Há uma tendência contemporânea, no que tange a educação pública, de responsabilizar os professores pelo insucesso nesta área. Não acho que não haja problemas, e claro que é preciso discutir e refletir sobre as ações docentes. Mas não se pode confundir isto com o que é veículado pela grande imprensa ou por alguns gestores públicos, que joga nas costas dos professores toda a responsabilidade pelo que acontece na educação pública. A sanha privatista, por incrível que pareça, ainda faz a cabeça de muita gente, e nesta área o viés privatista se expressa de forma diferente do que vimos na década de 1990 no Brasil. Nesse novo momento a privatização, e falo especificamente com relação à educação, não se daria com a privatização das redes públicas e a concomitante cobrança de mensalidades etc. Até porque isso esbarraria na constituição brasileira. O viés privatista está no "filé mignon", ou seja: institutos ligados a educação seriam contratados para promover ações no sentido de fiscalizar e avaliar as ações educativas e propor mudanças. Isso foi muito comentado na rede municipal do Rio de Janeiro, quando da entrada da secretária Cláudia Costin, e na época o Instituto a ser contratado era o Instituto Airton Sena, se não me engano. Agora está em curso, segundo uma diretora do Sepe (Sindicato dos Professores das redes públicas do Rio de Janeiro) um plano de "espionagem", que colocaria dentro da sala de aula uma espécie de fiscal para fotografar as aulas e a partir disso diagnosticar os problemas pedagógicos. Leiam a mensagem de Edna Félix, diretora do Sepe RJ - Regional III.
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Inicia-se em escolas públicas do Município do Rio de Janeiro mais um instrumento de coação e assédio aos profissionais de sala de aula. Com o objetivo de tentar demonstrar a ineficiência do professor, Cláudia Costin inaugura agora o chamado método Stalling. Consiste em enviar um observador para as salas de aula, que fotografará 10 momentos da aula por 15 segundo para, segundo eles, medir o tempo usado em classe para a construção do conhecimento. Ainda segundo a secretária, o objetivo é utilizar o método da observação para ajudar a desvendar a caixa preta da sala de aula e melhorar a performance do professor. Então façamos algumas observações.
1. Em primeiro lugar não precisa gastar a fortuna que certamente será paga a Fundação Lemann, empresa responsável pelo projeto, para ter esta informação sobre a sala de aula. Basta uma pesquisa com os próprios professores. Mais uma vez, no lugar de gastar diretamente na educação pública, o governo vai repassar nossas verbas à iniciativa privada.
2. Dito isto, vamos então ao que de fato pode melhorar a performance do professor: Menos alunos em sala de aula, tempo para planejamento, contratação de mais profissionais, presença de profissionais como psicólogos, assistentes sociais e outros para acompanhar os problemas dos alunos, aumento salarial para que o professor não precise fazer duplas, triplas e muitos outros etecéteras.
3. O artigo 5º, da Constituição garante o direito de imagem é inviolável, assim como a proteção à reprodução de imagens.
4. O constrangimento que este projeto criará em nossas aulas também está previsto no código penal.
5. A presença de pessoas estranhas em nossas aulas, sempre dispersa a atenção dos alunos prejudicando assim o desenrolar das mesmas.
Mas o objetivo verdadeiro que vem desenvolvendo a senhora Costin é o de privatizar a educação no nosso município, favorecendo amigos empresários. E para isso precisar provar o quanto somos “incompetentes” . Desqualificar nosso trabalho e destruir qualquer possibilidade de reação de nossa categoria.
Nós não podemos permitir!
Por isso professor, não se intimide. Você não é obrigado a aceitar em sua sala de aula, ninguém que vá fazer o trabalho de espionagem, rompendo com princípios de sua autonomia e com aqueles que regem a constituição brasileira. E se houver qualquer tentativa de coação, assédio moral no sentido de te obrigar a aceitar esta violação a seus direitos. Ligue para o SEPE, chame o seu representante.
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