sábado, 29 de maio de 2010

Correspondência com o professor Marcos Bagno

 Postei abaixo uma mensagem sobre a exposição "Menas - o certo do errado e o errado do certo". Disse também que um dos prinicipais formuladores desse modo de entender e denunciar os chamados preconceitos linguísticos, é o professor Marcos Bagno. Há algum tempo atrás tive o prazer de me corresponder, ainda que brevemente, com essa figura admirável, e resolvi postar a conversa aqui no blog.
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Prezado Marcos Bagno,

 Só hoje, 23 de fevereiro de 2008, pude ler sua carta à revista Veja de 2001. Infelizmente meu talento litarário não me possibilita traduzir o prazer e a emoção que senti em ler seu arrazoado pondo a discussão da norma culta em uma perspectiva verdadeiramente crítica. Há poucos meses começei a ler o seu belo livro " A norma (o)culta", mas nem pude terminá-lo porque uma amiga que trabalha com saúde e educação me pediu de empréstimo e ainda aguardo a devolução. Pretendo, assim que possível, terminá-lo e começar a leitura de outros livros seus.
 Trabalho com Educação Musical nas redes públicas do Rio de janeiro e de Duque de Caxias, na baixada fluminense. Encontrei no seu trabalho muita inspiração para desenvolver minha prática educativa  e minha luta contra os preconceitos que, assim como no campo linguístico, se multiplicam no campo da música. Estou organizando uma oficina intitulada: "O ser e o som: Ecologia, Linguagem e Invenção na Educação Musical", voltada para professores da rede pública de Duque de Caxias. Alguns de seus livros estão na bibliografia que indico aos professores.
 Sem querer tomar mais o seu tempo, eu me despeço parabenizando-o mais uma vez por emprestar o seu brilhantismo às boas causas do nosso tempo.
 Um forte abraço desse seu sincero admirador,
 Ricardo Moreno de Melo

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Caro colega Ricardo,
é muito bom abrir a caixa postal numa manhã nublada de domingo e encontrar uma mensagem tão estimulante quanto a sua. Fico sempre muito contente quando recebo reações de pessoas que atuam em outras áreas que não especificamente a das Letras. Isso mostra que os problemas que tento debater afetam a vida das pessoas de modo muito mais amplo.
Por coincidência, este mês saiu uma grande entrevista minha na revista Caros Amigos (com foto na capa e tudo!). Como é uma revista que se sustenta pelo trabalho dos próprios jornalistas, tentando manter uma linha indepedente da grande mídia (vinculada ao poder nacional e internacional), faço a divulgação para ajudar a preservar esse importante projeto. Conto com a sua colaboração.
Boa sorte em seus projetos e um abraço do

Marcos Bagno – Universidade de Brasília
www.marcosbagno.com.br

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Prezado Professor Marcos Magno,

 Foi também com muita prazer que recebi a sua resposta. Quanto à revista Caros Amigos eu já estou ciente que ela traz este mês uma entrevista com o senhor. Já fiz, inclusive, a divulgação da mesma, e espero ansiosamente que chegue amanhã para que eu possa comprá-la.
 Gostaria de lhe contar, sem querer tomar demasiadamente o seu tempo, um pequeno acontecimento ocorrido em uma escola em que trabalho. Certo dia eu estava finalizando meu trabalho em uma escola, e ouvi duas professoras do primeiro segmento conversando sobre um determinado aluno que falava "tudo errado". Naquele momento eu estava no meio da leitura do seu livro "A norma (o) culta", e não pude deixar de perceber que as referidas professoras estavam, como é de certa forma um costume entre professores, rindo dos supostos "erros" do garoto. Com todo cuidado eu me intrometi na conversa delas e tentei relativizar aquilo que seriam os "erros" do garoto. Para dar um tom mais relaxado a conversa falei para ela de uma história que ouvi sobre um certo poeta nordestino chamado Zé da Luz (nome ótimo para poeta, não acha?). Disse para elas que o tal poeta tinha sido informado que poesia era coisa para gente "culta", "inteligente", em suma, para gente que "sabe escrever". Foi  daí que o poeta escreveu a deliciosa peça "ai se sesse". Creio que o senhor conheça essa poesia, de todo modo transcrevo-a abaixo.
 Tentei dessa forma chamar a atenção das professoras para as "variedades dialetais", e para a necessidade dos professores entenderem sua posição de mediadores culturais, e não meros instrutores de normas. Sei que essas coisas são difíceis e que tomadas de consciência são processos que às vezes demoram. Mas não pude deixar de tentar interferir naquele momento.
 Bom, creio que  já tomei demais o seu tempo e acrescento apenas que é um prazer dialogar com uma personalidade tão inspiradora e fecunda como o senhor.
 Um abraço!
 Ricardo Moreno de Melo

Ai Se Sêsse

Composição: Zé Da Luz
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arruminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Talvez que nois dois ficasse
Talvez que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse.
 

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