Reflexões originais têm, muitas vezes, a capacidade de nos fazer pensar sobre coisas que normalmente passam desapercebidas. Práticas cotidianas que incorporamos em algum momento de nossas vidas e que nos acompanha quase como se fossem naturais. Aliás, a naturalização de processos sócio-culturais foi uma das "descobertas" feita pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu, contra a qual ele lutou oferecendo subsídios teóricos para que esse processo fosse sempre desmascarado. Mas voltando às reflexões originais, eu estava pensando no artigo do Carlos Walter (postado aqui no blog), que discute justamente como o termo América Latina está "naturalizado" em nosso vocabulário sem que nos demos conta de que o mesmo remete a um campo de significados, portanto, de produção de sentidos.
Fiquei pensando, por exemplo, como no campo da música nós nos referimos à "música latina", ou quando queremos descrever uma música que ouvimos e dizemos assim: "ela tem uma 'levada' meio latina", para dizer que a tal música tem um swing assim meio salsa, mambo, etc. Ora, o termo "Latino", como nos mostrou Carlos Walter nos remete a uma matriz européia, ocultando ou tentando ocultar nossa formação negra e indígena. O que acontece é que essas músicas ou essas 'levadas' as quais nos referimos quando usamos o termo latino, é de fato afro-americana. Ocorre aí um verdadeiro sequestro simbólico. Um roubo, bem ao estilo das pilhagens coloniais.
É oportuno que fiquemos atentos a esses processos que estão embutidos em termos aparentemente neutros, para que não sejamos nós reprodutores e cúmplices dessas pilhagens.
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