quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

CHICO MÁRIO: UM ARTISTA BRASILEIRO

Por Ricardo Moreno 
Artigo publicado originalmente no jornal "Pôr-do-sol".
  

   Há anos atrás, uma amiga ao me ver tocando violão me perguntou se eu conhecia Francisco Mário, ou Chico Mário, como também era muito conhecido. Respondi um tanto desatento que não, não conhecia! Na verdade sequer ouvira falar dele. Ao ouvir esta resposta que denunciava minha ignorância musical, minha amiga passou a quase todo encontro repetir a pergunta: “Você já ouviu Chico Mário?” Eu continuava dizendo que não, o que a deixava num misto de incrédula e irritada. As coisas continuaram assim até o dia em que ela resolveu acabar com a minha ignorância em torno da obra do Chico. Chegou pra mim com um Lp debaixo do braço e disse: "tome! Você agora vai conhecer o Chico Mário". Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi botar o Lp pra girar. Aí entendi todo aquele empenho da amiga para que eu o conhecesse. O disco é maravilhoso!
   Em seguida passei a procurar outros discos dele e descobri que este que eu tinha ouvido, era o último de sua produção, e tinha sido lançado postumamente, em 1988. Este disco foi concebido e gravado com Chico já consciente de ser portador do vírus HIV. Assim como seus irmãos, Henfil e Betinho, Chico Mário era hemofílico, e contraiu a doença num processo de transfusão de sangue. Foi, sem dúvida, uma das perdas terríveis daquele primeiro momento de expansão da AIDS. Chico era mineiro de Belo Horizonte e ao todo ele gravou sete discos de carreira e mais um com o líder camponês pernambucano Francisco Julião, um dos grandes líderes das famosas ligas camponesas em Pernambuco nas décadas de 1950 e 1960. Essa parceria evidencia uma tendência militante do compositor, que durante toda sua vida esteve ao lado das boas causas do seu tempo: lutou contra a ditadura militar (foi membro da Juventude Estudantil Católica) e atuou como vice-presidente da Associação dos Produtores de Discos Independentes.
   Seus discos são heterogêneos no sentido de que se alternam entre discos de canções e discos instrumentais. Mas em ambos os campos Chico deu provas de sua excelência. O seu primeiro disco, “Terra”, um disco de canções, foi bastante elogiado pela crítica, bem como por um conterrâneo seu de muita importância no cenário cultural brasileiro: Carlos Drummond de Andrade. Esse disco conta com a participação de uma turma de craques da música. Lá estão: Joyce, Quarteto em Cy, Antonio Adolfo, Danilo Caymmi, Luli e Lucinda e mais um pessoal de primeira.
   Em seguida vieram outros discos dentre os quais eu destacaria o “Conversa de cordas, couros, palhetas e metais” de 1983. É um verdadeiro primor! Timbres maravilhosos, temas lindos e arranjos graciosos. Esse disco recebeu o prêmio de melhor disco instrumental do ano fazendo seu autor ganhar o troféu Chiquinha Gonzaga. Toadas, baiões e choros e outros gêneros marcam presença. O disco demonstra um controle sobre a obra que só a maturidade pode trazer. Chico tinha consciência disso. Logo a seguir veio o LP “Pijama de seda” feito em homenagem ao mestre Pixinguinha. O tema que abre o disco, “Ressurreição” é dedicado ao seu irmão Henfil, e é simplesmente uma melodia inspiradíssima, com intervalos melódicos que tecnicamente diríamos de quinta ascendente que nos dá a sensação de uma ressureição.

   No disco “revolta dos palhaços”, o temperamento irrequieto do Chico o levou a fazer uma empreitada inusitada. Ele propôs que duzentas pessoas amigas adquirissem o disco antes mesmo de ser lançado, como numa espécie de cooperativa entre consumidores e produtores. Deu certo! E o disco teve a participação dos poetas Aldir Blanc e Paulo Emílio, do ator Gianfrancesco Guarnieri, dos músicos Mauro Senise, Luiz Cláudio Ramos (atual arranjador e violonista de Chico Buarque), e dos cantores Ivan Lins e Lucinha Lins. A capa era do seu irmão Henfil.
Pois bem, faço com vocês o que minha amiga fez comigo: Vocês conhecem Chico Mário? Não? Então corram a procura dos seus discos (creio que todos estejam disponíveis em cd). Comprar não será fácil, mas graças à internet é possível encontrá-los em sites e blogs do pessoal que pesquisa e garimpa. Comecem bem o ano com a música de um grande brasileiro.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O DUPLO SENTIDO NA MPB, COM RODRIGO FAOUR

