Edvaldo Santana ou: A voz rouca das ruas
Para quem não conhece, Edvaldo Santana é um militante e ao mesmo tempo legítimo herdeiro da boa e velha MPB. Não obstante sua já longa trajetória (já lançou cinco cd’s) e algumas inserções na mídia, ele ainda continua desconhecido do grande público brasileiro. Sua música vai do blues ao baião passando por baladas, boleros, salsas, sambas e outras levadas. Seus parceiros também não são poucos, e entre tantos se destacam: Tom Zé, Arnaldo Antunes, Paulo Leminski, Haroldo de Campos, Itamar Assunção e outros mais.

Em sua obra há muitas canções que merecem destaque, mas como o espaço aqui é pequeno, vou destacar uma canção do seu primeiro cd “Lobo solitário” de 1993. A canção chama-se “A Rússia pegou fogo na Sapucaí”, e tem uma proposta caleidoscópica. Ela trata do cenário cultural e político da década de 1990, e toda aquela sensação – que já foi chamada de pós-moderna – de que tudo perdeu o sentido, que os acontecimentos se dão vertiginosamente e tudo mais. A canção é um blues daqueles bem tradicionais e o refrão diz: “Beats, Woodstock, Coréia, Vietnã / duas bombas atômicas no Japão / luzes na ribalta / Bush em cena com Sadam / a morte é o kitsch do verão / punks foram hippies / agora são titãs / a Rússia pegou fogo na Sapucaí / pra não dizer de flores / me alegra ser xamã / a gente só queria ser feliz”.
A letra dessa canção é uma verdadeira síntese da década de 1990, falando das angústias e expectativas daqueles tempos neo-liberais. Mas conversando com o autor eu lhe perguntei sobre essa imagem da Rússia pegando fogo na Sapucaí. De onde ele tinha tirado aquilo? Entre risos, ele me respondeu que foi num certo carnaval carioca do início da década de 1990, em que ele estava assistindo a transmissão pela TV, e viu um carro alegórico, cujo tema era a Rússia, ser tomado por um incêndio. Que sacada, hein! E é bom lembrar que essa cena se deu logo em seguida do fim do chamado socialismo real na antiga U.R.S.S. Isso é o que podemos chamar de uma verdadeira alegoria.

Edvaldo Santana é um guerrilheiro da MPB, e apesar da grande mídia não lhe dar bola, ele vai pacientemente compondo sua obra, apontando suas armas – o violão e a voz – para os que promovem as indigências de nosso tempo. E como ele mesmo diz “maluco beleza não se dá por vencido”.
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