terça-feira, 8 de junho de 2010

Filhos de dona do Clarín fazem exame para comparar com DNA de desaparecidos

Durante a ditadura, muitos filhos de prisioneiros políticos foram sequestrados e entregues clandestinamente a militares ou a simpatizantes do regime. Estima-se que 500 crianças tenham sido separadas dos pais

Por Daniella Cambauva*

Após quase nove anos de disputa judicial, os filhos adotivos de Ernestina Herrera de Noble, a principal acionista do Grupo Clarín, farão exame de DNA amanhã para averiguar se foram adotados ilegamente.

A verdadeira identidade de Felipe e Marcela Herrera Noble é questionada por algumas organizações defensoras de direitos humanos na Argentina, principalmente a Associação das Avós da Praça de Maio, que afirmarm que os dois são filhos de desaparecidos da última ditadura militar na Argentina (1976-1983).

Durante a ditadura, muitos filhos de prisioneiros políticos foram sequestrados e entregues clandestinamente a militares ou a simpatizantes do regime. Estima-se que 500 crianças tenham sido separadas dos pais na Argentina na época. Se for comprovado que Felipe e Marcela foram sequestrados, Ernestina Herrera de Noble pode ser presa.

Segundo o jornalista argentino Horacio Verbitsky, criador do diário Página 12 e uma das principais figuras da luta pelos direitos humanos no país, o resultado pode ficar pronto entre 20 e 45 dias.

Com a última decisão da Suprema Corte de Justiça, Felipe e Marcela serão obrigados a comparar as amostrar de DNA com as demais armazenadas no Banco Nacional de Dados Genéticos.

Desde 2001, quando começaram as acusações, eles se recusam a fazer o exame. A questão deixou de ser opcional em novembro de 2009, quando o congresso argentino aprovou uma lei de exame compulsório de DNA. A mudança na legislação tornou inviável a postura dos filhos.

Desde então, a Justiça argentina já determinou que os dois fizessem o exame duas vezes, mas eles recorreram em todas.

Documentos ilegais - Mesmo sem a realização de exames, em dezembro de 2002, o juiz Federal Roberto Marquevich ordenou a prisão de Ernestina por conta de irregularidades encontradas nos documentos de adoção.

Segundo os documentos da época, em 13 de maio de 1976, Ernestina se apresentou diante da Justiça em San Isidro, com um bebê a que chamou de Marcela. Disse que a havia encontrado onze dias antes em uma caixa abandonada na porta de sua casa. Ela ofereceu como testemunhas uma vizinha e o caseiro da vizinha, cujos depoimentos foram desmentidos em 2001.

No caso do Felipe, ela declarou que foi entregue em 7 de julho de 1976, pela suposta mãe, Carmen Luisa Delta, que não podia ficar com o bebê. No mesmo dia, sem dispor de provas determinando as circunstâncias do nascimento, uma juíza concedeu a segunda guarda a Ernestina. A Justiça descobriu, anos depois, que Carmen nunca existiu.

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