Muito bacana esse programa do Rodrigo Faour: História sexual da MPB. Neste que posto abaixo o tema é o duplo sentido na música popular brasileira. Vale a pena ver:

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

AMBIÇÃO HUMANA

Vídeo interessante com mais de oito milhões de acessos no youtube: The black hole. Vejam:

sábado, 11 de dezembro de 2010

As contradições do Agronegócio

Dificilmente veremos a professora Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) ser entrevistada por uma empresa de comunicação da grande mídia. Mesmo que ela seja uma especialista no que diz respeito a análise de produtividade rural, empreendimentos agrícolas, etc. isso porque Rosemeire em tudo por tudo atenta, com o resultado de suas análises, contra os interesses dos setores do grande capital do meio rural. Sua análise é límpida e cristalina e sua fala é facilmente compreendida por qualquer não-especialista no assunto. Bom, como o grande capital das comunicações não a põe no ar, cabe às redes de cominicação alternativas a ele fazer o trabalho limpo. Eis aqui a entrevista dada pela professora à Rádio  Agência NP. Leiam:

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Ao final de 2010, a safra brasileira de grãos deverá bater o recorde nacional e atingir a marca de 148 milhões de toneladas, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A área a ser colhida é de 46,7 milhões de hectares, 1% inferior ao último ano.
O Paraná é um dos responsáveis pelo recorde. Sozinho, o estado responderá por 21,5% da safra 2010. Esses números podem ser explicados pela pesquisa coordenada pela professora Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Baseada nos censos agropecuários do IBGE de 1995/96 e 2006, ela analisou as transformações territoriais ocorridas nos estados do Paraná e do Mato Grosso do Sul e chegou a resultados surpreendentes.
Em entrevista à Radioagência NP, a professora garante que a agricultura familiar é responsável pela comida que está na mesa do brasileiro. Ela anuncia que o agronegócio recebeu financiamento de R$ 1 bilhão e produziu apenas a metade desse valor. Já as pequenas propriedades multiplicaram por 20 a quantia recebida.
Radioagência NP: Professora, entre os estados analisados, qual deles teve o melhor desempenho agrícola e como isso se explica?
Rosemeire Aparecida de Almeida: Nós podemos dizer que o estado do Paraná tem uma estrutura fundiária mais democrática, em comparação com o Mato Grosso do Sul. E essa estrutura fundiária democratizada é responsável por uma maior geração de renda e também de ocupação. No estado do Paraná 0,32% dos estabelecimentos possuem mais de 1 mil hectares, o que representa 19% da área. No Mato Grosso do Sul, é 10% dos estabelecimentos dominando mais de 76% da área.
RNP: Dê um exemplo de como essa diferença se reflete na produção.
RAA: O rebanho bovino do norte central paranaense é cinco vezes menor em relação à região leste do Mato Grosso do Sul. Porém, a quantidade de leite produzido é superior. No caso da região leste [MS], 42% do leite produzido vêm de estabelecimentos até 100 hectares. Na região norte paranaense, representa 76% dessa produção.
RNP: Como o agronegócio atua nessas regiões?
RAA: Ele vem se apropriando das melhores áreas no MS. Há um recuo do arroz e do feijão. Nós só não tivemos uma crise de desabastecimento porque aumentou a produtividade e 64% dessa produção foi de responsabilidade das pequenas unidades de produção, tanto no MS quanto no Paraná. Então, a gente pode dizer com muita segurança que as pequenas propriedades são responsáveis pela comida que está na mesa dos brasileiros.
RNP: O que você observou na comparação entre os índices de financiamento público e a produtividade?
RAA: A classe de área de mais de mil hectares no MS obteve financiamento de mais de R$ 1 bilhão e gerou um valor de produção de R$ 524 milhões. A pequena unidade de produção, com menos de 50 hectares, acessou R$ 2,4 milhões – ou seja, 0,21% do valor de financiamento – e gerou um valor de produção de R$ 42,9 milhões. Isso quer dizer que as áreas menores que 50 hectares multiplicaram por 20 o valor do financiamento. E a grande propriedade dividiu por dois o valor do financiamento.
RNP: O agronegócio se sustenta com monocultivos como o da soja?
RAA: Existem muitos dados, inclusive em relação ao questionamento da grande propriedade como sinônimo de progresso, de geração de emprego e de produtividade. O que é um mito, uma ideologia. Quando olhamos os dados referentes ao MS, percebemos que a produtividade alegada pela soja é a de grande extensão de terra. É uma produção que está açambarcando as terras disponíveis, mas quando analisamos a produtividade por hectare, ela é insignificativa em relação ao censo anterior.
RNP: Por que há tanta resistência em relação à atualização dos índices de produtividade?
RAA: A gente fala como se a grande propriedade fosse sinônimo de agronegócio. E não é verdade. O MS tem oito milhões de hectares de terras improdutivas, um dos estados que é o eixo de sustentação do agronegócio. Apenas uma parte da grande propriedade se modernizou no país. O restante é reserva de valor. Daí, a luta contra a revisão dos índices [de produtividade], que são da década de 1970. A revisão é necessária, é uma dívida que tem que ser paga pelo Governo Dilma. E mais do que isso, deve ser utilizada como um termômetro da existência da improdutividade, que é o mote da reforma agrária no país.
RNP: Que critérios devem ser observados nos programas de reforma agrária?
RAA: A estrutura fundiária voltada a estabelecimentos onde as pessoas não só trabalham, mas também vivem, gera uma dinâmica local. A política agrária do Brasil deve concentrar os assentamentos em determinadas microrregiões para que se possa impactar a cidade porque essas pessoas vão viver do comércio local e também vão produzir para o mercado da cidade.
De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

