domingo, 16 de janeiro de 2011

Cocaína, a canção...

O vídeo abaixo é de uma apresentação da cantora Anabel Albernaz cantando uma composição da década de 1920 intitulada "Cocaína". Seu autor é nada mais nada menos que Sinhô, um dos integrantes da primeira geração de compositores de samba. Na partitura vem escrita uma dedicatória: "ao meu amigo Roberto Marinho". Mas tudo isso deve ser evidentemente contextualizado, pois se não poderemos incorrer no risco de perder a dimensão histórica da coisa. Lembro que minha vó, que trabalhou em farmácia bem depois dessa época, me disse que vendia livremente essa substância no balcão, e segundo consta em trabalhos históricos, não era necessário nem mesmo receita.
  Aliás, na virada do século a sociedade médica internacional era uma das mais entusiastas do uso dessa substância nas mais variadas formas: xaropes, sprays, pastilhas, etc. Sem trocadilho, mas ela criou uma verdadeira euforia nos meios médicos, pois era quase uma panacéia, e melhor, sem contraindicações. Consta também, e isso é bem sabido, que o boom da cocaína, não obstante ela já ser bem conhecida, se deu a partir do artigo de Sigmund Freud, "Über Coca", de 1884, que sintetizava o que já vinha sendo escrito e pesquisado por diversos autores. Dentre as maravilhas produzidas pela cocaína, e exaltadas por Freud, estavam coisas tais como: a capacidade da substância de exaltar o humor, combater o 'morfinismo' e o 'alcoolismo', transtornos gástricos, caquexia e a asma, além de ser afrodisíaco e anestésico local. Como se vê, não era pouca coisa.
   Não obstante a sociedade médica já fazer muitas críticas ao uso da cocaína já no início do século XX, o entusiasmo acrítico deve ainda ter permanecido em alta durante muito tempo. Mas, para finalizar, consta que essa canção do Sinhô estava no repertório da cantora Marlene num show da década de 1970, e que a artista hesitou em colocá-la para não parecer uma apologia e com isso ter problema com a censura do regime militar. Mas, o poeta Carlos Drummond de Andrade teria a encorajado, alegando que na época isso era normal. Teriam sido estas as palavras do poeta: "Diga para a Marlene cantar, naquela época todo mundo cheirava, eu também cheirei cocaína e para mim fez efeito de bicarbonato"...
Vejam o vídeo:

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