4% o consideram regular, restam 4% de desaprovação a qual está concentrada nos meios de comunicação. São as empresas e seus empregados que representam esses 4% e são eles quem têm o poder de fogo para a guerra.

O interessante foi a dificuldade para manter um alvo único na criação da imagem de Dilma Rousseff: o preconceito começou com a guerrilheira, não deu certo; passou, então, para a administradora sem experiência política, não deu certo; passou, então, para a afilhada de Lula, não deu certo; desembestou na fúria anti-aborto, e não deu certo. E não deu certo porque a população dispõe dos fatos concretos resultantes das políticas do governo Lula.

Isso me parece a novidade mais instigante, isto é, uma sociedade diretamente informada pelas ações governamentais que mudaram seu modo de vida e suas perspectivas, de maneira que a guerra se deu entre o preconceito e a verdadeira informação.

CM: Passada a eleição, um dos debates que deve marcar o próximo período diz respeito à regulamentação do setor de comunicação. Como se sabe, a resistência das grandes empresas de mídia é muito forte. Como superar essa resistência?

MC: Numa democracia, o direito à informação é essencial. Tanto o direito de produzir e difundir informação como o direito de receber e ter acesso à informação. Isso se chama isegoria, palavra criada pelos inventores da democracia, os gregos, significando o direito emitir em público uma opinião para ser discutida e votada, assim como o direito de receber uma opinião para avaliá-la, aceitá-la ou rejeitá-la.

Justamente por isso, em todos os países democráticos, existe regulamentação do setor de comunicação. Essa regulamentação visa assegurar a isegoria, a liberdade de expressão e o direito ao contraditório, além de diminuir, tanto quanto possível, o monopólio da informação.

Evidentemente, hoje essa regulamentação encontra dificuldades postas pela estrutura oligopólica dos meios, controlados globalmente por um pequeno número de empresas transnacionais. Mas não é por ser difícil, que a regulamentação não deve ser estabelecida e defendida. Trata-se da batalha moderna entre o público e o privado.

CM: Você concorda com a seguinte afirmação: "A mídia brasileira é uma das mais autoritárias do mundo".

MC: Se deixarmos de lado o caso óbvio das ditaduras e considerarmos apenas as repúblicas democráticas, concordo.

CM: Na sua opinião, é possível fazer alguma distinção entre os grandes veículos midiáticos, do ponto de vista de sua orientação editorial? Ou o que predomina é um pensamento único mesmo.

MC: As variações se dão no interior do pensamento único, isto é, da hegemonia pós-moderna e neoliberal. Ou seja, há setores reacionários de extrema direita, setores claramente conservadores e setores que usam “a folha de parreira”. A folha de parreira, segundo a lenda, serviu para Adão e Eva se cobrirem quando descobriram que estavam nus.

Na mídia, a “folha de parreira” consiste em dar um pequeno e controlado espaço à opinião divergente ou contrária à linha da empresa. Às vezes, não dá certo. O caso do Estadão contra Maria Rita Kehl mostra que uma vigorosa voz destoante no coral do “sim senhor” não pode ser suportada.