wikileaks...

Mais uma bola dentro do presidente Lula. A questão é que o "sol da noite agora tá nascendo, alguma coisa está acontecendo", e não há resposta para o que ainda não foi perguntado. A lei Azeredo do PSDB era uma tentativa de mordaça da internet, e esta não admite limite, wikileaks...


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

PONTOS DE CULTURA: UMA REVOLUÇÃO BRASILEIRA


Por Ricardo Moreno 

Artigo publicado originalmente no jornal "Pôr-do-sol".

No momento em que vai terminando os oito anos do governo do presidente Lula, é chegada a hora de fazer uma pequena reflexão sobre o que foi feito na área a qual nos dedicamos aqui em nossa coluna: música. Não tenho dados para uma análise de grande envergadura, mas em particular gostaria de tratar de um assunto que considero da maior importância para a cultura brasileira, qual seja, a relação entre a cultura popular e as políticas públicas no Brasil.
Costumo, em linhas muito gerais, distinguir três grandes momentos de aproximação do governo brasileiro com as culturas populares. Primeiro foi no final década de 1940, quando na II Semana Nacional de Folclore o grande pesquisador e intelectual brasileiro Renato Almeida, diz que “proteger o folclore não é tarefa de estudiosos (como até então) nem de alguns homens de boa vontade, é obra do Estado”. A fala de Almeida dá ênfase à proteção das “artes populares”, ao “folclore brasileiro” etc. e não ao sujeito concreto que é detentor desse saber. Claro que este homem, muitas vezes em situação de risco social, poderia tirar proveito dessa “proteção”, mas não era ele o objeto da iniciativa, e sim o patrimônio simbólico.
O segundo momento eu defino como tendo sido entre as décadas de 1970 e 1980 quando em associação com a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, a FUNARTE – instituição ligada ao Ministério da Cultura – realiza uma espécie de inventário da música folclórica brasileira e faz diversas gravações de manifestações musicais folclóricas de várias partes do Brasil. Essas gravações foram publicadas na forma de discos de vinil no formato de compactos (eram discos de vinil de duração aproximada de doze minutos). Ainda que precárias, essas gravações representam até hoje uma boa fonte de pesquisa para os interessados no assunto. Mas do ponto de vista de políticas públicas, mais uma vez vimos os esforços do Estado brasileiro (cheio de “boas intenções”) em atuar no sentido de preservar, ou resgatar, como é muito comum que se diga, a manifestação musical popular, mas sem dar a mesma atenção ao homem de carne e osso que é detentor desses saberes.
Chegamos então ao terceiro momento: O Ministério da Cultura, primeiramente com Gilberto Gil e posteriormente com Juca Ferreira, desenvolveu um projeto chamado Pontos de Cultura. Esse projeto coloca pela primeira vez a perspectiva de atuar na valorização do patrimônio simbólico, ao mesmo tempo em que valoriza também o homem que dá corpo e vida ao patrimônio imaterial. Este projeto, entre outras coisas, articula cultura popular e economia solidária de modo a fazer com que os praticantes e detentores desses saberes populares se capacitem para atuar como profissionais, extraindo dividendos materiais de seus saberes imateriais. Dessa forma, as praticas culturais populares são revalorizadas fazendo com que os mais jovens passem a se interessar por aquela dança, música ou técnica de construção de instrumentos, por exemplo, mas sempre na perspectiva inevitável de dar novos significados a estes fazeres.
Hoje já são mais de dois mil pontos espalhados pelo Brasil. Eles são encontrados tanto nas periferias das grandes cidades, quanto em pequenos municípios. Além de articular cultura e cidadania o projeto gera visibilidade para práticas e saberes musicais que estiveram durante muito tempo relegados a uma condição de cultura inferior. Isso quer dizer que tanto a “alta cultura” como a “cultura popular” são reconhecidas e financiadas pelo Estado brasileiro. Cada ponto de cultura pode receber apoio financeiro de até R$ 185.000,00 para ser utilizado conforme o projeto apresentado. A articulação de cultura e cidadania gera importantes ganhos simbólicos e materiais para as comunidades detentoras dos saberes tradicionais. Isso é muito importante e gera inclusão e cidadania, pois muitas dessas comunidades estão em situação de risco social.       
Para o economista Paul Singer, há muita cultura na economia solidária, e muita economia solidária na cultura. É preciso, no entanto, juntar essas duas pontas. Não há dúvida que um novo Brasil está surgindo a partir da idealização dos "pontos de cultura", e que esse novo Brasil se apresentará ao mundo como síntese das possibilidades humanas ilimitadas baseadas na generosidade e na solidariedade. Somos, como diria Darcy Ribeiro, uma “nova Roma”, ainda melhor, pois lavada a sangue negro e índio.
Muito temos que caminhar para que de fato essa terra se torne uma “mãe gentil” e para que este belo sonho se efetive, mas acho que já começamos o caminho. Viva Gilberto Gil e esta bela revolução dos tambores! Viva o Brasil!
Um feliz natal a todos e um ano novo com muita disposição para as lutas que hão de vir.

