Hoje de manhã ouvindo um programa da rádio Bandeirantes (Bandnews) ouvi um comentário do âncora Ricardo Boechat, que só pude considerar, no mínimo, como um desrespeito a minha inteligência. O fato é que Boechat estava comentando sobre o programa "A hora do Brasil", e no mesmo ele dizia que esse tipo de programa era típico de governos autoritários e que já existe programas jornalísticos em quantidade e qualidade suficientes para ainda termos que aturar um jornalismo chapa-branca e coisa e tal. Dizer que o programa "A hora do Brasil" é chato, é apenas uma opinião, e nesse caso, cada um tem a sua. A questão é que ele afirmava acreditar que essa é a opinião do povo brasileiro. Eis aí um viés típico das grandes mídias, qual seja, o de confundir seus próprios interesses com os interesses do "povo brasileiro". Eles acreditam, ou querem nos fazer acreditar, que veículam democraticamente o interesse ou a opinião das pessoas. Que são apenas veículo dos interesses da maioria.
Ora, acreditar nisso, prá dizer pouco, é se candidatar ao troféu velhinha de Taubaté (quem não lembra dessa personagem do Veríssimo?), pois se há uma questão do nosso tempo, é a luta pela democratização das comunicações. E não estou falando apenas do Brasil. Basta saber o que está acontecendo hoje na Argentina, na Venezuela e em tantos outros lugares.
Em um certo momento do seu comentário, o âncora disse uma verdadeira pérola: "pra que ainda existe esse tipo de programa obrigatório (A hora do Brasil), se já temos uma mídia plural e diversificada, que atende todos os interesses da população?". Um achado, não concordam? Bom, fiquei tão indignado que enviei uma mensagem para o programa, que exponho abaixo:
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Ouço quase todos os dias uma boa parte do programa de Ricardo Boechat, e posso dizer que é um programa muito bem feito e as vezes até divertido. Mas não posso concordar quando a opinião do programa se junta a uma tendência geral da mídia monopolista brasileira, quando pensa a si mesmo como sendo "a opinião pública". Refiro-me ao comentário do Boechat sobre o programa "a hora do Brasil". Não é possível confundir os interesses das empresas, como o da própria Band, com os interesses das pessoas. Eu pessoalmente não sei se o povo brasileiro votaria a favor da extinção desse programa em um plebiscito. Eu gostaria que não acabasse, mas não posso dizer que esse seja o desejo do povo. Outra coisa: dizer que há pluralismo nos meios de comunicação, é no mínimo uma grande desinformação, para não dizer outra coisa. Aconselho assistirem o documentário de Jorge Furtado, o mesmo de "Ilha das flores", chamado "Levante sua voz". O documentário traz uma breve história da concentração dos meios de comunicação no Brasil, com os nomes dos principais atores do cenário, e um panorama sobre a dificuldade de se ter uma comunicação mais democrática no país. O mau uso das concessões públicas começa na própria rede bandeirantes, empresa na qual o proprietário usa a rede pra defender interesses dos ruralistas, grupo do qual faz parte.
Esperando não ter ofendido suscetibilidades, despeço-me respeitosamente.
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