"O vendedor de passados" é um romance sobre a memória, quer dizer, sobre sonhos, ou melhor, sobre a memória / sonho. E como ele mesmo diz: "um sonho não se tem, um sonho se constrói". Apesar da atmosfera onírico-mágico-surrealista, a trama é muito bem construída. Ela trata de um sujeito, o Félix Ventura (este sobrenome é bastante significativo) que vive de criar passados e inventar memórias. As pessoas que o procuram pertencem a posições sociais que lhes garantem o futuro, mas que não provê um passado, ou uma memória compatível com seu status.
Em uma passagem curiosa o personagem Ventura faz um paralelo entre o seu ofício e a literatura. Ele acredita que o que faz é, de certa forma, literatura, pois ele também inventa personagens, com suas tramas e tudo mais. Só que ao invés deles ficarem presos às páginas de um livros, saltam para a vida.
É curioso também que toda essa narrativa, ou quase toda, visto que há mudança de foco narrativo, é feita por uma osga (é como em angola se chama essas lagartixas de parede). É verdade que é uma osga absolutamente humanizada, cujos sonhos remetem a uma vida humana anterior. Há até momentos em que os sonhos da osga e do personagem Ventura se fundem de forma fantástica.
É um excelente livro, com nuances poéticas da melhor qualidade e com aquelas frases que nos faz de repente parar de ler o livro e ficar a pensar...
O vendedor de passados
José Eduardo Agualusa
Editora Gryphus
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