ps. Para saber mais sobre este assunto sugiro o livro “Pontos de Cultura, o Brasil de baixo pra cima”, de Célio Turino.

Pedro Simon, o veemente a favor.

O fundo social criado pelo governo Lula para vincular parte da receita do pré-sal às áreas de educação, saúde, combate à pobreza e ciência e tecnologia. Não se trata de outra coisa a emenda do senador Pedro Simon (o veemente a favor, como diria um amigo) que causa perda de receita para Estados produtores de petróleo, como o Rio de Janeiro e Espírito Santo, argumentando que essas perdas poderão ser compensadas com o fundo social. Ora, isso faria com que, como disse o deputado petista Antonio Palocci, o fundo fosse sendo esvaziado resultando com a impossibilidade dele efetivamente atender os campos aos quais ele se destina. Manobras como essa denunciam o caráter elitista e reacionário do senador autor da emenda. O governo, no entanto, nas palavras de alguns congressistas irá vetar a emenda. Ainda bem!!!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Choro Acadêmico - Nonato Luiz

Aqui, Nonato Luiz interpreta o seu belíssimo "choro acadêmico", acompanhado por Wilson Asfora e bandolim com intérprete não identificado. Essa música integra o seu primeiro lp do início da década de 1980, intitulado "Terra". É um disco muito bonito e já na estreia Nonato chamou atenção do mundo musical brasileiro. Em seguida Nonato começa uma carreira internacional principalmente na Alemanha. Vejam:

Uma violonista de primeira

Recebi de uma amiga e professora de música este vídeo. Achei a técnica da vilonista muito interessante. Postei no youtube e compartilho aqui. Infelizmente não sei nada sobre a instrumentista. Quem souber alguma coisa sobre ela envie-me por favor. Vejam:

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Escola do MST tem a melhor nota no Enem em Abelardo Luz

   Por que a grande mídia tão zelosa dos interesses da sociedade não alardeou esse êxito da Escola do MST?
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Por Ernesto Puhl
Do Jornal Sem Terra

Na Escola Semente da Conquista, localizada no assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, estudam 112 filhos de assentados, de 14 a 21 anos. A escola é dirigida por militantes do MST e professores
indicados pelos próprios assentados do município de Abelardo Luz, cidade com o maior número de famílias assentadas no estado. São 1418 famílias, morando em 23 assentamentos.

A escola foi destaque no Exame Nacional do Ensino médio (Enem) de 2009, divulgado na pagina oficial do Enem. Ocupou a primeira posição no município, com uma nota de 505,69. Para muitos, esses dados não são mais do que um conjunto de números que indicam certo resultado, mas para nós, que vivemos neste espaço social, é uma grande conquista.

No entanto, essa conquista, histórica para uma instituição de ensino do campo, ficou fora da atenção da mídia, como também pouco reconhecida pelas autoridades políticas de nosso estado. A engrenagem ideológica sustentada pela mídia e pelas elites rejeita todas as formas de protagonismo popular, especialmente quando esses sujeitos demonstram, na prática, que é possível outro modelo de educação.

A Escola Semente da Conquista é sinal de luta contra o sistema que nada faz contra os índices de analfabetismo e do êxodo rural. Vale destacar que vivemos numa sociedade em que as melhores bibliotecas, cinemas, teatros são para uma pequena elite.

E mesmo com todas as dificuldades a Escola Semente da Conquista foi destaque entre as escolas do Município. Este fato não é apenas mérito dos educandos, mas sim de uma proposta pedagógica do MST, que tem na sua essência a formação de novos homens e mulheres, sujeitos do seu processo histórico em construção e em constante aprendizado.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

BOLSONARO E SUA INCORRIGÍVEL HOMOFOBIA

Até quando esse crápula do Bolsonaro vai continuar a dizer coisas desse tipo sem ser processado. Parece-me que nesse depoimento ele explicita uma conduta homofóbica inaceitável passível de uma ação judicial. Vejam (mas só se tiver estômago):


Gols perdidos

Vocês têm notado a quantidade de gols perdidos ultimamente? Alguma coisa está acontecendo. Não é possível! Talvez tenham razão os que falam de ressonância Schumann, mudança do eixo da terra ou de conspiração extra-terrestre, ou ainda qualquer outro fenômeno dessa natureza. Só os gols perdidos domingo último pelo Fluminense contra o São Paulo, já foram um escândalo, agora esse aqui embaixo... pelo amor de Deus. Até o Val baiano faria. Vejam:


Frans Post e "A vista de Itamaracá" - A Primeira imagem do Brasil

 

 

 

    Frans Post veio para o Brasil na época em que o nosso querido e ensolarado Nordeste estava sob o domínio holandês e era governado por Maurício de Nassau. Post nasceu em Leiden, na Holanda, chegou ao Brasil com apenas 24 anos de idade, já com a missão de participar de missões e montar uma grande coleção de desenhos sobre o Brasil. Foi neste mesmo ano que este jovem entraria para a história, ao produzir o que é considerada a primeira imagem fiel das Américas, por consequência a primeira imagem do Brasil: o quadro "Vista de Itamaracá", uma obra de pouco mais de 60 por 80 centímetros, pintada em óleo sobre tela, que consegue mostrar a paisagem brasileira com qualidade quase fotográfica, mesmo que ainda de uma vista simplória.
    É claro que antes de Vista de Itamaracá foram feitos desenhos e gráficos sobre o Brasil, mas Frans Post foi o primeiro a realmente retratar nosso pais. Atualmente, infelizmente o quadro Vista de Itamaracá não se encontra no Brasil. Ele está no Royal Picture Gallery Mauritshuis, na Holanda. Pelo menos podemos dizer que está muito bem acompanhado. Neste museu estão o famoso quadro "Menina com Brinco de Pérola" de Johannes Vermeer e a obra "Lição de Anatomia do Dr. Nicolaes Tulp", de Rembrandt.
    Mas se vista de Itamaracá está na holanda, a maior coleção de Obras de Frans Post está no Brasil. O Instituto Ricardo Brennand, em Recife, possui o maior acervo do artista no mundo, com dezessete obras (o Mauritshuis possui três).
    Um aspecto interessantes sobre Frans Post é que ele continuou pintando paisagens brasileiras mesmo quando já faziam décadas que o pintor havia saído do país, graças a uma excelente memória visual. Post foi embora do Brasil em 1644, com o fim do governo de Maurício de Nassau no Nordeste. Mas seu último quadro sobre o Brasil seria pintado em 1669, 25 anos depois, mostrando uma paisagem de Pernambuco.

 Do blog do Andolfato

LAICIDADE E ESPAÇOS PÚBLICOS.

  A cada dia que passa torna-se mais clara a tendência de se pensar os espaços públicos, e neste caso aqui é o espaço televisivo que está em jogo, como espaços essencialmente laicos. Isso não quer dizer que o tema religião não possa ou não deva ser tratado. É o caso da escola, por exemplo, espaço no qual o tema da religião tem que ser tratado. Mas o tratamento deve ser isento, ou melhor, não prosélito, propiciando uma abordagem histórica, sociológica, filosófica, etc., mas nunca de louvor ou coisa que o valha. Tenho, como professor de rede pública no Rio de Janeiro, assistido a uma escalada de ocupação religiosa dentro das escolas, malgrado o esforço de vários profissionais de educação que têm se esforçado no sentido de demarcar o espaço público de educação como um espaço laico. No caso da televisão creio que será uma decisão acertada a de tirar do ar programas católicos, evangélicos e outros de qualquer denominação religiosa. Leiam abaixo a notícia veiculada pelo portal imprensa:

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O Conselho Curador da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) deverá tirar do ar os programas católicos e evangélicos veiculados pela TV  Brasil e em oito canais de rádio que integram a rede pública criada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta será apresentada para votação no órgão a ser realizada no dia 7 de dezembro, sob a forma de minuta de resolução.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a ideia do conselho é abordar o tema religião de forma mais ampla, sem a necessidade de se ter um programa específico sobre uma ou outra crença. Além disso, os integrantes do órgão da EBC acreditam que a rede pública de TV deve aumentar o diálogo com as diversas religiões presentes no país.

Após o anúncio de que o Grupo Silvio Santos, que pertence ao empresário e dono do SBT Silvio Santos, passava por problemas financeiros, a emissora recebeu propostas de ao menos três igrejas evangélicas para a compra de horário na faixa da madrugada. A assessoria do canal declarou que as ofertas não eram recentes, mas que até o momento "não surgiu nenhuma proposta que tenha interessado". Entre as negociantes, destacam-se a Igreja Internacional da Graça, de R.R. Soares, e o Ministério Silas Malafaia.

domingo, 21 de novembro de 2010

Marilena Chauí, em entrevista, afirma que nossa mídia é uma das mais autoritárias do mundo

Um dos grandes debates, ou enfrentamentos, do governo Dilma se dará no âmbito da democratização das comunicações. O atual oligopólio que é visto por alguns analistas como uma espécie de atualização da relação casa-grande / senzala é um dos gargalos da nossa democracia e cidadania. O modo autoritário e avesso a diversidade de vozes que pauta a mídia eletrônica ataca diretamente a liberdade de expressão. Sempre que possível trataremos aqui dessa questão crucial para os destinos deste país. Segue abaixo uma entrevista sobre o tema com a professora Marilena Chauí, dada ao sítio "Carta Maior". Leiam:

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CARTA MAIOR: Qual sua avaliação sobre a cobertura da chamada grande mídia brasileira nas eleições deste ano? Na sua opinião, houve alguma surpresa ou novidade em relação à eleição anterior?

MARILENA CHAUÍ: Eu diria que, desta vez, o cerco foi mais intenso, assumindo tons de guerra, mais do que mera polarização de opiniões políticas. Mas não foi surpresa: se considerarmos que 92% da população aprovam o governo Lula como ótimo e bom, 4% o consideram regular, restam 4% de desaprovação a qual está concentrada nos meios de comunicação. São as empresas e seus empregados que representam esses 4% e são eles quem têm o poder de fogo para a guerra.

O interessante foi a dificuldade para manter um alvo único na criação da imagem de Dilma Rousseff: o preconceito começou com a guerrilheira, não deu certo; passou, então, para a administradora sem experiência política, não deu certo; passou, então, para a afilhada de Lula, não deu certo; desembestou na fúria anti-aborto, e não deu certo. E não deu certo porque a população dispõe dos fatos concretos resultantes das políticas do governo Lula.

Isso me parece a novidade mais instigante, isto é, uma sociedade diretamente informada pelas ações governamentais que mudaram seu modo de vida e suas perspectivas, de maneira que a guerra se deu entre o preconceito e a verdadeira informação.

CM: Passada a eleição, um dos debates que deve marcar o próximo período diz respeito à regulamentação do setor de comunicação. Como se sabe, a resistência das grandes empresas de mídia é muito forte. Como superar essa resistência?

MC: Numa democracia, o direito à informação é essencial. Tanto o direito de produzir e difundir informação como o direito de receber e ter acesso à informação. Isso se chama isegoria, palavra criada pelos inventores da democracia, os gregos, significando o direito emitir em público uma opinião para ser discutida e votada, assim como o direito de receber uma opinião para avaliá-la, aceitá-la ou rejeitá-la.

Justamente por isso, em todos os países democráticos, existe regulamentação do setor de comunicação. Essa regulamentação visa assegurar a isegoria, a liberdade de expressão e o direito ao contraditório, além de diminuir, tanto quanto possível, o monopólio da informação.

Evidentemente, hoje essa regulamentação encontra dificuldades postas pela estrutura oligopólica dos meios, controlados globalmente por um pequeno número de empresas transnacionais. Mas não é por ser difícil, que a regulamentação não deve ser estabelecida e defendida. Trata-se da batalha moderna entre o público e o privado.

CM: Você concorda com a seguinte afirmação: "A mídia brasileira é uma das mais autoritárias do mundo".

MC: Se deixarmos de lado o caso óbvio das ditaduras e considerarmos apenas as repúblicas democráticas, concordo.

CM: Na sua opinião, é possível fazer alguma distinção entre os grandes veículos midiáticos, do ponto de vista de sua orientação editorial? Ou o que predomina é um pensamento único mesmo.

MC: As variações se dão no interior do pensamento único, isto é, da hegemonia pós-moderna e neoliberal. Ou seja, há setores reacionários de extrema direita, setores claramente conservadores e setores que usam “a folha de parreira”. A folha de parreira, segundo a lenda, serviu para Adão e Eva se cobrirem quando descobriram que estavam nus.

Na mídia, a “folha de parreira” consiste em dar um pequeno e controlado espaço à opinião divergente ou contrária à linha da empresa. Às vezes, não dá certo. O caso do Estadão contra Maria Rita Kehl mostra que uma vigorosa voz destoante no coral do “sim senhor” não pode ser suportada.

sábado, 20 de novembro de 2010

MÍDIA E PODER

  A grande mídia na qual se destaca o grupo Abril, Estadão, Folha e Globo (e seus serviçais como o sociólogo Bolivar Lamounier), se esmera em desfechar golpes contra as iniciativas do governo, mas não só, de implementar o controle social da mídia. Esses grupos acusam o governo e as organizações ligadas às comunicações de estarem tentando realizar um controle que colocaria em xeque os interesses da democracia, uma vez que a mesma limitaria a liberdade de expressão. O controle social dos meios de comuniação, como nos diz o professor Francisco Fonseca da FGV em seu livro "Mídia e Poder", atua justamente no sentido contrário ao da limitação do direito de expressão. Ele nos diz que muitos países europeus, que não podem de modo nenhum serem chamados de ditatoriais, realizaram esse tipo de iniciativa, e que sem ele é que a democracia correria perigo.
 Por outro lado essa grande mídia silenciou qundo das discussões em torno da famigerada Lei Azeredo, esta sim, um verdadeiro atentado contra a democratização da internet. Para quem quiser se aprofundar nesse necessário debate, este blog recomenda a entrevista dada por Marcelo Branco a Antonio Martins do Le monde Diplomatique. Marcelo foi um dos organizador do 10º FISL (Fórum Internacional de Software Livre) realizado no ano passado. Na entrevista Marcelo distingue claramente as posições do PSDB e do PT sobre o assunto, definindo as posições dos tucanos como contra as liberdades de expressão na internet. O próprio encontro teve como tema “Liberdade. Contra o controle e a vigilância na internet”, dada a importância do assunto nos novos cenários políticos. A entrevista está no link abaixo:

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Entrevista de Maria Victoria Benevides

A professora Maria Victória Benevides deu uma excelente entrevista à revista "ISTO É". Aliás, essa revista representa uma novidade no mercado editorial brasileira, pois de um tempo pra cá ela não tem engrossado as fileiras do que se vem chamando de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Mas voltando ao assunto, a entrevista é muito boa e vale a pena dar uma olhada. Segue o link:

http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/109159_LULA+NAO+PODERA+SER+UMA+SOMBRA+DE+DILMA+

Costinha e as raspadinhas do Rio... para rir um pouco.

Certa feita o comediante Costinha foi contratado para fazer a propaganda das "Raspadinhas do Rio". Ele fez, e acho que na época foi ao ar. Mas em tom de brincadeira a equipe fez uma segunda versão, que obviamente não foi ao ar. Vejam nessa gravação as duas versões. É muito engraçado.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O PORTUGUÊS DO BRASIL

 Já falamos aqui sobre o lançamento da "Gramática do português brasileiro" do professor Mário Perini, e suas implicações ideológicas no que diz respeito à luta de muitos linguistas contemporâneos. Nessa luta destaca-se a figura do professor Marcos Bagno, que com contundência denuncia a língua como um campo no qual se explicita as lutas ideológicas e sociais e as formações autoritárias implícitas na cultura brasileira. Postamos aqui o artigo do professor Bagno quando do lançamento da Gramática do seu colega Mário Perini. Leiam:

ENFIM, UMA GRAMÁTICA BRASILEIRA!


Por Marcos Bagno

  Demorou, mas chegou. Exatos 188 anos. Finalmente, temos à nossa disposição uma gramática que descreve o que realmente acontece na nossa língua: a Gramática do português brasileiro, de Mário Perini, que acaba de ser lançada (Parábola Editorial). O fato histórico merecia banda de música e fogos de artifício. Afinal, vamos poder nos livrar dos mofados compêndios que, mesmo publicados no Brasil, mesmo publicados recentemente, continuam a chamar nossa língua simplesmente de “português” e a tentar impor como modelos de correção as opções de um punhado de escritores lusitanos mortos há uns bons 200 anos. Chega! Xevra! Xispa! Xô!
  Mário Perini é um linguista que há muito tempo vem se dedicando ao exame atento do que é a língua majoritária dos brasileiros. Já em 1985, propôs que se abandonasse a prática multissecular de recorrer à escrita literária em favor de uma referência ao padrão que de fato se verifica na prática escrita das pessoas altamente letradas. Em vez do romance e da poesia, que a gramática se debruce sobre a escrita jornalística, acadêmica, ensaística, técnico-científica. Se é para ensinar os brasileiros a escrever, que se ensine a escrever como se escreve no Brasil, e não como Eça de Queiroz ou Camilo Castelo Branco nem, muito menos, Machado de Assis (um gênio assim só a cada 500 anos!).
  É preciso libertar a língua da retumbante maioria das pessoas do peso insuportável de ser comparada aos usos feitos pelos grandes escritores. É preciso que professores de português, dicionaristas, gramáticos e neogramatiqueiros (esses que invadiram a mídia brasileira atual para vender um peixe linguístico mais podre e fedido que as águas do Tietê) parem de dizer que tal uso é “errado”, “não existe” ou “não é português” só porque não aparece na obra dos “clássicos”. Além de ser uma mentira, também é uma grande injustiça, e por duas razões. Primeiro, porque na obra dos grandes escritores também aparecem transgressões das normas tradicionais (embora os gramáticos se esforcem por escondê-las, como se os grandes autores só escrevessem de acordo com as regras que eles, gramáticos, tentam impor). Segundo, porque os escritores não devem nem querem ser transformados em régua para corrigir, em peso e medida para avaliar a produção linguística de ninguém.
  Se lá em cima escrevi que esperamos 188 anos por uma gramática da nossa língua é porque a nossa independência política (1822) não representou uma independência linguística. Nem poderia. Afinal, foi uma independência tramada de cima para baixo, proclamada pelo próprio representante da potência colonial que, mais tarde, para provar o quanto tinha ficado “independente”, abandonou seu império tropical para defender o trono português e se sentar nele com o nome de Pedro IV. Isso explica por que, no estudo e no ensino de língua, permanecemos igualmente atrelados aos manuais que vinham de Lisboa. E mesmo quando se começou a produzir gramáticas no Brasil, elas ofereciam como norma linguística uma modalidade extremamente restrita de língua literária lusitana pós-Romantismo.
  Bem-vinda, Gramática do português brasileiro! Talvez agora os autores de livros didáticos parem de tentar ensinar uma língua que nunca existiu por aqui (e, pensando bem, nem em Portugal) e reconheçam que a língua que nossos alunos querem aprender é o português brasileiro urbano culto, a língua que de fato molda a nossa identidade nacional e é moldada por ela. Libertas quae sera…!

domingo, 14 de novembro de 2010

Entrevista de Naomi Klein

Após a última postagem que fiz na qual há um explícito questionamento sobre a vida inteligente nos EUA, vou colocar aqui uma entrevista muito legal da jornalista e ativista canadense Naomi Klein. Nessa entrevista a bela Naomi mostra que não é só um rostinho bonito no movimento alter-mundista. Ela é autora do maravilhoso livro "A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo de desastre", no qual ela mapeia o crescimento do neoliberalismo da escola de Chicago a partir da década de 1950, e seus experimentos radicais no Chile de Pinochet na década de 1970. O livro é imperdível e o documentário (com o mesmo nome), idem. Aqui uma entrevista que ela concedeu a globonews. Vejam:



Entrevista de Naomi Klein na Globo News por nortontavares no Videolog.tv.